É preciso fazer uma reflexão sobre o valor social de termos parlamentares que querem apenas fazer alarde para satisfazer sua base de apoiadores
É muito representativo que, em pleno mês das mulheres, o Deputado Estadual Artur do Val (Podemos), tenha deixado cair sua máscara de defensor da sociedade e se exposto através de suas falas machistas, repugnantes e covardes.
Fruto da política da “lacração” popularizada pelos membros do Movimento Brasil Livre (MBL) desde 2013, o parlamentar paulista, conhecido como “Mamãe Falei”, sempre usou e abusou de uma retórica agressiva e preconceituosa para conquistar simpatizantes que se diziam cansados da “velha política”. O problema que a nova política chegou e não apresentou resultado algum.
Aliados de Bolsonaro
Acostumados a fazer alarde e achincalhar o trabalho de políticos de esquerda e funcionários públicos em suas redes sociais, em 2018, membros do MBL enfrentaram as urnas e alguns deles se elegeram como deputados. Inclusive, tiveram papel fundamental na disseminação de fake news, que foram determinantes para a eleição de Jair Bolsonaro à presidência.
Eleitos, esses políticos lacradores continuaram com a mesma postura beligerante e desrespeitosa, mas passaram a usar as tribunas das casas legislativas como palanque. Com pouco destaque na produção legislativa, seja no aspecto técnico (análise e pareceres sobre projetos do Executivo), seja na elaboração de projetos de leis, focalizaram em criar polêmicas com nenhum resultado prático em benefício da sociedade.
O que ganhamos com isso?
Precisamos nos questionar enquanto sociedade, qual o valor social de ter representantes que jogam contra o sistema e ganham a notoriedade por “falar aquilo que todo mundo pensa, mas não tem coragem”? Pessoas que preferem ligar a câmera e fazer um vídeo falando suas verdades, mas incapaz de dialogar para a solução de problemas reais.
Agora, Artur do Val afirmou que mulheres ucranianas “são fáceis porque são pobres”, porém este absurdo não foi um episódio isolado. Em 2020, por exemplo, decidiu voltar sua metralhadora de palavras contra o Padre Julio Lancellotti, chamando-o de “cafetão da miséria”, um homem que é reconhecido por dedicar sua vida a cuidar de pessoas que estão em situação de rua.
Esses dois casos exemplificam como essa política da “lacração” cria um ambiente que estimula as pessoas a perderem a vergonha de serem preconceituosas, agressivas e machistas, sendo legitimadas pela ação desses representantes.
Em 2022, teremos eleições e poderemos repudiar nas urnas pessoas que não têm compromisso com melhorar o Brasil. Ser “contra tudo isso que está aí” é fácil. Difícil é trabalhar para a transformação.
Jilmar Tatto é Secretário Nacional de Comunicação do PT