A política de extermínio de empregos de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, um pacote de maldades que inclui cortes de direitos e de garantias históricas de amparo ao trabalhador, ganhou ares de tragédia com a pandemia do coronavírus. Não bastasse o atual recorde de 15 milhões de desempregados no país, o Banco Mundial desenha um cenário trágico para a década. Segundo o relatório “Emprego em Crise: Trajetória para Melhores Empregos na América Latina Pós-covid-19”, nos próximos nove anos a falta de vagas e as maiores perdas salariais recairão sobre trabalhadores menos qualificados.
“No Brasil e no Equador, embora os trabalhadores com ensino superior não sofram os impactos de uma crise em termos salariais e sofram apenas impactos de curta duração em matéria de emprego, os efeitos sobre o emprego e os salários do trabalhador médio ainda perduram nove anos após o início da crise”, diz trecho do documento divulgado na terça-feira (20).
O banco prevê que as “cicatrizes” deixadas pela pandemia será maior nos trabalhadores sem ensino superior. Além disso, as taxas de desocupação e de pessoas no mercado informal devem continuar em patamares altos pelos próximos anos. De acordo com a agência, os cortes maiores serão nos setores menores de serviço e setores primários maiores, como agricultura, pecuária, pesca e extrativismo mineral.
Como o governo Bolsonaro investiu apenas na precarização do trabalho, ao invés de priorizar uma política de geração de empregos formais, a perspectiva é de que o quadro ainda possa piorar, com um aumento explosivo da pobreza. “A falta de respeito com o povo mais humilde desse país é total e absoluta, nunca vi nada igual no mundo”, denunciou o presidente Lula, em entrevista à Jovem Pan de Sergipe, no mesmo dia em que o relatório foi anunciado.
Lula tem alertado para os efeitos nocivos da uberização preconizada por Paulo Guedes, que retira direitos e garantias trabalhistas em favor de um empreendedorismo de araque. Uma das consequências diretas é a volta da fome. “Temos 15 milhões de pessoas desempregadas, outras seis milhões não procuram mais emprego e mais 33 milhões que estão subempregadas. Estamos vivendo uma situação grave no país, eu não esperava que a fome voltasse como voltou. Voltou forte”, lamentou Lula.
Jovens são os mais penalizados
A destruição da estrutura da CLT, aliada aos efeitos da pandemia, também será cruel com quem está entrando no mercado de trabalho. Sem experiência profissional, os mais jovens serão os mais penalizados. De acordo com o banco, em momentos de recessão econômica, quem tem qualificação elevada sofre impactos de menor duração, em comparação aos jovens e informais.
“Quando se trata de empregos, a ideia de uma recuperação econômica após grandes crises é um mito”, sustenta a economista sênior do Banco Mundial e uma das autoras do estudo, Joana Silva. “Quem sofre mais são os jovens que têm um azar que dura 10 anos”, lamenta.
Segundo a economista, a tendência, em uma crise dessa magnitude, é o estabelecimento de uma tendência quase permanente de informalidade, sobretudo para quem está começando. “Eles levam quase uma década para se recuperar e alguns nunca recuperam mesmo”.
Seguro-desemprego
Para mitigar os efeitos, a agência recomenda adoção urgente de políticas de estímulo ao emprego, aliadas à melhoria da qualificação profissional. “Não é só apoiar financeiramente, mas é ligar esse apoio com políticas ajudando a ter esse trampolim com políticas de formação profissional”, observa Silva.
O banco também pede, tanto ao Brasil quanto a outros países da América Latina, uma reformulação do programa de seguro-desemprego para que haja uma adequação à realidade do mercado pós-pandemia. Um dos mecanismos é a ampliação da cobertura ao mercado informal. “É importante que o seguro-desemprego tenha mais cobertura e seja mais reativo face às crises”, analisa Silva.
Da Redação, com informações de Sputnik News e Estado de S. Paulo