A expressão “O crime não compensa” é no meu ponto de vista, a que melhor define o acolhimento da denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os acontecimentos que culminaram no levante antidemocrático de 8 de Janeiro de 2023.
A extrema-direita, identificada neste período histórico mais recente com Bolsonaro entrou em um caminho sem volta quando, em pleno século XXI, buscou insuflar na população brasileira, desde 2018, uma autêntica aversão ao Estado Democrático de Direito e, assim, pretender que a própria sociedade civil anuisse à instauração de um regime autoritário, sangrento, com teor fascista e cujo objetivo também consistia em liquidar especificamente o Partido dos Trabalhadores e, em geral, toda a esquerda autóctone, do cenário político brasileiro.
E a fim de fazer vingar esta trama golpista contra o pluralismo democrático e, portanto, contra um aspecto crucial da própria ordem democrática vigente, Bolsonaro se constituiu, então, como chefe político de toda uma organização criminosa armada que, sobretudo, por meio da violência visava consolidar seu propósito mesquinho de prolongar-se indefinidamente no poder.
Neste sentido, os atos criminosos de depredação da sede dos Três Poderes ( Congresso, Judiciário e Palácio do Planalto) foi o ponto de chegada de um movimento que teve início na tentativa de desacreditar o sistema eleitoral brasileiro, que faz uso confiável de urnas eletrônicas.
Desta forma, Bolsonaro, que havia saído vitorioso do escrutínio de 2018 e não podendo,assim, negar de todo o sistema de votação eletrônica, uma vez que, isto deslegitimaria sua própria condição de vencedor passou, então, a infernizar a República, sob a alegação escabrosa de que, em 2022, não havia derrotado Lula no 1° turno devido à fraude eleitoral.
Com isso, Bolsonaro, auxiliado por um exército de milícias digitais, uma indústria sólida de produção de fake news e um sistema competente de disseminação de desinformação procurou inspirar nos cidadãos, o sentimento de revolta contra o Estado Democrático de Direito, onde o pressuposto da alternância de poder é uma de suas mais excelsas virtudes.
Pari passu, Bolsonaro prestava reverência a torturadores ( Carlos Alberto Brilhante Ustra), declarava apoio à ditadura de 1964, incitava o armamento da população e atritava na relação com os demais poderes da União, na esperança de que a população o apoiasse na aventura autoritária que estava empenhado.
E embora não se duvide que pessoas de bem, sinceros patriotas e religiosos diligentes foram manipulados pela índole pervertida dos mentores do golpe, que agindo de má-fé subverteram os preceitos genuínos do dever cívico, assim como desfiguraram as premissas autênticas da devoção, o fato é que, quem consentiu em munir-se de arma branca, porrete, bolas de gude, estilingues e até barras de ferro para protagonizar o 8 de Janeiro torna evidente que deliberou armar-se conscientemente e bem intencionado não estava, ao decidir assim portar objetos para um combate assumiu os riscos,inclusive,de submeter-se a punição amparada na lei.
Daí porque, não há motivo para prosperar nenhuma manobra pró-anistia, pois, um perdão equivaleria a validar os atentados do 8 de Janeiro abrindo um precedente perigoso de uma nova janela de oportunidades para práticas criminosas, que se reiteradas recolocaria em risco as instituições democráticas ( ainda que se esteja falando de uma democracia burguesa e, por isso, necessariamente limitada, o que não significa que deva ser extinta para a substituição de um regime burguês autoritário de extrema-direita).
Por isso, o rigor da lei deve servir como advertência objetivando, por consequinte, coibir novas insurgências autoritárias, a fim de afirmar categoricamente, que o crime não compensa.
O crime não compensa deve ser assimilado não apenas pelos braços operacionais do golpe, ou seja, de empresários às donas de casa, que participaram diretamente e, inclusive, indiretamente, da revolta antidemocrática, mas o crime não compensa também deve ser assimilado por Bolsonaro e cada membro.da organização criminosa armada, à cupula golpista, que se articulava para exterminar fisicamente seus adversários políticos.
Todo o tumulto.Toda a balbúrdia.Todo o ódio pregado.Toda depredação praticada.Toda mentira difundida. Todo medo estimulado.Toda violência consumada.
Tudo isso será reduzido a nada quando a espada da Justiça pesar sobre a cabeça de cada réu e este tiver que pagar pelas injustiças que fomentou e pelos crimes que executou.
A Justiça será feita no seu devido tempo.E Bolsonaro também será promovido – creio – de réu a presidiário para da vitrine de seus crimes servir de exemplo àqueles que ainda sonham com novas rebeliões antidemocráticas e resistem em compreender que o crime não compensa.
O crime não compensa e isto, sobretudo Bolsonaro, não irá esquecer.
Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro