Aos nativos de Pindora (hoje, Brasil) peço perdão pelos maus tratos, de ontem e de hoje.
Ontem, o colonizador português invadiu suas terras.
Perdão
Por terem descoberto do branco europeu, tanta selvageria católica e, com isso, desnudado daqueles estrangeiros capitalistas, a farsa prepotente: de que eram civilizados.
Os designaram – os brancos fiéis – , por índios e por meio do escambo trocaram bugigangas por madeira, no uso lucrativo do trabalho dos nativos.
Perdão.Pela exploração.
Perdão
Os deuses – dito pagãos – de vocês, povos originários de Pindora, foram crucificados.
E o que chamavam de catecismo, na verdade, era a suave promoção do extermínio cultural, dos povos originários desta terra.
Perdão
Pelo uso da espada, que ontem dizimou os nativos, cortando-lhes o vínculo sagrado com sua terra e o fio de ouro de sua vida guerreira.Perdão.Por este outro método de extermínio: a forma explícita, célere, implacável.
Perdão
Pelas doenças que o dominador português infestou e vitimou parte dos povos originários.
Perdão.
Pela guerra santa.Pelas mortes.Pelos estrupos.Pela vil violência.Pelo sangue vertido de cada nativo e nativa.Pelo vinho tinto da embriaguez dominadora.
Perdão.
Pelo uso imoderado da fé.Deste excesso transbordante de crença desenfreada e feroz. Em suma: perdão pelo fanatismo mercantil e cristão.
Perdão
E hoje?.Perdão.Perdão pelo governo genocida de Bolsonaro; que tal qual o dominador português, declarou guerra, ao povo de Pindorama.
Perdão
Por Bolsonaro repetir como farsa a tragédia da história da colonização.Perdão por sermos governados por alguém incapaz de aprender com os erros do passado.
Perdão
Por Bolsonaro defender a tortura.Elogiar o estupro.Por descobrir a vergonha de seus preconceitos.
Perdão
Por Bolsonaro se vangloriar – e com humor – de sua lgbtfobia.De sua transfobia.E preferir a estrada cinza do poder tirânico, ao invés, das pontes coloridas da amizade e do amor livre.
Perdão
Por Bolsonaro permitir-se ser machista – e como se ainda nisto habitasse – alguma áurea de sincera virtude.Ou algum mandamento divino pudesse sustentar esta subversão, ao bom senso mais elementar.
Perdão
Por Bolsonaro não compreender – e por má fé – que a mulher não suplica e nem espera, mas que exige: respeito.Que exige ser tratada com dignidade.Que exige seus direitos, porque ousa governar a si mesma.
Perdão
Pelo protesto autoritário de Bolsonaro, em querer fazer desexistir o povo preto.O povo pobre. Em querer redestruir Palmares, violando a memória imortal e invencível, daquele reduto de resistência preta.
Perdão
Pelo ímpeto ilógico e bárbaro de Bolsonaro, em querer sepultar o que não pode mais morrer: a alma de Zumbi, de Dandara; a alma dos verdadeiros mitos: os heróis da rebelião escrava.
Aos nativos de Pindorama
Perdão
Por Bolsonaro ser presidente.Pelas mais de 500.000 vidas que sucumbiram diante da Covid-19 e o fato de Bolsonaro ter convertido sua terra, em um
cemitério a céu aberto.
Perdão
Por Bolsonaro ser insensível à questão ambiental e ser inimigo dos povos originários, donos desta terra.
Perdão
Pelos acontecimentos recentes.Por policiais terem em Brasília, no dia 22 de Junho, lançado contra os povos de Pindorama: bombas de efeito moral, gás de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo; quando em reivindicação pacífica, os povos originários defendiam a continuidade da demarcação de terras.
Perdão
Pela cruzada das mineradoras contra os povos de Pindorama.
Pelo aval dado pelo governo de extrema-direita de Bolsonaro para a violência e assassinato dos povos originários.
Pela guerra novamente declarada.
Pelo extermínio de ontem e hoje. Peço perdão.
Peço perdão em nome do que há de verdadeiramente cristão e decente neste país.
Daqueles que discordam do descaminho deste governo.
Peço perdão em nome dos que se insurgem dia a dia contra todas as formas de extermínio: sejam elas silenciosas e disfarçadas ou eloquentes e explícitas.
Peço perdão e assumo junto com os povos originários de Pindorama, o compromisso de lutar ao lado de vocês, para a chegada de uma nova primavera, pois para saldar a dívida histórica com vocês:
Outro mundo é possível
Outro Brasil é necessário
E, por isso, vamos Reconstruir e Transformar o Brasil, ao libertar Pindorama, de Bolsonaro.
Aos povos originários
Deixo aqui
Um abraço fraterno
Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro.Integrante do Democracia e Luta. Coordenador do Comitê Popular Antifascista Ponte Rasa Pela Democracia e Lula Livre.