Por Chagas: Como salvar vidas na pandemia

O Brasil e o mundo se encontram em caos devido à Covid-19. Precisamos de saídas urgentes para enfrentar essa pandemia e poupar vidas.
Muito tenho refletido e li um artigo publicado em 20 de maio no Estadão, assinado por Dr. Gonçalo Vecina, médico sanitarista, professor da USP, fundador da ANVISA, ex-secretário municipal de saúde e uma figura importante quando se trata de pensar na saúde sanitária. Ele afirma que para acabar com uma pandemia temos 3 saídas:
1 – Fazer com que o vírus pare de circular, um lockdown – ninguém circula por pelo menos 14 dias
2 – Uma vacina eficaz e segura
3 – Alcançar a imunidade de rebanho ou natural. Significa que 70% da população tenha a doença, e, a partir daí, formem anticorpos, constituindo uma barreira de imunidade para o restante da população.
O governo brasileiro rejeitou a primeira saída, o lockdown, e a vacina só deve ficar pronta em meados de 2021.
É na terceira saída que o governo do “pandemônico” Bolsonaro tem apostado claramente. O Bruno Covas e o Doria fazem de conta que existe uma “quarentena”, tomando medidas que, na prática,não aumentam o isolamento social. Dessa forma, também caminham nesse sentido.
Sendo assim, hoje a saída colocada é a da imunidade de rebanho. Então vamos refletir sobre ela:
No Brasil, com uma população de 210 milhões, isso significaria que 147 milhões de pessoas teriam a doença, parte morreria e outra parte se curaria, desenvolvendo imunidade, porém possivelmente temporária. O motivo é simples: Não se sabe se com esse vírus o corpo cria uma imunidade permanente – como a caxumba – ou temporária.
“Para que 147 milhões de brasileiros tenham a doença, cerca de 15% serão internados em hospitais e 5% em UTI. No total seriam 29,4 milhões/ano. O SUS interna algo de 20 milhões/ano. O impacto de mais uma vez e meia seria insuportável para o sistema de saúde.” (segundo próprio Dr. Vecina)
E sem falar das mortes! A letalidade mais baixa já estimada é de 0,36%, o que significaria 529 mil mortos, um pouco mais do que uma Florianópolis inteira. Os estudos preliminares da Espanha mostram um índice de mortalidade de 1,1%, o que seria 1,5 milhão de mortos no Brasil: Florianópolis, Cuiabá e Macapá juntas.
Se projetarmos essa letalidade para a cidade de São Paulo, no caso dos 0,36% teríamos 30 mil mortos – o bairro do Brás inteiro. Na hipótese de 1,1%, teríamos 92 mil mortos – a população do Brás e da Lapa juntas.
Estamos dispostos a isso? Teremos cemitérios suficientes?
O custo social é muito alto.
Apesar do caos que assistimos na Espanha, essa “imunização natural” não se mostrou promissora nos estudos preliminares. A imunização só ocorreu entre 5% a 15% da população. Não foi possível imunizar o necessário – 70% – para se criar uma barreira imunológica. Essa imunidade natural ou de rebanho não está acontecendo.
Esse estudo ainda mostra que 1/3 dos que possuem anticorpos não tiveram sintomas – são assintomáticos. Fica ainda mais assustador quando se constata que 50% só apresentaram dois sintomas, daí a dificuldade de identificar e isolar essas pessoas para quebrar a cadeia de transmissão.
Voltando à questão da letalidade, ela pode ainda ser maior se levarmos em conta o colapso do sistema de saúde, ou seja: Hospitais sem condições de tratar destes doentes, com a falta de leitos comuns e da UTI, falta de oxigênio e, é claro, a falta de respiradores. Pessoas que poderiam se recuperar vão morrer, elevando – e muito – o número de óbitos. Sem falar daqueles que adoecerão por outros motivos e não terão condições para tratamento.
Ainda dá tempo do Brasil e de São Paulo tomarem atitudes urgentes para acabar com esse caos, digo, minimizar. Porque já ultrapassamos os 20 mil mortos no Brasil e as autoridades admitem que cerca de 11 mil óbitos suspeitos não foram checados e nem serão, o que provavelmente elevará para cerca de 30 mil mortos por Covid-19.
O que fazer diante desse cenário?
Uma medida importante segundo Vecina, é: Fila única nos leitos dos hospitais – integrando o SUS com o sistema privado. Ele afirma que o sistema privado já deveria ter oferecido de forma espontânea seus leitos, mas existem grupos resistindo, pois para eles esses leitos são daqueles que pagam. Como ele mesmo disse: “Isso tudo aflora num momento como esse. Mas não há razão para surpresas. É assim que a sociedade trata os frágeis, esperando que eles se escafedam”.
Já temos pelo menos seis hospitais municipais com suas UTIs totalmente lotadas. O que mais o Estado está esperando? Há de tomar providências imediatas, como o dever de impor ao setor privado as medidas necessárias para salvar vidas: requisitar os leitos e estabelecer a fila única para todos os hospitais. Porque esse é o seu papel.
Outra medida urgente é decretar o Lockdown e dar condições reais da população ficar em casa. Engraçado que nesse caso o presidente Bolsonaro não queira imitar os EUA que está oferecendo aos seus cidadãos uma renda de 1.200 dólares mensais, mais 500 dólares por criança, para quem teve renda anual de até 75 mil dólares.
A Renda Básica de Cidadania, proposta há anos pelo ex-senador Suplicy, e agora adotada por Jilmar Tatto, pré-candidato do PT à prefeitura de São Paulo, deve ser implementada imediatamente.
Para salvar vidas, Bolsonaro/Dória/Covas devem esquecer o papo de Estado mínimo e abrir os cofres públicos para ajudar milhões de pessoas que estão ameaçadas de morte.

Francisco Chagas – Cientista Social, Ex-Vereador de São Paulo SP e Ex-Dep. Federal.

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