Alexandre Linares: Alípio Freire – Um eterno militante da emancipação dos Trabalhadores

Foto: Reprodução Facebook

ALÍPIO FREIRE (1945-2011), JORNALISTA, ESCRITOR, ARTÍSTIA PLÁSTICO, POETA E UM ETERNO MILITANTE DA EMANCIPAÇÃO DOS TRABALHADORES

por Alexandre Linares

Tive vários encontros com Alípio Freire. Sempre escutei sua voz macia explicando e contando histórias como bem poucas pessoas sabem contar. Um gigante. E nossa época parece uma titanomaquia. Perdemos tantos mestres e amigos. Entre muitos lembro de imediato de Clóvis de Castro e Edmilson Menezes, dentre muitos outros se somam as centenas de milhares que morreram nesta pandemia. Acompanhei dia a dia de sua luta pelos boletins diários de Danilo César, seu afilhado e combativo companheiro impulsionador da Rede de Apoio às Vítimas do Covid-19.

Lembro-me de ler o livro “Eu lutei” de meu camarada Paulo Gnecco, veterano da luta contra a ditadura e ver uma foto dos sobreviventes do Presídio Tiradentes, na Av. Tiradentes, em frente ao Quartel da Rota, ao Lado do QG da Polícia de São Paulo. Lá no livro havia uma foto de vários companheiros e companheiras sobreviventes. Gnecco havia sido colega de prisão de Alípio e de muitos outros. Lembro de ter identificado em primeiro lugar Alípio na foto pois já o tinha visto muitas vezes em eventos do Partido dos Trabalhadores.

Há quem coloque a culpa no vírus. Não o vírus não é culpado. Ele é produto do sistema capitalista que nega aquilo que é necessário para enfrentar uma pandemia. Cuba, China, Vietnã que seguem sendo nações que ainda tem traços de suas revoluções mostram que as conquistas sociais de um Estado, mesmo burocrático — onde os trabalhadores tiveram seu poder expropriados por burocracias –, pode servir para enfrentar a Pandemia como deveria ser em todo o mundo. No Brasil e na ampla maioria do mundo o que vemos são os governos sendo responsáveis pelo genocídio massivo que segue ocorrendo.

Alípio nos deixou hoje (22/04). Para tristeza que quem o admirava e tinha o privilégio de ouvi-lo. Talvez a última vez que tenha cumprimentado ele foi no lançamento do filme Verdade 12.528, de Paula Sacchetta e Peu Robles, no Memorial da Resistência. Ou no ato em homenagem à Olavo Hansen, militante do trotskista do POR-T assassinado pela ditadura, realizado na Vila Maria Zélia no curso da batalha pela punição dos crimes da ditadura militar.

Alípio foi na juventude militante e propagandista da Ala Vermelha, combatendo a ditadura. Na ditadura editou publicações como Luta Proletária e União Operária.

Com o movimento das greves classe operária no ABC tem início o fim da ditadura. Nesse processo foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores junto com Mário Pedrosa Paulo Freire, Lélia Abramo, Manoel da Conceição entre outros. Dirigiu publicações do PT como a Revista Teoria e Debate em que fez capas inesquecíveis. Fundou a Revista do MST entre outras publicações.

Suas capas da revista Teoria e Debate, do Diretório Regional do PT de São Paulo são obras de arte expressivas de sua qualidade como editor. Seus livros são de arrepiar. Recomendo fortemente sua principal obra “Tiradentes, um presídio da ditadura: memórias de presos políticos” Alípio Freire em conjunto com Izaías Almada e José Adolfo de Granville Ponce. Outra obra essencial para conhecer Alípio é “Estação Paraiso” que reúne seus poemas de combate. Também fez o documentário “1964 Um golpe contra o Brasil”. Educou muitos militantes com sua ternura, solidariedade e companheirismo.

