A catastrófica condução da economia pelo ministro-banqueiro Paulo Guedes, e a sabotagem sistemática de Jair Bolsonaro ao combate à crise sanitária, estão levando o Brasil a um “abismo de renda”. O cenário foi desenhado por pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/ FGV), a partir de uma série de indicadores que, somados, compõem o quadro de dissolução vivido no país.
Os especialistas da instituição analisaram a atual combinação de fragilidade da renda do trabalho, inflação alta, juros que começam a subir e o pífio auxílio emergencial oferecido pelo desgoverno Bolsonaro, potencializados pelo lento avanço da vacinação. A soma desses fatores, concluíram, leva o país ao quadro de “abismo de renda” e de “choque patrimonial” no orçamento das famílias.
“As pessoas nunca estiveram tão endividadas e nunca comprometeram tanto da sua renda. Um eventual ciclo de consumo futuro concorre com as famílias numa situação de corda no pescoço”, resumiu o pesquisador do Ibre/FGV Lívio Ribeiro para o jornal ‘Valor Econômico’.
No fim de 2020, o índice de endividamento das famílias já era de 56,4% em relação à renda dos últimos 12 meses. É o maior percentual já registrado. Neste primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) deve recuar 0,5% em comparação com os três últimos meses de 2020, e mais 0,5% no segundo trimestre.
No meio do ano, a inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) poderá bater em 8% no acumulado em 12 meses, muito acima da meta de 2021 (3,75%). Já a massa real ampliada de rendimentos dos trabalhadores deve cair 7% em 2021, após subir 3,4% no ano passado com a ajuda das transferências de recursos públicos. Sem elas, o indicador teria retraído 5,7%, calcula o Ibre/FGV.
A estimativa da instituição é de que a taxa de desemprego termine 2021 em 15,6%, acima dos 13,5% em média do ano passado. E enquanto houver a necessidade de adoção de medidas de restrição social, o mercado de trabalho continuará fraco para os informais. Se a redução do emprego formal em 2020 foi de -4,2%, a queda no emprego informal foi três vezes maior: -12,6%.
“É difícil traçar cenários em meio a uma crise sanitária como essa. Do jeito como a pandemia está vindo, vai ser difícil conter a necessidade de mais gastos”, afirmou Luiz Guilherme Schymura, presidente do Ibre/FGV.
Derrocada econômica e retorno da miséria
Os índices de confiança quantificados pela FGV mostram que a derrocada econômica já está no radar de empresários e consumidores. A prévia das sondagens, com dados coletados até 10 de março, aponta quedas de 5 pontos do Índice de Confiança Empresarial (ICE) e de 7,8 pontos do Índice de Confiança do Consumidor (ICC). Se confirmadas, as retrações serão as mais intensas desde abril de 2020.
“Há muita incerteza sobre a duração e a intensidade da segunda onda da covid e as cicatrizes que ficarão nas empresas e famílias. Esse primeiro semestre é muito desafiador”, concluiu Silvia Matos, coordenadora do ‘ Boletim Macro’ da instituição.
O correspondente no Brasil do jornal francês ‘ Le Monde’, Bruno Meyerfeld, publicou reportagem na edição desta segunda (22) que retrata a volta da miséria e da fome ao Sertão nordestino. O repórter visitou o interior de Pernambuco e ouviu os moradores, que lamentaram os cortes das ajudas sociais pelo desgoverno Bolsonaro.
Na região, onde vivem 25 milhões de pessoas, os retrocessos bolsonaristas transformaram o cenário em relação aos anos em que Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff governaram o país. Os programas sociais dos governos petistas, como o Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Fome Zero, Água para Todos e Luz Para Todos, entre outros, haviam feito a pobreza cair pela metade, segundo o ‘Le Monde’.
No entanto, com a crise econômica fomentada para derrubar Dilma Rousseff, a região recomeçou a ser castigada. Quando o usurpador Michel Temer assumiu, os investimentos na região caíram vertiginosamente. “Mas a eleição de Bolsonaro foi pior do que tudo: o governo esqueceu totalmente essa região”, explicou Cicero Felix dos Santos, coordenador do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa).
A matéria diz que as razões deste retrocesso são múltiplas, começando pela linha ultraliberal e hostil aos programas sociais de Guedes. Além disso, Bolsonaro prefere se aliar às ricas famílias do agronegócio do Nordeste, contra os pequenos agricultores. A reportagem cogita também uma última possibilidade: “punir uma região que vota tradicionalmente entre 80% e 90% para a esquerda brasileira”.
Para muitos habitantes locais, como Maria Ribeiro, ouvida pelo jornalista, “Bolsonaro quer a morte dos nordestinos”. Outros, como Miguel, se dizem extremamente decepcionados com os políticos. “Nunca mais votarei. Salvo se Lula for candidato”, promete.
Da Redação da Agência PT