Em tempos de pandemia e isolamento social, a busca por bons conteúdos de formação política na Internet tem sido contínua. Para aqueles que desejarem se informar um pouco mais sobre a história do PT (em se tratando da organização da classe trabalhadora no Brasil, a mais rica e bela história de todas), venho humildemente dar minha contribuição com a divulgação da pesquisa que venho fazendo em nível de mestrado pelo programa de História Social da USP. Trata-se de 24 entrevistas de História Oral com fundadores do partido, militantes dos mais diferentes segmentos sociais e tendências, disponibilizadas no canal do Núcleo de Base do qual faço parte, acessível através do link: https://www.youtube.com/channel/UCJU_g2dEGZx8gGxutWaxncQ
Por razões meramente didáticas (o PT se constituiu de maneira bem mais complexa do que isso), podemos dividir e agrupar essas entrevistas em categorias, de acordo com o grupo social de militância que @ entrevistad@ pertencia. E a primeira dessas categorias (antes mesmo que a dos sindicalistas) foi a dos estudantes. Após quase uma década de sufocamento das mobilizações e das organizações sociais devido ao AI5 (conseguido através de censura, tortura e assassinatos em série), 1977 foi o ano da retomada das ruas, onde mobilizações estudantis exigindo “liberdades democráticas” romperam o silêncio em São Paulo e se estenderam por todo o país.
Aluno de Ciências Sociais da USP, o hoje dirigente sindical Júlio Turra foi uma das lideranças estudantis do período que tive a grande satisfação de entrevistar. Além dele, no grupo “estudantes” (se destacando entre o final dos anos 70 e início dos 80) igual satisfação tive com o então aluno e pesquisador da FAU Nabil Bonduqui, o também aluno da FAU Lício Lobo, a estudante de Direito Ana Maria e o aluno de Física (e hoje funcionário do DM) Roberto Carlos, todos da USP. De Porto Alegre, que depois foi fazer mestrado no Rio, tive a honra de entrevistar o Joaquim Soriano.
No grupo Sindicalistas, onde o “PT raiz” mais se consolidou a partir no “Novo Sindicalismo” e das grandes greves de 78 a 80, tive a satisfação de entrevistar os dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Osvaldo Bargas (grupo do 16 da greve de 1980) e o José Arcanjo (o Zé Preto). Entre os metalúrgicos de Santo André (berço da famosa tese de formação do PT, que será aprovada na em um Congresso na cidade de Lins), entrevistei Isaías Urbano (que esteve preso com Lula em 1980) e o futuro prefeito da cidade, João Avamileno. Da oposição metalúrgica de São Paulo entrevistei o Cloves de Castro (que também foi da ALN) e o Tião Mário (hoje, presidente do DZ de Santo Amaro). E também tive a enorme satisfação de entrevistar o então presidente dos coureiros Paulo Skromov, um dos personagens mais importantes da história do PT.
Provenientes da luta armada, também tive a grande honra de entrevistar Aton Fon Filho (ex-ALN, que passou quase uma década em cana) e dois dos maiores ícones da história do partido: José Genoíno e José Dirceu (este último, a única entrevista que não se encontra disponível no site). Dos movimentos sociais, os entrevistados são Tereza Lajolo (Clube de Mães da Brasilândia, vereadora eleita na primeira bancada em 1982), Agenor (liderança popular de Itaquera) e Vilson de Oliveira (Itaim Paulista, zona leste). E, por último, provenientes das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica, entrevistei o ex-deputado Simão Pedro, Francisco Carvalho (de Osasco,e hoje, DZ Pirituba) e o atual dirigente do PCO Antônio Carlos, então fundador da corrente “Causa Operária” em Petrópolis/RJ.
E para homenagear o DZ Centro, o qual faço parte, guardo para o final as duas últimas entrevistas, de militantes que tanto fizeram por esse diretório nesses 40 anos de história: a do professor e sociólogo Sílvio Zanin e a da liderança da corrente Novo Rumo Wellington do Vale.
24 entrevistas, cerca de 40 horas gravadas, 40 anos de história… E há muito mais por vir, tão logo passe essa pandemia. Aguardem!
Maurílio Araújo é Historiador e Membro da Direção do DZ Centro.