A mobilização nas ruas é a principal arma para defender a democracia, contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e os abusos da Operação Lava Jato sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esse foi o tema que dominou na noite desta segunda-feira (7) o ato contra a Rede Globo e em defesa da liberdade de expressão, em São Paulo.
O ato, com jornalistas, parlamentares, lideranças políticas e movimentos sociais foi realizado na sede do Sindicato dos Jornalistas e organizado pelo Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé. A iniciativa foi uma reação de solidariedade, depois que jornalistas independentes como Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, Fernando Brito, do Tijolaço, Helena Sthephanowitz, da RBA, e Miguel do Rosário, de O Cafezinho, entre outros, foram notificados pela emissora carioca para retirar do ar ou modificar reportagens investigativas sobre o imóvel de Paraty (RJ), que família Marinho não noticia.
“Estou muito preocupada, porque não acho que o cerco vá diminuir. Na sexta-feira (4), a Folha de S.Paulo já estava em São Bernardo do Campo antes de a polícia chegar”, afirmou a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), em referência à ação coercitiva contra o ex-presidente Lula. “Na edição do Jornal Nacional de quinta-feira (3) já estava nítido que ia acontecer alguma coisa. Nós precisamos botar muito mais gente nas ruas. Precisamos ter o mundo cultural. Vocês são fundamentais para produzir opinião para disputar essa narrativa”, afirmou.
“Temos de mobilizar todos os que têm o Brasil no coração para quebrar a hegemonia da direita. Temos de sustentar com mobilização e pressão nas ruas”, disse o senador Roberto Requião (PMDB-PR). Ele destacou que há “alguma coisa no ar além dos direitos inscritos na Constituição, que foram arrasados na prisão desnecessária do companheiro Lula”, e identificou a questão de base da luta política como um ataque no mundo pelo domínio de Mamon – palavra de origem hebraica que representa o poder do dinheiro.
“A pressão pela privatização do petróleo vem dos países ricos e fortes que querem o domínio das reservas. As Sete Irmãs (empresas que detêm o monopólio do petróleo no mundo) não vão investir sem essa pressão. Depois que os Estados Unidos inventaram o shale gas (gás de xisto), isso ocorreu na busca do domínio das reservas. O petróleo não é só o combustível que move 95% dos transportes no mundo, mas tem mais de 3 mil derivados, que influenciam a indústria”, afirmou Requião.
Para o senador, a alternativa de direita só deixa ao Brasil a privatização e a globalização “por tolice ou entreguismo comprado”. O senador lembrou o caso do WikiLeaks, que denuncia conversa do senador José Serra (PSDB-SP) com executivos da Chevron, assumindo o compromisso de entregar o pré-sal. E também não se poupou de criticar a mídia tradicional: “O que nós vemos é a imprensa fazendo a crítica da Petrobras, e não dos ladrões da Petrobras. O que querem é entregar a Petrobras a um dos sete bandidos, das Sete Irmãs”, afirmou. “A mídia é instrumento de precarização do Estado, do Congresso e das leis trabalhistas.”
A secretária de Formação da CUT e coordenadora do Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação (FNDC), Rosane Bertotti, também convocou as ruas para a defesa da democracia e da soberania do país. “Nós precisamos construir uma grande força-tarefa, porque para enfrentar esse monopólio da Globo temos de ir para a rua sim, mas nós também temos de usar da ferramenta jurídica, temos de olhar cada publicação que eles fizerem que for mentira, e temos de denunciar e ir para a Justiça também”, afirmou Rosane, que defendeu a composição de um coletivo de parceiros para prestar assessoria jurídica.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) se disse preocupado com os efeitos da crise política na economia do país. “Nós temos uma recessão de 3,8% (desempenho negativo do PIB no ano passado), e não sou eu que estou dizendo, mas as consultorias, de que perto de dois pontos percentuais desse recuo estão ligados à Operação Lava Jato”, afirmou.
“Quero que investigue tudo, nós não somos contra a investigação, mas têm de ser investigações sóbrias”, continuou o senador. “Agora, do jeito que estão fazendo, nesse espetáculo junto com a Rede Globo e a revista Veja, essa associação com setores do aparato do Estado, o Ministério Público, a Polícia Federal, o Judiciário, estão ferindo o Estado democrático de direito, o que eles querem é a restauração do neoliberalismo”, acrescentou Lindbergh.
“Há gente do próprios governos petistas que não tem esse nível de confiança e percepção, como a gente expressa aqui”, disse o diretor da RBA, Paulo Salvador, ao criticar a forma como ainda se dá preferência à mídia tradicional na divulgação de informações e também de distribuição de verbas publicitárias. “Quantas e quantas vezes eu já ouvi pessoas falarem ‘eu vou passar primeiro para a mídia’”, afirmou.
Salvador lembrou que na sexta-feira foram colocadas sete horas de programação na TVT, que alcançou 1,7 ponto de audiência: “Começamos a resistência da democracia e fizemos a diferença colocando pessoas para analisar o que estava acontecendo, como vários outros veículos independentes fazendo a história, e nós conseguimos construir um discurso em que muita gente nunca tinha visto o Lula falar da forma como ele fez na sexta-feira e nós conseguimos colocar isso para o público com qualidade, a ponto de a `jararaca` entrar para a história”.
O jornalista Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, alvo da Globo – que antecipou atos, movimentos e pessoas que seriam alvo da Operação Aletheia –, mostrou-se preocupado com o momento político no país. Guimarães é atacado por ter “vazado” informações sigilosas, o que considerou um “contrassenso”, uma vez que toda a Lava Jato é movida a vazamentos seletivos de informação por parte de agentes públicos.
“Estamos vivendo um momento muito triste para o Brasil. Eu costumo dizer que cresci em uma ditadura e eu tenho medo, neste momento, de terminar meus dias em uma ditadura”, afirmou. “O que é triste constatar neste momento é que o Brasil se encontra na seguinte situação: o que define para mim a democracia é a lei valer para todos da mesma maneira. E todos sabemos que não é o que está acontecendo.”
Fonte: Rede Brasil Atual