Casos de mortes por PMs em SP explodem na gestão Tarcísio

Reprodução/Internet

A cena absurda do homem sendo arremessado de uma ponte de três metros de altura por um agente da Polícia Militar (PM) na Cidade Ademar, zona sul de São Paulo, representa o auge da truculência autorizada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Considerada exemplar antes da chegada do bolsonarista ao Palácio dos Bandeirantes, em 2022, a PM do estado acumula hoje um inventário mórbido de casos graves de violação de direitos humanos.

De janeiro a setembro último, os assassinatos pela PM subiram 82% em São Paulo, na comparação com 2023: foram 474 pessoas mortas por policiais militares no período, contra 261 nos 12 meses do ano passado. A escalada dos crimes levou à formalização de denúncias ao Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), especialmente depois das 28 mortes na Operação Escudo.

“Pode ir na ONU que não tô nem aí”, respondeu o governador, à época, ironizando as preocupações com as condutas dos agentes paulistas. As manifestações inadequadas do secretário de Segurança de São Paulo, o deputado federal Guilherme Derrite (PL-SP), preferência de Tarcísio para o cargo, também endossam a violência policial e servem como salvo-conduto à corporação.

Policiais militares ouvidos pela Folha de S.Paulo disseram, sob a condição de anonimato, que impera na tropa a sensação de que “não vai dar em nada” as eventuais apurações dos crimes, situação bem alinhada à indiferença com que o governador bolsonarista tratou as denúncias apresentadas à ONU. Crises de insubordinação tendem a aumentar casos de violência e corrupção, argumentam os agentes.

À Folha, um coronel da ativa lamentou que parte de seus colegas não consigam estimar o imbróglio em que a PM-SP está metida, porque não se informa corretamente, apenas por meio de canais da extrema direita.

Barbárie bolsonarista

A presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), teceu duras críticas à política de segurança de Tarcísio. A parlamentar atribuiu a Derrite a truculência com que os PMs atuam no estado.

“Derrite e Tarcísio, que nomeou esse conhecido truculento, são os responsáveis pela violência policial em São Paulo. Não adianta o governador dizer agora que está chocado com o caso do homem jogado da ponte, pois quem dita o comportamento da tropa é o comando”, rebateu a presidenta do PT, por meio do X.

“E a posição de Tarcísio contra o uso das câmeras corporais é outro estímulo à violência, que só não deve ficar impune neste caso porque alguém filmou a barbaridade sendo cometida. E Derrite ainda tem a desfaçatez de dizer que foi um ‘erro infantil’. Ninguém cria os filhos para serem assassinos covardes, Derrite. É você quem orienta policiais a agirem dessa forma, com a cobertura de Tarcísio”, lembrou Gleisi.

 

O deputado federal José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, condenou o recrudescimento da violência policial em São Paulo e a colocou na conta do governador. “Quando militares e policiais rompem com a hierarquia, a disciplina e as leis, se transformam em bando armado. A violência policial em São Paulo chegou ao nível da barbárie, com casos em série”, definiu Guimarães.

“E o governador Tarcísio Freitas, adepto da militarização das escolas, comenta os casos nas redes sociais, mas sem anunciar medidas de disciplinamento da corporação policial”, acrescentou o petista.

 

Também no X, o deputado federal Bohn Gass (PT-RS) pôs em xeque a estratégia de segurança pública do governador de São Paulo. “De janeiro a setembro, 474 pessoas foram mortas por PMs em serviço em São Paulo. 52 mortes por mês! Em relação a 2023, a alta é de 81%. É essa – com mortes e mais mortes – a política de segurança do governador bolsonarista Tarcísio?”, questionou.

 

A política de segurança de Tarcísio

O jovem jogado da ponte, caso que chocou o país, é Marcelo Amaral, 25 anos. Segundo relatos de testemunhas, ele sobreviveu à queda no córrego, mas ficou desorientado depois de bater a cabeça. No domingo (1), Marcelo dirigia uma moto sem placa quando foi abordado por policiais da Rocam, em Diadema, que o perseguiram até a Cidade Ademar. No boletim de ocorrência, foi omitido o arremesso da vítima flagrado pelas câmeras.

As mortes e os abusos decorrentes de ações da PM são a marca do governo Tarcísio, embora seu secretário de Segurança venha insistindo em classificá-los como “episódios isolados”, que não devem macular a imagem da instituição bicentenária, “de bons serviços prestados para a nossa população no estado de São Paulo”.

Confira abaixo alguns dos mórbidos casos envolvendo PMs, que se avolumam sob a atual gestão em SP:

Estudante de medicina morto na Vila Mariana – Marco Aurélio Cardenas Acosta, 22, aluno do 5º ano de medicina da Universidade Anhembi Morumbi, foi baleado no abdômen, em 20 de novembro, na zona sul da capital paulista. A versão oficial descreve o rapaz como “agressivo” por ter desferido um tapa no retrovisor da viatura quando os PMs tentaram abordá-lo.

Criança de 4 anos vítima de bala perdida – Em 5 de novembro, o menino Ryan da Silva Andrade Santos foi atingido enquanto brincava na rua com outras crianças, em Santos, litoral paulista. Socorrido, ele não resistiu aos ferimentos. A bala que ceifou a vida de Ryan partiu da arma de um policial. A PM argumentou que havia confronto com criminosos, mas os moradores negaram.

Homem negro assassinado com tiros nas costas – Gabriel Renan da Silva Soares, 26 anos, havia furtado produtos de limpeza de um mercado no Jardim Prudência, zona sul de SP, e foi morto, em 3 de novembro, pelo policial militar Vinícius de Lima Britto, que alegou legítima defesa.

Velório em Bauru – Pessoas presentes ao velório de dois jovens que perderam a vida em confrontos com a PM-SP foram alvo de uma série de agressões por parte de policiais, em 18 de outubro, na cidade de Bauru. A mãe de um dos mortos chegou a ser arrastada e jogada ao chão, na ocasião.

Operação Escudo – 28 pessoas foram assassinadas durante a Operação Escudo, desencadeada em 28 de julho, dia seguinte à morte do soldado Patrick Bastos Reis, da Rota, a tropa de elite da PM. O policial foi baleado enquanto fazia patrulhamento em Guarujá. A ação se tornou uma marca do governo Tarcísio.

Operação Verão – Já deixou saldo de 56 mortos no litoral paulista. Em novembro, a Justiça aceitou denúncia contra dois policiais da Rota pela morte de um homem durante a Operação Verão na cidade de Santos, em 10 de fevereiro. Essa é a quarta denúncia de crime nas operações feitas em resposta ao assassinato de PMs na região desde que Tarcísio assumiu o governo do estado.

Da Redação, com Folha de S.Paulo

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