Ao publicar nas redes sociais uma mensagem contendo o nome de Bolsonaro fui advertido várias vezes e por diversas pessoas, provavelmente militantes, que este nome não deveria ser pronunciado,pois,ao fazê-lo, isto resultaria em propaganda favorável a Bolsonaro.
Além de comentários jocosos referindo-se a beleza da grafia que contribuia para fixar este nome detestável no inconsciente do leitor e de figurinhas satirizando minha postagem, em seguida,como embasamento da crítica encetada sempre se publicava uma matéria, de onde derivava – eu supunha – a provável teoria aludida, a qual em determinado momento decidi não mais desdenhar e enfim, li com carinho, a fim de, então, aprender algo sobre a eficácia da estratégia de marketing, por mim, ignorada.
Ao fim da leitura da entrevista concedida pela popstar que recomenda,inclusive, mencionar o nome de Bolsonaro o menos possível e até mesmo não pronunciá-lo, decidi escrever este texto como um alerta para que as pessoas reflitam que uma coisa é ser censurado por alguém e não tendo meios outros ter que sujeitar-se é uma coisa, outra coisa bem diversa é censurar a si mesmo buscando razões para justificar um medo irracional, muitas vezes de recorte mágico, e que fundado em pretextos ilusórios apenas servem para legitimar um desejo,talvez, até secreto de rendição plena, diante daquele que inspira medo.
Em primeiro lugar pergunto: Qual o motivo que se teria para citar o menos possível ou nem mencionar o nome de Bolsonaro ?, ciente por exemplo, não só dos crimes de (ir)responsabilidade no caso da aquisição – muito postergada – das vacinas e que produziu até aqui mais de 662 mil vítimas pela Covid-19. Ou então, como não mencionar explicitamente o nome de Bolsonaro? e deixar de denunciar a céu aberto e não de forma velada, a incitação feita por Bolsonaro a crimes de homofobia, sexismo,machismo,racismo, crimes ambientais, de genocídio, apologia a tortura cometidos pelo regime militar que,ele, Bolsonaro, defende.
Por que apagar diretamente o nome de Bolsonaro vinculado a todo este horror social? e adotar a suposta eficácia da sutileza da referência indireta, quando ainda há os meios democráticos para que se possa expor a verdade de forma nua e crua, a realidade tal como ela é.
Ora, não há motivos para referir-se ao nome de Bolsonaro o menos possível e muito menos deixar de referir-se a ele, a menos que trate-se de uma autocensura imposta por medo, conveniência, covardia ou resignação.
Daí porque, é preciso ficar bem claro: Não aceitem proibir-se de dizer que Bolsonaro é o responsável pelo aumento do preço do arroz, do feijão, do preço exorbitante dos combustíveis, do gás de cozinha e de todo o retrocesso no campo dos direitos humanos que próspera hoje no Brasil e que, por isso, ele, Bolsonaro, deve,sim, deixar a presidência.
Posso até consentir que: além de uma crítica mais contundente, severa, se encontre também sem eliminar este recurso de fibra vulcânica, formas mais amenas, primaveris, descoladas, de dizer a verdade.
Isto,sim,é estratégia.Fazer o uso de diversas “armas” de argumentações utilizando formas variadas de estilo, o que não tem absolutamente nada haver, em interditar a menção explícita ao alvo principal que é Bolsonaro e o modelo ultraneoliberal de feição fascista defendido por ele e seu grupo político.
Dizer ou criar memes que ilustrem, por exemplo, que será mostrado a Bolsonaro que nossa arma é a arma mais poderosa: o voto, é algo capaz de dialogar por exemplo, para além da bolha do campo da esquerda e mesmo adentrar o círculo de bolsonaristas por adotar no uso da linguagem um dos elementos do campo simbólico de referência, a que seus membros estão atrelados ressignificando,porém,a ideia da arma, o que pode com outras associações assim concebidas e em conjunto,então, em dado momento, implodir o universo de referências no qual estão cativos os apoiadores de Bolsonaro, sem, no entanto, impactar negativamente, as noções comprometidas com a defesa de uma perspectiva democrática para o Brasil.E esta técnica eficaz não exige ocultar o nome de Bolsonaro em apelo a uma pretendida ilusão de marketing de que é melhor negligenciar o nome de Bolsonaro.
Em segundo lugar, a ideia anterior de referir-se a Bolsonaro primeiro como o inominável, o coiso, ou ele e,agora, para alguns na pretensa teoria da popstar, valida-se a autocensura defendida em dizer o menos possível ou radicalizar até em silenciar o nome de Bolsonaro culmina, então, de etapa em etapa, tal percurso absurdo, na estranha evolução para subscrever, enfim, a adesão a um componente místico-autoritário em detrimento do fazer político como ciência libertadora.
A própria popstar refere ao personagem Voldemort, de Harry Potter.No entanto, é preciso considerar que no Brasil e no mundo, a luta não é entre bruxos bons e maus, mas a luta de classes se exprime,atualmente,entre forças antagônicas de esquerda e progressistas versus forças de extrema-direita e ultraneoliberais neofascistas.Aqui, vê-se cientificamente, o desenrolar de mais um capítulo do Manifesto Comunista, de Marx e Engles e não mais um episódio das páginas de Joanne Kathleen Rowling, autora de Harry Potter, que é o universo simbólico de referência da cantora, a julgar por suas declarações, quanto a suposta eficácia de marketing ao não se mencionar o nome de Bolsonaro.
