Devido aos sucessivos aumentos nos preços dos combustíveis promovidos pela Petrobras sob a tutela do governo golpista de Temer, caminhoneiros de todo o Brasil entraram em greve e fecharam rodovias em pelo menos 22 estados. Nesta quinta-feira (24) as mobilizações chegam a seu quarto dia, afetando a população com o medo do desabastecimento e prejudicando a economia com a paralisação de linhas produtivas.
Postos de combustível e aeroportos estão começando a ficar sem gasolina, óleo diesel e querosene de aviação, afetando o transporte nas grandes cidades. Até mesmo os ônibus municipais estão parando de rodar devido ao desabastecimento.
No Mato Grosso, por exemplo, a falta de combustíveis afetou o transporte escolar em Primavera do Leste. No Recife, houve redução no número de ônibus em circulação, enquanto foram registrados atrasos em linhas de cidades de São Paulo.
Segundo a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis), já foram registrados casos de desabastecimento no Rio de Janeiro, cidades do Rio Grande do Sul e no Distrito Federal. Outros estados também registraram o problema, como Minas Gerais e Tocantins.
Em alguns pontos o preço da gasolina atingiu valores estratosféricos nesta quinta. Em Brasília foi registrada a cobrança de R$ 9,99 por litro, enquanto em Recife um posto vendia a R$ 8,99 o litro.Marcello Casal Jr/Agência Brasil
População faz fila nos postos de Brasília; combustível começa a faltar
Segundo a Infraero, cinco aeroportos no Brasil têm combustível suficiente para operar somente até esta quarta-feira, enquanto outros seis têm para, no máximo, dois dias. Congonhas, em São Paulo, recebeu combustível, mas a reserva para abastecer os aviões só deve durar até a noite de sexta (25).
De acordo com o Correios, a logística de entregas também foi prejudicada. Segundo a estatal, foram suspensas temporariamente as postagens das encomendas com dia e hora marcados, como é o caso do Sedex 10, Sedex 12 e ‘Hoje’. Também haverá acréscimo de dias no prazo de entrega dos serviços Sedex e PAC das correspondências, mas esses serviços continuam sendo oferecidos.
Alimentos
Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), alguns estados já começaram a sofrer com o desabastecimento de alimentos, e isso poderá se estender para todo o Brasil nos próximos dias, se algo não for feito.
A Associação Paulista de Supermercados (Apas) informa que as paralisações já causam desabastecimento nos supermercados, em especial nos itens de frutas, legumes e verduras, que são perecíveis e de abastecimento diário.
Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), na quarta-feira (23), 129 unidades produtivas das empresas associadas de carnes bovina, suína e de aves já estavam paralisadas. A previsão da entidade é que até a sexta-feira (25) mais de 90% da produção de proteína animal seja interrompida caso a situação não se normalize, somando mais de 208 fábricas de diversos portes paradas no Brasil.
Ainda segundo a ABPA, com os bloqueios nas rodovias deixaram de ser exportadas 25 mil toneladas de carne de frango e suínos, o equivalente a uma receita de US$ 60 milhões. No caso da carne bovina, são cerca de 1200 contêineres que deixam de ser embarcados por dia.
Em Santa Catarina o Sindicarne (Sindicato das Indústrias da Carne e Derivados no Estado de Santa Catarina) e a ACAV (Associação Catarinense de Avicultura) informaram, em nota, que as interdições nas rodovias forçou a suspensão das atividades de dezenas de indústrias frigoríficas e prejudicou as atividades de mais de 20 mil propriedades rurais.
Em nota, a Ceagesp, informou que começaram os reflexos na entrega de produtos de outros estados, como manga e mamão, provenientes da Bahia e do Espírito Santo, o melão do Rio Grande do Norte, a melancia de Goiás e a batata do Paraná.
Indústria
Diferentes segmentos produtivos do país também estão sendo afetados com a paralisação, que fez com se diminuísse a produção ou atrapalhou o escoamento dos produtos.
A produção de automóveis diminuiu em fábricas de pelo menos duas montadoras. Segundo informações da Folha, já estão paradas as fábricas da General Motors de Gravataí (RS) e São Caetano do Sul (SP). Da Ford, paralisaram as atividades as fábricas de Camaçari (BA) e Taubaté (SP). Nas três primeiras faltam peças, enquanto a de Taubaté produz motores para a unidade de Camaçari.
A indústria de sal do Rio Grande do Norte, responsável por 95% da produção brasileira, enfrenta atrasos na entrega dos produtos.
No Mato Grosso do Sul, mais de 3.700 indústrias paralisaram a produção desde segunda-feira (21). O número equivale a 60% dos 6.201 estabelecimentos industriais do Estado, segundo levantamento da Fiems (Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul).
A Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) afirmou que tem recebido manifestações de empresas do setor relatando problemas com a mobilidade de cargas e pessoas em função do movimento dos caminhoneiros. A entidade ingressou com pedido de liminar para impedir o bloqueio de caminhões que transportam produtos de indústrias associadas à entidade, com especial ênfase às cargas de produtos perecíveis, como carnes e leite, além de produtos essenciais como remédios.
O presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiegs), também divulgou que as manifestações já trazem consequências para a indústria gaúcha, na medida que impedem mercadorias de chegarem aos seus destinos.
Entenda o aumento dos preços dos combustíveis
Segundo Associação de Engenheiros da Petrobras (Aepet), a estatal adotou uma nova política de preços dos combustíveis, desde outubro de 2016, e a partir de então foram praticados preços mais altos que viabilizaram a importação por concorrentes. A estatal perdeu mercado e a ociosidade de suas refinarias chegou a um quarto da capacidade instalada.
A exportação de petróleo cru disparou, enquanto a importação de derivados bateu recordes. A importação de diesel se multiplicou por 1,8 desde 2015, sendo que dos EUAaumentou em 3,6 vezes. O diesel importado dos EUA que em 2015 respondia por 41% do total, em 2017 superou 80% do total importado pelo Brasil.
Para a Aepet, “ganharam os produtores norte-americanos, os traders multinacionais, os importadores e distribuidores de capital privado no Brasil. Perderam os consumidores brasileiros, a Petrobras, a União e os estados federados com os impactos recessivos e na arrecadação”.
Já a Federação Unica dos Petroleiros (FUP) destaca que “em julho do ano passado, o governo Temer dobrou a tributação sobre os combustíveis, aumentando em cerca de 100% a incidência do PIS/Cofins, fato que agora a mídia encobre”.
“Hoje a Petrobrás pratica preços internacionais. Qualquer conflito que aconteça fora do Brasil influencia diretamente os preços dos combustíveis no País”, alerta o coordenador da entidade, José Maria Rangel. Ele lembra que quando Pedro Parente anunciou a paridade de preços com o mercado internacional, em outubro de 2016, a FUP denunciou que quem pagaria a conta, seria o povo brasileiro.
Da redação da Agência PT de notícias