Agnes Franco: O PT é o único partido que apresenta propostas que fazem sentido para a agenda ambiental

Site PT São Paulo

“A agenda ambiental não é uma pasta separada, uma caixinha, e parece que o mundo está começando a entender isso, em especial, a partir do último relatório do IPCC, Painel Intercontinental para Mudanças Climáticas da ONU, que foi muito direto sobre a ameaça iminente a vida humana. E as previsões dos cientistas começam se concretizar, é nítido”, destaca Agnes Franco, jornalista, especialista em meio ambiente, Mestranda na Alemanha.

De acordo com ela, não dá mais para ignorar os impactos da questão ambiental e lembra que há pouco tempo, vimos altíssimas temperaturas no Canadá, a Índia sofreu com as enchentes, o sul da Bahia, Minas Gerais e outros estados brasileiros têm sofrido com o excesso de chuvas. Nos últimos quatro meses houve frio extremo, quando era para estar calor; falta de chuva na Amazônia; tempestade de areia em algumas cidades do estado de São Paulo; enchentes gravíssimas no sudeste brasileiro.

“Tudo isso tem acontecido em meio à pandemia que tem relação direta com nosso modo de produção e consumo, e mesmo assim tá difícil de entender que a gente vai precisar abrir mão, mudar nosso padrão de consumo, pensar as nossas relações de modo diferente. Se a gente não fizer isso, se nos próximos 5 anos mudanças muito importantes não acontecerem, penso que não haverá razão de luta para salvar a vida humana. Não o planeta Terra, a Terra se reinventa. Na verdade, não haverá razão para lutar da forma que estamos fazendo hoje porque não haverá possibilidade de futuro. E a gente ainda vai perder muitas vidas humanas até lá, infelizmente”, diz ela.

Segundo Franco, quem pensa a política, ainda está muito atrasado, porque ainda olha tudo só do ponto de vista econômico. “O acordo verde, proposto pelo presidente dos EUA, Joe Biden é um sinal positivo, sem dúvida, é um sinal positivo, mas ao mesmo tempo, ainda me parece solução capitalista para problemas capitalistas”, aponta.

O PT São Paulo fez uma entrevista com a Agnes Franco e abaixo está um resumo do bate papo sobre as questões ambientais como Crédito de Carbono, Lula presidente, Mineração, Agrotóxicos, Urbanismo e pandemia:

Crédito de CO2 e privatização

O mundo todo tem falado sobre o mercado de carbono, a última Conferência do Clima tratou de como esse mercado vai funcionar. Mas ela não favorece quem segura os biomas em pé: os povos indígenas, as comunidades tradicionais. Grosso modo, cada país tem uma meta para redução de emissão.

O Brasil é um país que pode vender muito crédito de carbono. O Estado pode fazer isso, mas a iniciativa privada também pode. Um exemplo que muito preocupa é a privatização dos parques. A gente tem que olhar para a política neoliberal como funciona, a privatização de tudo, transformar tudo em mercadoria, e o ar também é uma mercadoria para a ótica deles.

Não estou dizendo que todo o mercado de carbono é negativo, estou dizendo que não resolve os problemas. É como se tudo se resumisse a Carbono e isso está errado. Como o mercado de carbono vai resolver o problema da falta de esgoto, da canalização extrema dos rios quando chove, o problema dos agrotóxicos na alimentação? Não vai. A questão ambiental tem uma complexidade muito maior do que possa aparecer.

PT e Meio Ambiente

O PT é o único partido que tem apresentando propostas que fazem sentido para a agenda ambiental brasileira e para o Brasil como player mundial desta agenda global. O que falta para cada um de nós é se apropriar deste debate. Do mesmo jeito que o brasileiro entende um pouco da economia doméstica, a gente precisa se apropriar da agenda ambiental. Entender quem é quem nesta agenda.