No entanto, ainda que restrito as referências mágicas da cantora é preciso esclarecer que Voldemort é denominado como “Você-Sabe-Quem” ou “Aquele-Cujo-Nome-Não-Deve-Ser-Pronunciado” ou “Aquele-Que-Não -Deve-Ser-Nomeado” e isto porque, por ser o bruxo das trevas mais poderoso é temido pelo povo mágico, que evita pronunciar seu nome.
Daí porque quando a popstar diz “Se tiver que falar sobre a pessoa por algum motivo extra extra essencial eu chamo de Voldemort (aquele que não se deve pronunciar o nome).Isso te afasta energicamente da pessoa(risos)”
E,de fato, é risível a contradição lógica aqui exposta.Isto porque, ao buscar afastar a energia de Bolsonaro sobre si, a popstar evitando designar o nome Bolsonaro, o nomeia de Voldemort.
Com isso, a popstar designa pelo nome de Voldemort que significa aquele que não se deve pronunciar o nome para referir-se ao nome daquele que não deve ser pronunciado(Bolsonaro).
Isto que é uma contradição lógica eficaz ! Porque é evidente que não tem eficácia lógica nenhuma no que se propõe.
Designar algo que não deve ser pronunciado pelo que não deve ser dito é pura tautologia; é como se dissesse algo como o círculo é redondo ou se propusesse não designar como redondo o que deve ser nomeado como círculo.É preciso muito pensamento mágico para compreender isto, eu não compreendo nada.
Além disso, ainda é preciso considerar que Voldemort é tido como o bruxo das trevas mais poderoso, daí ao referir-se a Bolsonaro como àquele, a popstar das duas uma: ou considera Voldemort um fraco tal qual Bolsonaro no fundo é, o que, então, contrariaria o enredo da história de Joane Kathleen Rowling ou supervaloriza as forças de Bolsonaro por considerar este tal qual Voldemort.
E para a cantora, talvez, seja esta segunda opção, o que justificaria,agora, no Brasil, as sugestões dela para que haja menções indiretas, sutis ou que sequer mencione o nome de Bolsonaro, ao invés de referir-se diretamente a ele; mudança de comportamento, aliás, que coincide com a decisão autoritária do TSE, para que artistas pagassem multa ao manifestarem-se politicamente no Festival Lollapalooza, o que, então, é provável que tenha feito a popstar supor, que Bolsonaro seja detentor de um poder maior do que, de fato, possui.
Antes, de ver-se constrangida a pagar a multa a popstar assim se exprimiu “Não existe isso de proibir um artista de expressar publicamente a infelicidade dele perante o governo.Entendo a questão de fazer campanha política para candidato.Acho que cada um vota em quem quer, porém proibir a gente de expressar nossa insatisfação com o governo atual é censura. Isso é 1900 e bolinha, que o povo não podia fazer nada. A gente não quer voltar para estaca zero, não. Pelo amor de Deus, tá? E vou lutar com todas as minhas armas”
Por último; por isso, a mudança de conduta com a justificativa de eficácia de marketing no que se refere a não mencionar o nome de Bolsonaro é frágil diante do evidente peso da real motivação: econômica,que produziu a mudança de conduta e discurso.
O que, por sua vez, também ficou evidente nas contradições flagradas diante do pensamento mágico evocado para pretensamente sustentar a retórica da eficácia.
Diante do exposto, ao desconstruir,aqui, o mito desta eficácia de marketing no que se refere a apagar o nome de Bolsonaro das denúncias dos crimes que cometeu e comete, bem como ao desnudar as verdadeiras motivações por detrás desta aparência de marketing inovador e descolado, entende-se ser fundamental ligar a insatisfação das pessoas ao governo e nome de Bolsonaro valendo-se para tanto: não apenas da crítica ora contundente, ora suave e descolada (mas,ainda assim crítica) a sua gestão destruidora e genocida, mas também apontando com propostas viáveis para a superação de todo atraso e horror social perpetrado por Bolsonaro e seu governo.
Por isso, não se pode, por um minuto que seja, antes e depois das eleições, omitir o nome daquele que representa o descaminho em que o Brasil enveredou.
E é por isso, que é proibido proibir-se deixar de dizer o nome de Bolsonaro.É proibido autocensurar-se em nome de qualquer justificativa de eficiência de mercado que não terá, necessariamente, a correspondente eficácia social.É proibido deixar-se de dizer a verdade custe o que custar.
Bolsonaro representa o racismo, o sexismo, o machismo, os crimes ambientais, o genocídio, o gosto pela tortura, o retrocesso em termos de direitos humanos e o recuo no processo civilizatório.Isto não o torna maior ou o deixa mais forte ou menos forte do que realmente é.
Apenas o coloca no seu devido lugar, que é o lugar de tudo aquilo que sempre lutamos para ver superado, ver verdadeiramente na lata de lixo e no museu da história, e é o sentido último pelo qual bradamos e lutamos por amor, por amor ao Brasil, claro que não no sentido mágico que para alguns porventura possa ter, mas no sentido estritamente político que tem para todos, que é a ideia justa de vencer o pensamento elitista, escravocrata, autoritário e conservador, daquela fração de indivíduos que – como Bolsonaro – se supõe serem seres superiores aos demais, os quais também queremos que ouçam em alto e bom tom:
Fora, Bolsonaro !!!
Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro