Brasil tem mais da metade de mortos por Covid-19 na América Latina

América Latina, novo epicentro da pandemia do coronavírus ultrapassou a marca de 100 mil mortos, dos quais o Brasil responde por mais da metade: nesta quarta-feira 24), foram registrados 52.951 óbitos, segundo atualização do consórcio de veículos de imprensa. No total, o país também detém metade das contaminações da Região – atualmente em 2,16 milhões – com 1.157.451 casos. Apenas no estado de São Paulo, foram registradas 434 mortes em 24 horas, um recorde. Enquanto capitais ensaiam um retorno às atividades, a pandemia avança para o interior, cujos municípios registraram uma explosão de casos em menos de um mês.

Segundo o diretor-executivo do Programa de Emergências em Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan, a América Latina ainda não atingiu o pico da doença e deve continuar registrando uma alta de casos e mortes. “Eu caracterizaria a situação na América Latina como ainda em evolução, não atingiu seu pico. Deve resultar, provavelmente, em número sustentado de casos e morte contínua nas próximas semanas”, afirmou Ryan.

Sem mencionar diretamente a omissão do presidente Jair Bolsonaro no combate à pandemia, Ryan relacionou a capacidade de resposta do governo com um quadro de controle epidêmico. “O que você faz afeta o pico: afeta a altura do pico, afeta a duração do pico. E afeta a trajetória de descida [do número de casos]. Tem tudo a ver com a intervenção do governo para responder, com a cooperação da comunidade com a intervenção e com a capacidade de atuação dos sistemas de saúde”, disse o diretor de emergências, ao ser perguntado especificamente sobre o auge da doença no Brasil.

De maneira diplomática, no entanto, Ryan responsabilizou a inércia do governo brasileiro pela tragédia causada pela crise sanitária. “O vírus não age sozinho, o vírus explora uma vigilância fraca. O vírus explora os sistemas de saúde fracos. O vírus explora a má governança. O vírus explora falta de educação, falta de empoderamento das comunidades. Essas são as coisas que precisamos abordar”, disse. “Olhem para os países que tomaram medidas, olhem para os países que contiveram e controlaram esta doença. E vocês encontrarão as respostas”, sugeriu o diretor.

Interiorização

Consequência direta da falta de ações e medidas de emergência por parte do governo federal, a interiorização da pandemia foi sedimentada nos últimos 30 dias. Segundo levantamento feito pelo portal ‘UOL’, a velocidade de propagação do vírus em municípios menores já é muito superior à das capitais.  No dia 19 de maio, as cidades do interior contabilizaram 133.334 infectados. Um mês depois, o número saltou para 587.736 doentes, um aumento de 340%. Já as capitais tinham 133.441 casos confirmados e, em 18 de junho, passaram a acumular 361.885 contaminados, uma alta de 171%.

“Eu vejo ainda uma situação muito preocupante”, alertou o cientista e coordenador do comitê científico do Consórcio Nordeste, Miguel Nicolelis, em depoimento ao portal. “Nós fizemos uma avaliação da situação de 131 cidades do Brasil. Foram cinco escolhidas por estado, e quando você vê as curvas, vê uma sincronia de subidas e de picos de casos aumentando. Os ritmos podem ser diferentes, mas o diagnóstico global do país ainda é de uma fase de explosão”, constatou o cientista.

“Lamentavelmente essa interiorização está ocorrendo”, apontou o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Fernando Rosado Spilki. “Ela era esperada e é preocupante porque as estruturas de saúde muitas vezes não dão conta. Isso deve acabar sobrecarregando as cidades-pólo e as as próprias capitais em em vários locais do país”, advertiu.

Explosão na América Latina

De acordo com extensa reportagem publicada no diário americano ‘ The New York Times’, já se passaram meses desde que a pandemia atingiu a América Latina, mas, diferentemente de partes da Ásia, Europa e das cidades mais atingidas nos Estados Unidos, o vírus continua ganhando força. A situação é considerada alarmante por autoridades de saúde uma vez que mortes mais do que dobraram em um mês, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde, confirmando uma explosão da pandemia na região.

“De muitas maneiras, a abordagem vacilante e dispersa da pandemia em partes da América Latina se assemelha à abordagem desorganizada nos Estados Unidos – com alguns presidentes da região questionando o quão perigoso é o vírus, defendendo remédios não comprovados , infundados ou mesmo perigosos , colidindo amargamente. com os governadores estaduais e se recusando a usar máscaras em público”, descreve a reportagem, em referência ao Brasil.

O jornal não poupou críticas a Bolsonaro. “Enquanto o vírus rasgava o Brasil e provocava uma raiva generalizada contra Bolsonaro, seu governo tomou uma decisão que chocou os especialistas em saúde: simplesmente parou de relatar o número total de mortes”, observa o New York Times. “E enquanto o Ministério da saúde pedia que as pessoas ficassem em casa, Bolsonaro incentivou manifestações em massa e apertou as mãos em público”, relembra a reportagem.

O jornal também ressalta que o Brasil registrou frequentemente o maior número mundial de novas infecções e mortes diárias nas últimas semanas – e não mostra sinais de desaceleração. O diário americano também destaca os países que obtiveram sucesso no controle da disseminação do vírus, como Uruguai, Costa Rica e Cuba. “Nem tudo é terrível na região. Nações como Uruguai e Costa Rica parecem ter evitado o pior até agora, enquanto uma intervenção de saúde quase militar em Cuba deixou a isolada nação em melhor posição do que a maioria”, relata o ‘Times’.

Da Redação, com informações do UOL e agências de notíciasBOLSONARO SABOTADORCORONAVÍRUS

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