Vergonhosa a edição do Jornal Nacional desta segunda-feira, 15 de novembro. Nenhuma palavra sobre a efeméride do dia, a comemoração da Proclamação da República no Brasil.
Será que a família Marinho e seus amarra-cachorros preferiram não tocar no assunto para não ter que admitir o crescente autoritarismo e o desaparecimento da fronteira entre os Poderes e entre o público e o privado no desgoverno Bolsonaro, que eles foram fundamentais para eleger?
Como se isso não bastasse, a censura empresarial corre solta na emissora.
Nenhuma palavra sobre o brilhante discurso que o ex-presidente Lula fez, hoje, no Parlamento Europeu, em Bruxelas. Discurso em que foi aplaudido de pé e no qual garantiu que “o Brasil tem jeito”.
A mídia europeia tem dado grande destaque à presença de Lula e sempre frisa sua condição de líder disparado nas pesquisas para a eleição presidencial do ano que vem.
Ao invés de mostrar o sucesso de Lula na viagem que faz pela Europa, o JN preferiu veicular uma matéria ridícula sobre Bolsonaro e suas marchas e contra marchas para filiar-se à agremiação de Valdemar Costa Neto, direto de Dubai.
Não passou despercebido como nesta matéria, o JN tentou queimar Bolsonaro, o próprio Lula e, claro, aplainar o caminho para o seu candidato: o Marreco de Maringá.
Não foi dito, mas sabe-se que a fonaudióloga que tentará dar um jeito na voz do Marreco é da Globo. Possivelmente, a Globo sonha, junto com setores do Tio Sam, em preparar o programa de governo do Marreco.
Não passou despercebido igualmente como a única notícia envolvendo a América Latina foi a derrota parcial do governo peronista nas eleições para o Congresso argentino. Aliás, os crimes cometidos pelo direitista Maurício Macri no governo anterior e que jogaram a Argentina na terrível situação em que se encontra, foram sumariamente ignorados. O que o JN mostrou foi um Macri com cara de bom moçinho e o presidente Aberto Fernández, que tem enfrentado a crise que o antecessor deixou, com visual nitidamente cansado.
Nenhuma palavra sobre a guerra híbrida dos EUA contra Cuba, sobre a tentativa de novo golpe da extrema-direita na Bolívia, sobre a vitória dos sandinistas na Nicarágua, sobre o avanço do impeachment do presidente de extrema-direita do Chile, Sebástian Pinera, e menos ainda, sobre os problemas que o governo do também extremista de direita no Equador, Guilllhermo Lasso, enfrenta. Lasso e Pinera foram pegos com contas em paraísos fiscais e isso naqueles dois países é crime. Só não é crime aqui, com as generosas passadas de pano do família Marinho. Quem se lembra que o próprio JN tratou logo de livrar a cara do ministro Paulo Guedes?
No mais, esconder tudo isso do seu “respeitável público”, além de censura explícita, é também sinônimo de desinformação e de tentar confundir.
Em outras palavras, as fake news no Brasil estão longe de ser coisa de redes sociais e do Bolsonaro.
No JN e na mídia corporativa, elas sempre estiveram presentes.
Que falta faz a regulação democrática da mídia no nosso país!”
Ângela Carrato é jornalista e professora do Departamento de Comunicação da UFMG