No filme “Nada será como antes? Nada.” de Renato Tapajós há um memorável registro que circula as redes sociais de Alípio, então vice-presidente do PT de São Paulo e candidato a vereador nas eleições de 1982 O filme trata da primeira campanha eleitoral do PT, em 1982, e os sentimentos que tomavam a esquerda no fim da ditadura militar. Alípio opina sobre o papel de um partido em busca do socialismo e explicava que a tarefa era: “Construir uma ponte para a utopia, uma sociedade que em primeiro lugar seriam expropriados todos os meios de produção, estaremos todos os trabalhadores proprietários dos meios de meios de produção, mas isso é necessário, mas não é suficiente. É necessário mais uma coisa. É necessário que a gente desde já recoloque a questão da felicidade e do prazer. Uma revolução, uma mudança radical na sociedade que não fale da felicidade e do prazer, que não fale da possibilidade de todos nós, reconhecendo todas as diferenças, podemos conviver enquanto trabalhadores, isso aí não terá cumprido seu papel. Nós somos a crítica viva e real ao socialismo existente. E a retomada de toda a raiz libertária do socialismo que foi esquecida por muitos anos por vários movimentos. Esquecida inclusive porque a partir de um determinado momento a classe operária tomou o poder num Estado e o Estado virou uma razão para classe operária. É preciso que o Estado seja destruído e que a gente esqueça a razão de Estado. A nossa referência não pode ser a instituição, nossa referência deve ser a massa em movimento. E esses movimentos não são somente os movimentos reivindicativos, são as festas. É importante fazer festas. Existe hoje aqui um grande discurso, um grande discurso no dia 21 no Largo 13, que é o discurso do grupo, que é o discurso do conjunto, que é o discurso do coletivo e que é o discurso da Utopia, que é a felicidade. Nós temos de nos comprometer desde agora, desde já a ponte para nós chegarmos a essa felicidade. Não dá para deixar esses temas para depois. Não dá para tratar só da economia. É preciso tratar do que vai por dentro de cada um de nós. É preciso tratar de toda ansiedade, todos os desejos, de toda a perspectiva e todo sonho que temos dentro da gente. E que a classe trabalhadora de conjunto tem dentro de sim. Isso é fundamental para chegar lá, do contrário viraremos uns burocratas, uns velhos. Teremos um Estado na mão, um aparelho, uma máquina. Teremos um Estado forte, faremos guerra. Daremos mais um sapato para João, um vestido à Maria. Mas a felicidade não é só isso, embora isso indispensável para a felicidade. Nós queremos o sonho. Como diria Calígula: ‘nós queremos a Lua, algo que Em minha juventude foi um privilégio ter ouvido suas histórias. Não nos despedimos de Alípio hoje. Ele não partiu. Como Gramsci explicava a imortalidade existe ao nos lembramos daqueles que partiram. É na lembrança que a imortalidade se manifesta na presença. Que sua arte, seus escritos políticos e poéticos, que seus vídeos o façam sempre ser lembrado para as novas gerações de jovens militantes que lutam pelo fim da propriedade privada dos meios de produção e pela construção das necessárias pontes para a utopia. Seu coração parou de bater depois de muito lutar. Sua batida segue sendo a nossa, que vamos seguir sua luta pela vida, pela utopia e pela emancipação dos trabalhadores.seja aparentemente impossível. E nós teremos a Lua”.

Companheiro Alípio Freire presente! Companheiro Alípio Freire um putabraço!(*)

Alexandre Linares, presidente do PT da Mooca e integrante do grupo de base do Diálogo e Ação Petista da Mooca/Brás/Belezinho.

FILMES: Documentário: “1964 Um golpe contra o Brasil” – Direção de Alípio Freire https://www.youtube.com/watch?v=GhoI8FdFF6w

Nada será como antes? Nada – Direção Renato Tapajóshttps://vimeo.com/39948647

Documentário: “Verdade 12.528” – Direção Paula Sachetta e Peu Robleshttps://vimeo.com/359599413

LIVROS:Tiradentes, um presídio da ditadura: memórias de presos políticos – Alipio Freire, Izaías Almada, José Adolfo de Granville Ponce https://books.google.com.br/…/Tiradentes_um_pres%C3…

Livro “Estação Paraíso”https://books.google.com.br/…/Esta%C3%A7%C3%A3o_Para%C3…

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