Por Charles Gentil: A ciência e a fé nos tempos da pandemia

Foto: CNS

Todo vírus- sabe-se – sofre mutações. Daí surgem novas variantes destes vírus com novas características e que, por sua vez, irão sofrer novas mutações gerando novas cepas para, então, produzir novas linhagens que, assim, sofrerão novas mutações…
Ou seja, estas alterações permanentes dos vírus são um desafio para a ciência; pois, ao deparar-se com uma determinada linhagem iniciam-se os estudos de combate ao vírus e que, no entanto, de certa forma, podem se tornar, no todo ou em parte, obsoletos para a linhagem seguinte, em função da rápida mutação viral.
E isto já está acontecendo no caso do vírus sars-cov-2(Covid-19). Na Inglaterra, a nova mutação denominada B.1.1.7 já traz evidentes preocupações à comunidade científica.
A princípio nada indica que esta nova linhagem inglesa (B.1.1.7) seja mais mortal que a anterior e, por isso, estudos estão em curso para verificar o real risco de comprometimento infeccioso que comporta, bem como se as vacinas em desenvolvimento teriam, para esta mutação viral, eficácia de imunização.
De qualquer maneira, a Organização Mundial de Saúde (OMS), alerta que o B.1.1.7 é mais transmissível que outras cepas e que esta linhagem do vírus já encontra-se na Holanda, Itália, Áustria, Dinamarca e, de acordo com o epidemiologista Antônio Fauci, autoridade no país sobre o tema, é possível já, inclusive, estar em circulação nos Estados Unidos, o que reforça, aliás, o dado publicizado pelo primeiro-ministro inglês, Boris Johnson, que a taxa de propagação do vírus B.1.1.7 é 70% maior, que sua versão anterior(sars-cov2).
Porém, isto é só o começo. Saiba ainda, que não há apenas esta mutação do sars-cov2; há outras mutações já conhecidas no mundo: na Espanha surgiu o D614G, na Dinamarca apareceu o Y453F, na África do Sul e também com alta transmissibilidade surgiu o 501.V2 e, aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro- UFRJ e do Laboratório Nacional de Ciência da Computação-LNCC, identificaram em amostras de pacientes cariocas, uma das cinco mutações de uma linhagem derivada da cepa B.1.1.28.
Nada conclusivo, porém. Os estudos ainda estão em avaliação, não veicularam em revistas científicas e não mencionam nem a periculosidade, nem a resposta para as vacinas em desenvolvimento, nem o potencial de difusão desta linhagem brasileira do sars-cov2.
A partir destes dados da ciência uma reflexão necessariamente se impõe ( e não me furtarei de fazê-la). Em frente, então…
O mundo, hoje, é certo, é um vasto horizonte de absoluta incertezas, que cada vez mais, paira sobre o tempo de nossas vidas. E, por mais que a mídia em geral recomende, que mesmo com a propagação do vírus não há motivo de pânico, o fato é que: o pânico já está instalado.
E aquelas condutas, aparentemente, negligentes das pessoas que não usam máscaras ou fazem uso inadequado das mesmas, apenas demonstra um pânico não declarado, mas que é explícito e, ainda que silencioso, traduz a ideia daquele desespero íntimo e não confessado, de que não há nada a ser feito( excluo desta interpretação os inimigos declarados da vida como, por exemplo, às hordas dos fiéis de Bolsonaro e o próprio).
No entanto, o desleixo de muitos com os protocolos de segurança sanitária são, na verdade, declarações inconscientes e (inconsistentes), de pânico e de que não há nada a ser feito; sendo assim, a conduta em aparência autodestrutiva, na verdade, traduziria o pânico de alguém que, no fundo, quer viver, mas, ao mesmo tempo, parece renunciar a vida, na medida em que, apresenta descuidos reiterados com as práticas de segurança que lhe dizem respeito.
E este pânico é ainda mais perigoso quando, no Executivo, o Chefe de Estado, não só nega a ciência, mas premeditadamente, expõe as pessoas em risco real, ao incitar a não obediência às regras de segurança sanitária. Refiro-me ao genocida: Jair Messias Bolsonaro.
Neste momento, forma-se um componente explosivo: o pânico inconsciente expresso em condutas reiteradas e indisciplinadas de desleixo ( e que devem ser corrigidas mediante orientações) encontra sua justificativa em práticas ideológicas conscientes de desobediência incitada contra os protocolos de segurança, em razão do descrédito da ciência pelo referencial religioso adotado.
Daí que, não só o vírus da sars-cov2, mas todas suas mutações e os riscos que trazem são concebidos como notícias falsas e engodo da mídia ( embora se saiba que a imprensa não é, em si, honesta; o que, por sua vez, não quer dizer que, também não diga algo verdadeiro); com isso, os negacionistas da ciência acabam por influir em setores da sociedade que, então, ficam entregues à morte por minimizarem seus descuidos em função de prédicas que estimulam a continuidade deste pânico não declarado, isto é, desta indisciplina inconsciente mas, convertida em deliberada e calculada transgressão aos protocolos sanitários.
Sendo assim, às incertezas que rondam o mundo de hoje, devido a problemática viral, deve colocar como discussão central, o debate da ciência contra os preceitos intransigentes da fé; os avanços científicos não podem ser prejudicados, nem ficarem reféns do eventual julgamento que determinada religião possa fazer da ciência.
Se tem uma coisa que as religiões em geral precisam aprender com estes microorganismos denominado vírus é a capacidade de mudarem para sobreviver; se as religiões não sofrerem – daqui em diante – uma profunda mutação, em breve, deixarão de existir como, hoje, aliás, os cultos originários dos deuses egípcios e gregos dos começos da civilização são já como que, páginas viradas da história.
É preciso ficar claro que, diante da sars-cov2 e suas mutações já conhecidas: B.1.1.7, D614G, Y453F, 501.V2 é B.1.1.28, se a cada dia é preciso nos colocarmos em oração para que o mal não nos atinja, também é preciso que fique claro ( e tenhamos humildade para reconhecer), que será a ciência, que irá nos livrar deste mal.

Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT Centro. Integrante do Democracia e Luta. Coordenador do Comitê Popular Antifascista Ponte Rasa Pela Democracia e Lula Livre

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