Somos muito cobrados como indivíduos, mas na verdade o grande problema são as indústrias; é como esta funcionando em grande escala é que impacta. É importante dar prioridade para o produtor local, a agricultura familiar. Escolher comprar do seu Zé da Vila ao invés de comprar do Carrefour, isso tudo faz parte dessa agenda, faz parte da transição ecológica. Precisamos dar um salto civilizatório. A gente precisa mudar a nossa relação com o ser humano, a sociedade e a natureza. Neste sentido, os povos indígenas e tradicionais têm muito a nos ensinar. A gente precisa mudar a nossa relação com as coisas, fomos ensinados a ter tanta necessidade de compra.

Quando a gente pensa em um indígena, por exemplo, a gente não pensa em uma Isa Tapuia, companheira do PT do Pará, academica, não pensa numa Sonia Guajajara que é uma liderança internacional, ou na Txai. . A gente pensa em um índio isolado, afastado, com aquela visão que o colonizador europeu impregnou na gente. E eles são uma das poucas tábuas que resta pra que a gente não se afogue. Ou você acha que é por acaso que no mundo todo onde tem indígena tem floresta, tem bioma equilibrado?

Lula presidente

O meio ambiente não é isolado. Não dá para fazer uma política de meio ambiente séria sem falar de combate ao racismo, da política para as mulheres. Discutir meio ambiente é discutir modelo civilizatório, modelo de economia. Uma economia que serve à vida e não construir uma sociedade que serve à economia.

Acredito que o presidente Lula vai trazer para a economia brasileira um modelo muito alinhado e costurado com a economia circular, com a construção de alternativas sustentáveis para roda econômica brasileira. Vai se preocupar em construir um país que não seja de consumidores, mas que seja de gente autônoma, brasileiros potentes assumindo liderança na agenda ambiental. O presidente Lula sabe o que o mundo espera do Brasil e sabe o que o brasileiro precisa. Além disso, ele, como todo grande líder, tem ouvido muita gente.

Mineração

Tem a questão da mineração em Minas Gerais, mas tem também na bacia amazônica, enfim, no Brasil todo. A questão da mineração é muito grave e infelizmente, ao que tudo indica, continuarão acontecendo (tragédias), porque as coisas não mudaram. O governo de Minas Gerais continua emitindo licenças, que no olhar dos técnicos, são muito perigosas, há por exemplo emissão de licenças em as áreas da barragem para aumentar a capacidade da contenção de refugo, o que é um absurdo!

Agrotóxicos

Existem licenças para liberação de centenas de agrotóxicos, desde o início do governo Bolsonaro, que estão envenenando todo nosso bioma e a nossa comida e isso pode e vai afetar a balança comercial. O Brasil vive de commodities e a agricultura é uma parte muito importante da nossa balança comercial. Grande parte dessa exportação vai para consumo animal – que é uma outra discussão que precisa ser feita com seriedade. E eu não estou nem entrando na poluição das águas e da terra, que podem durar séculos, a depender do agrotóxico que está sendo usado. O mundo todo ta proibindo cada vez mais agrotíxicos e o Brasil liberando cada vez mais. Esse ano mesmo já liberou vários!

Urbanismo
A questão da agenda ambiental vai passar também pela agenda urbana e das cidades resilientes. Tem coisa que agente não consegue mais consertar, porque o planejamento foi errado, a gente só consegue fazer uns remendos, mas tem coisas que precisamoa encarar como o problema da super impermeabilização das cidades, da ultracanalização de rios, da morte de nascentes, saneamento etc.

Pandemia
Se você perguntar para uma pessoa na rua: a pandemia tem a ver com o que? As pessoas vão responder: “a pandemia tem a ver com a saúde”. Tá certo, porém pouquíssimas pessoas vão fazer o link que a pandemia tem a ver com o meio ambiente e tem tudo a ver. A pandemia começa devido à relação doentia que nós temos com animais. A gente explora tudo, como o próprio Marx já dizia, inclusive as outras formas de vida. Vamos pensar as últimas epidemias: gripe suína, aviária, a AIDS, covid-19… Todas elas derivam direta ou indiretamente do modo como produzimos nossos alimentos ou, do consumo de animais diretamente, sem exceção. E aí? Não vamos mesmo aprender nada com isso?

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