Apagão em SP: privatização da energia deixa habitantes no escuro

Paulo Pinto/Agência Brasil

O apagão que atingiu São Paulo após o temporal da última sexta-feira (11), deixando milhões de pessoas sem luz, evidenciou o fracasso do modelo de privatização dos serviços de energia no Brasil, especialmente na capital. A interrupção do fornecimento não só afetou diretamente a população, como também escancarou a falta de preparo e o descaso das autoridades locais, tanto do governador Tarcísio de Freitas quanto do prefeito Ricardo Nunes, ambos bolsonaristas convictos, em lidar com as crises climáticas que a cada ano se tornam mais previsíveis e severas.

Na manhã desta segunda-feira (14), mais de 537 mil imóveis da capital continuavam no escuro. O apagão também atinge Cotia (36,9 mil casas), Taboão da Serra (32,7 mil) e São Bernardo do Campo (28,1 mil). A Enel, responsável pela distribuição de energia elétrica na Grande São Paulo, anunciou já ter restabelecido o fornecimento para 1,5 milhão de clientes. Entretanto, a normalização tem sido extremamente lenta, penalizando habitantes e comerciantes.

Não é acaso

O apagão em São Paulo não é um evento isolado, mas parte de um ciclo de falhas recorrentes. Em 2023, a Enel prosseguiu com sua malfadada estratégia de corte de custos e redução de investimentos, ao mesmo tempo em que aumentava o pagamento de dividendos a acionistas, inclusive estrangeiros. A empresa contava com 27 mil funcionários em 2020, porém reduziu o quadro para pouco mais de 15 mil em 2023, uma baixa expressiva que comprometeu a capacidade de resposta às emergências, como a que se apresenta neste momento.

Ao invés de trazerem soluções práticas, Tarcísio e Nunes passam seu tempo fazendo acusações e críticas à concessionária. Trata-se de uma tentativa de se esquivar da própria responsabilidade, já que a crise de infraestrutura energética e a falta de manutenção das redes elétricas demandam ações preventivas e estruturais por parte dos gestores públicos.

A prefeitura tem culpa

Irritada, a população vem cobrando Nunes pela péssima gestão da poda e do manejo de árvores, fator determinante para a queda dos cabos de energia em dias de chuva intensa. Guilherme Boulos, candidato à prefeitura, protocolou uma representação no Ministério Público contra a Enel e a administração atual, denunciando a ausência de um plano emergencial para evitar os efeitos de temporais e a queda de árvores, além de pedir uma multa diária de R$ 50 milhões por dia sem luz.

Boulos fez uma série de publicações em suas redes sociais mostrando o descaso das autoridades e o sofrimento dos habitantes. “A população pede socorro, mas a prefeitura não parece ajudar. A omissão de Ricardo Nunes é gritante, não podemos aceitar”, afirmou.

 

 

Gleisi Hoffmann, presidenta do PT e deputada federal (PT-PR), também se manifestou nas redes, apontando os culpados – “quem vendeu (e vendeu mal) nossas empresas de energia foi a turma deles, dos tucanos, de Temer, Bolsonaro e Guedes” – e exigindo providências. Ela lembrou que “privatizar serviço público de energia e água não deu certo em nenhum lugar do mundo. É a população que paga a conta”.

 

O lucro acima das pessoas

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Agência Reguladora de Serviços Públicos de São Paulo (Arsesp) confirmaram que a Enel não cumpriu o plano de contingência para eventos climáticos extremos. Apesar disso, a concessionária continua beneficiando seus acionistas, enquanto a população sofre as consequências dessa privatização nefasta.

É evidente que o apagão de São Paulo vai além de um fenômeno climático isolado. Ele expõe o desmonte de uma estrutura que, com a privatização, perdeu o foco em investimentos de longo prazo e na qualidade do serviço prestado. A Enel representa um modelo que prioriza o lucro imediato sobre a segurança e o bem-estar da população. O fracasso dessa estratégia é sentido nas ruas escuras de São Paulo e no desespero de milhares de famílias que seguem sem eletricidade e sem previsão de quando a normalidade será restabelecida.

Da Redação da Agência PT

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