Por Simão Zygband: O inimigo nada de braçada

(foto: EVARISTO SA / AFP)

Recentemente fui convidado para dar uma entrevista para o radialista Carlos Silvio, da Paiaiá na Conectados, um programa de Youtube que nasceu na localidade de mesmo nome pertencente à cidade de Nova Soure, na Bahia. Fiquei muito  lisonjeado com o convite, mas perguntei ao meu entrevistador como ele tinha chegado até mim, como ele ficou sabendo que eu era profissional de Comunicação para poder falar sobre jornalismo para o seu programa.

Ele me disse que fui indicado pelo jornalista Assis Ângelo, a quem tem ajudado no realização de um blog, uma vez que ele foi acometido por um problema que o deixou com dificuldade de visão e com certas limitações que a doença lhe proporcionou no últimos anos, mas insuficientes para que parasse de produzir textos e jornalismo. O Carlos Silvio, conforme me explicou, lhe dá um suporte.

Apesar de conhecer o Assis Ângelo há muitos anos e admirar muito o seu trabalho (ele é um dos principais pesquisadores da obra do poeta popular cearense Patativa do Assaré), com programas sobre a cultura nordestina nas rádios paulistas, não somos próximos. Portanto, tudo isso aguçou ainda mais a minha curiosidade de entender por que ele havia me procurado. Até que ele me mostrou um lindo texto do Assis Ângelo que reproduzi no Construir Resistência, que falava sobre o cronista Lourenço Diaféria.

Aí me caiu a ficha. Através do Construir Resistência, um veículo que criei há cerca de um ano para exatamente aglutinar as forças democráticas para enfrentar o fascismo (e que atingiu a incrível marca de 650 mil visualizações), consegui finalmente chegar ao Paiaiá, local que se orgulha de ter uma das maiores bibliotecas públicas do país. Confesso que já havia ouvido falar de Nova Soure, pois uma moça que trabalhou aqui em casa, a Linéia (Néia), é nascida neste município baiano. São as coincidências da vida.

O programa vai ao ar na próxima sexta-feira (29), às 20h30, no Youtube da Paiaiá Conectados. Todos estão convidados a assistir. Utilizei este exemplo para mostrar a força que possuem as redes sociais nos dias de hoje. Elas não podem ser desprezadas e terão peso extraordinário na campanha eleitoral de 2022.

Além dos instrumentos convencionais de propaganda política de rádio e TV, além do material impresso (jornais e santinhos), as redes sociais se tornaram um fenômeno na política mundial. Há quem diga que o ex-presidente Barak Obama derrotou a sua oponente Hilary Klinton nas prévias do Partido Democrata com uso acertado das novas mídias, assim como Donald Trump se tornou presidente dos EUA usando estas ferramentas digitais.

Estes dias fiz uma matéria para o Construir Resistência com o título “Bilionário compra Twitter para tentar derrotar Lula”. Claro que forcei a mão no título, para torná-lo mais “acessível”. Evidente que Elon Musk não comprou a ferramenta digital para (apenas) derrotar Lula, mas para ampliar o seu poder nas redes sociais, interferindo naquilo que ele julgar necessário com o seu novo “brinquedinho”. Entra no seu Twitter apenas quem ele quiser, já que é o dono da bola.

Lógico que muitos ridicularizaram a minha matéria, dizendo que eu tinha “viajado na maionese”, mas posso afirmar que não errei muito ao fazer aquele texto. Elon Musk (um apoiador de Donald Trump), de fato, havia se encontrado com o ministro das Comunicações do (des)governo Bolsonaro, Fábio Faria, o genro do dono do SBT, Silvio Santos, e poucos sabem o que foi discutido nesta reunião. Com certeza, não será a transmissão de desenhos animados do Coelho Pernalonga.

 

Fábio Faria e Elon Musk

Veja como não estava “viajando”, como disse um respeitado colega de profissão no meu facebook. Li uma sugestiva reportagem do site Congresso em Foco, divulgada pela UOL, que “Bolsonaro ganha 65 mil “bots” em dois dias no Twitter”, um dia após o anúncio da venda da plataforma para o bilionário Elon Musk. Reproduzo abaixo parte do referido texto:

“Um dia após o anúncio da venda do Twitter para o bilionário Elon Musk, ardoroso defensor da liberdade de expressão e de menos moderação nas redes sociais, perfis da extrema-direita nos Estados e no Brasil,  tiveram um aumento súbito de novos seguidores cujos perfis têm características de bots, os famosos robôs. A denúncia é do fundador do site Bot Sentinel, plataforma criada por Christopher Bouzy para combater a desinformação, que analisou contas de políticos americanos e do presidente Jair Bolsonaro.

De acordo com Bouzy, Bolsonaro ganhou 65 mil novos seguidores desde a segunda-feira (25). Desses perfis, 61,299 foram criados desde a segunda-feira (25). A mesma movimentação foi percebida em contas de Twitter dos filhos e de políticos aliados de Bolsonaro. A deputada federal Bia Kicis ganhou, subitamente, no período de 25 a 26 de abril, 21.886 seguidores; Carla Zambelli e Carlos Bolsonaro, 25.899 cada. Helio Lopes, 10.465, Flávio Bolsonaro, 16.884.

“Isso comprova que esse grupo mais radical gosta de trabalhar com fake news e não querem qualquer tipo de situação que controle as mentiras”, comentou o deputado Aliel Machado (PV-PR), presidente da Comissão de Ciência e tecnologia da Câmara dos Deputados”.

Resumo da ópera. Hoje é necessário construir estrutura de redes sociais para enfrentar o bolsonarismo, que não conseguirá convencer o povo que faz um bom governo, a não ser criando este exército de robôs que atacarão seu principal oponente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Bolsonaro faz um governo desastroso sob todos os sentidos, mas tentará inicialmente reverter a vantagem de seu adversário com estes fundamentais instrumentos, que requerem muito dinheiro, tecnologia e conteúdo.

Lula também deve chegar ao sertão e a todos os pontos de país, do Oiapoque ao Chuí, construindo uma rede própria de mídia virtual. E já está atrasado neste fundamento. Não se faz mais campanha apenas com os programas de rádio e TV, jornais, outdoors, os velhos carros de som e videozinhos esporádicos na internet mostrando a adesão de artistas à sua candidatura ou o povo cantando “Olê, Olê, Olê, Olá, Lula, Lá no Sambódromo e nos desfiles de blocos do Carnaval.

É necessário falar a linguagem universal das redes sociais, que estão acessíveis a todos os cidadãos. A esquerda precisa dominar este fundamento, onde o inimigo nada de braçada.

Simão Zygband

Simão Zygband é jornalista com passagem pelas TVs, jornais, rádios e assessorias de imprensa parlamentar e de administrações públicas. Foi coordenador de Comunicação no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Em fevereiro de 2020, lançou o livro “Queimadas da Amazônia – uma aventura na selva”. É conselheiro titular do Plano Municipal do Livro, Literatura, Leitura e Bibliotecas de São Paulo (PMLLLB)

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