A democracia não tem ponto final. Ela é uma conquista histórica do povo brasileiro: sem ter caído do céu, demandou muita luta e custou a vida de muitos.
Em eterna construção, a história da democracia brasileira acaba de ganhar um novo episódio.
Para mostrar quão boa e o quanto deve ser valorizada, o Instituto Lula lançou, na noite desta terça-feira, o portal Memorial da Democracia, acervo histórico online que tem como objetivo registrar as lutas do povo brasileiro por um país mais justo e igual.
Em cerimônia realizada no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, berço político de Lula e do Partido dos Trabalhadores, mais de 2 mil pessoas se reuniram para celebrar as conquistas do povo brasileiro e homenagear aqueles que deram sua vida na luta por liberdade.
Com mais de 700 vídeos e áudios, mais de 2 mil fotos, o portal apresenta documentos, charges, músicas, tudo de forma dinâmica, representando mais de 450 lutas sociais ocorridas no Brasil.
Dividido em 11 módulos, o Memorial, por enquanto, conta com documentos, vídeos, fotos e depoimentos sobre o período da ditadura (1964-1985) e a redemocratização até 2002. Em breve serão publicados os módulos que registram as lutas de outros períodos, até compreender os 515 anos do país.
No ato, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, começou sua fala pontuando a necessidade de fortalecer a democracia não apenas no Brasil, mas na América Latina e em todo o mundo, e que esse é um legado do governo do ex-presidente Lula e uma das missões do instituto.
Okamotto frisou que a democracia não é apenas uma palavra. “Aqui, neste espaço que estamos lançando hoje, eu tinha 22 anos quando comecei a militar ao lado do companheiro Lula. Com 22 anos, eu não sabia muita coisa, e muita coisa eu aprendi aqui. Aprendi que democracia é liberdade, verdade, justiça. É a possibilidade de criar oportunidades para todos. É aprender a ter tolerância. É combater a corrupção. Tudo isso eu aprendi pela nossa gente, pelo nosso povo”, afirmou. “O companheiro Lula, para milhões de brasileiros como eu, é o maior inspirador para a gente construir uma prática democrática”, disse.
O presidente do Instituto frisou que o Memorial é um trabalho importante que visa preservar a história do país. “Nós achamos que era importante escrever a história com o olhar do trabalhador”, destacou.
Colaboradora do Memorial, a historiadora Heloisa Starlig, que recentemente lançou junto com a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz o livro “Brasil: Uma Biografia”, disse que o portal propõe uma reflexão sobre o nosso passado sensibilizando a imaginação de cada visitante para que ele se emocione com os acontecimentos da história.
Segundo Heloisa, os brasileiros estão descobrindo que têm uma história interessante e que não devem esquecer o passado.
Apresentado pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, como um passarinho que quer voar, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou seu discurso parabenizando os metalúrgicos do ABC pelo resultado das negociações com a Mercedes e destacou que o Memorial da Democracia é, além de uma exposição permanente da história das lutas do povo brasileiro, uma ferramenta para combater a “irracionalidade emocional” que se instalou em parte da sociedade brasileira.
Lula acredita que o memorial possibilitará que a juventude voe pelo tempo.
Em sua explanação, Lula lembrou que parte das conquistas populares já constam no site Brasil da Mudança e que pretende conversar com a presidenta Dilma sobre a criação do Museu da República, um memorial institucional que conte a história do país. Ele também falou sobre todos os trâmites para a viabilização do memorial físico no Centro de SP e comentou que a diretoria do Instituto aguarda parecer da Justiça. “A democracia não é uma coisa que está dada. Ela precisa ser conquistada”, disse.
Vários trabalhadores que foram perseguidos pelo regime militar foram lembrados por Lula – que também lembrou que, durante muito tempo, vários dirigentes sindicais tiveram que apresentar atestado ideológico ao governo.
Ao comentar as manifestações de ódio contra o PT e os governos Lula e Dilma, ele falou que democracia não é um pacto de silêncio e que bater panela é um direito legítimo. “Isso é democracia. Se manifestar contra, se manifestar a favor. Aplaudir, vaiar. Torcer para um time, torcer para outro. E aqui neste sindicato, ninguém pode reclamar, porque todo mundo já xingou alguém e já carregou uma faixa contra alguém. Então, a gente não pode estar nervoso por manifestações contra nós. Temos de encarar isso com uma certa normalidade”, ressaltou. Segundo ele, os governos petistas provaram que é possível grupos que pensam diferente conviver harmonicamente.
Segundo Lula, a esquerda precisa reforçar o diálogo com aqueles que querem acabar com a democracia. “A gente tem de saber porque eles estão se manifestando. Aqui tem gente que foi presa, que foi torturada, e em torno de que a gente lutava? Sempre que fomos para a rua, fomos reivindicar melhores condições de vida para o povo brasileiro”, ponderou.
“A gente ia para a rua para valorizar o salário mínimo; tem gente agora indo pra rua contra o aumento do salário mínimo. Nós cansamos de ir pra rua tentando melhorar a condição de vida da empregada doméstica; tem gente indo à rua agora contra as melhorias para as empregadas, que eles preferem chamar de secretária, mas não querem pagar direitos. Fomos para a rua defender as cotas para o povo negro nas faculdades. Tem gente indo para a rua contra”, listou. “Contra esses, a gente tem que lutar”, ressaltou. “Se a gente não fizer esse debate, estaremos enfraquecendo o processo democrático neste país”, concluiu.
Lula ainda frisou que os governos petistas construíram o melhor momento de participação social e popular. “Ninguém fez mais pela democracia do que nós, na história deste país”, ressaltou. De acordo com ele, isso deve ser motivo de orgulho. “Precisamos voltar a ter coragem de andar com as camisas vermelhas”, disse.
A atividade ainda contou com a participação da Secretária de Educação do Estado de Minas Gerais, Macaé Evaristo, do filho do jornalista Vladimir Herzog e fundador do Instituto de educação em direitos humanos que leva seu nome, Ivo Herzog, da presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, e do secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana.
Ainda estiveram presentes o presidente do PT, Rui Falcão, o presidente do PT-SP, Emidio de Souza, os prefeitos Luiz Marinho (São Bernardo do Campo), Carlos Grana (Santo André), Donisete Braga (Mauá) e Jorge Lapas (Osasco), o líder do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, o rapper Rappin’ Hood, o ator Sérgio Mamberti, o jornalista Franklin Martins, entre outras autoridades públicas.
Clique aqui e acesse o Memorial da Democracia.
Fonte: Cláudio Motta Jr | Linha Direta