Digo como se fosse porque: entre nutrir o sentimento ilegítimo de ser o proprietário do planeta e sê-lo efetivamente, há uma grande distância; sobretudo, porque isto pressupõe que Trump quer negar o contexto histórico configurado pós Guerra Fria, em que a geopolítica mundial, ao invés de estar submetida a biloparidade: EUA X URSS é, desde então, ditada por múltiplos polos de poder e, portanto, a Nova Ordem Mundial instituída é, necessariamente, multipolar, o que implica que além dos EUA, Rússia, China, Inglaterra, Japão, Alemanha e França exercitam o domínio econômico, político e militar do planeta.
Desta forma, em uma ordem multipolar multiplica-se a possibilidade de desentendimentos e conflitos que podem se generalizar e arrastar o mundo para um confronto armado entre esses países, que procuram manter e, é claro, também ampliar – cada um à sua maneira – a esfera de influência que possuem.
A conduta da política externa, ora adotada pelo governo dos EUA sob o comando de Donald Trump, não deixa dúvidas de que se almeja ampliar a esfera de influência norte-americana por meio da hegemonia e expansionismo sem simular, aliás, a perspectiva de que um embate bélico entre os diferentes polos de poder não só é provável, mas até mesmo inevitável.
E não é por outro motivo, que Trump busca tensionar as relações internacionais, já bastante tensas, por exemplo, na Faixa de Gaza, motivo pelo qual, então, fico habilitado a perguntar: qual o propósito de Donald Trump, em exigir que os palestinos sejam realocados (leia-se: abandonem) o território onde vivem ?, senão o de sinalizar a disposição à guerra,sobretudo, porque grupos de libertação como o Hamas( alcunhado indevidamente de terroristas pela imprensa subserviente aos interesses americanos), bem como inúmeros países da região – sabe-se – não irão aceitar esta determinação absurda do governo estadunidense.
O que Donald Trump propõe,na verdade, é uma limpeza étnica de 2,5 milhões de palestinos; e além de desconsiderar a resistência de 2 séculos deste povo, que procura reaver sua pátria desde o ocupação britânica, Trump ainda abre perigoso precedente para a reprodução por outros países de condutas higienistas como esta e, consequentemente, alimenta novos cenários de guerra.
Mas, o autoritarismo de Donald Trump também fica evidenciado com a declaração tanto de querer anexar a Groelândia, quanto em querer retirar das autoridades do Panamá o controle administrativo de seu canal,aliás,estratégico,pois, consiste em via de acesso entre o Oceanos: Atlântico e Pacífico.
Com isso, Trump quer fazer o trampolim para o inferno; pretende inflamar os ânimos das nações até que isto suscite uma resposta ostensiva de algum dos polos de poder visando frear os ímpetos do governo americano e, assim, Trump espera obter o pretexto para dar início a um conflito bélico e desta maneira fomentar a prosperidade da indústria de armamentos mediante o protagonismo americano no teatro de operações militares.
Já no conflito UcrâniaXRússia, o presidente norte-americano busca impor o cessar-fogo, não em respeito às vidas que se foram e que continuam sendo consumidas pela guerra, mas exclusivamente porque pretende dar demonstrações de força e tornar explícito que ao intervir sua vontade será cumprida.
Mas, a suposta boa vontade de Trump para a resolução do confronto armado no leste europeu, destoa da indisfarçável má vontade para solucionar o conflito bélico no Oriente Médio. O que por si só demonstra o uso de dois pesos e duas medidas e o que serve para o embate entre Ucrânia e Rússia, não serve para o combate entre o governo de Israel e palestinos.
No leste europeu Trump quer transmitir a ideia de que sua autoridade deve pesar para por termo ao conflito; porém, no Oriente Médio Trump quer transmitir a ideia de que o autoritarismo que exibe é necessário e irá ser decisivo para viabilizar aos palestinos a oportunidade de viverem em locais mais bonitos e não em cenários de guerra e ruínas.
Não há dúvida de que os territórios destruídos carecem de beleza da mesma forma que não é bela a atitude política de Trump em agir por mera conveniência.
Como é feia, monstruosa e apavorante a lógica perversa de Donald Trump, esta estética a serviço do mal e que apenas na aparência demonstra alguma preocupação com o ser humano.
Na verdade, para Trump, as pessoas são descartáveis. E não importa sua pátria(que horror!), o que,realmente, importa são as oportunidades que a geopolítica mundial propicia para buscar dar demonstrações de poder pessoal, projetar a liderança unipolar norte-americana no globo e fomentar os lucros da indústria de armamentos com a criação de novos conflitos militares.
Donald Trump, que é autoritário; de extrema-direita é também um homem que não ri. E isto é risível, porque o mundo poderia ser muito mais leve, bonito e melhor para se viver, se não fosse a presença destas pessoas cinzas, frias, insensíveis e sisudas que submetem as suas vidas e a dos outros ao cálculo gélido do lucro e a máscara horripilante do poder pelo poder.
Além de não sorrir Donald Trump tem o estranho hábito de franzir as sobrancelhas e cerrar os olhos, ao mesmo tempo em que, projeta os lábios para a frente compondo, com isso, o quadro aterrador de um autoritário, que busca pela própria expressão corporal impor a aura de respeitabilidade evocada por sua sinistra sisudez.
E é esse mesmo mundo interior lúgubre e feio encenado pelos autoritários ( digo encenado porque entre si não faltam risos pela prosperidade de seus negócios), que buscam ver, os autoritários, refletido no planeta o luto eterno feito à imagem e semelhança de seu mundo interior.
Um mundo sombrio, de luto permanente, feio ao extremo, feito de extermínio e guerras fabricadas, de mortes milimetricamente calculadas, de extrema desesperanca, sonhos arruinados e vidas destruídas.
Contra Donald Trump e as balas de canhão ou
mísseis de destruição em massa sempre haverá, porém, a beleza do amor, o sorriso das flores, o poder da delicadeza, a gentileza como força superior, o aconchego soberano da luta pela paz e a união invencível dos povos contra a indústria armamentista, a fim de que se possa,assim, construir um mundo verdadeiramente humano para que sempre desabroche o riso como potente celebração da vida.
Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro
*Este artigo é de responsabilidade do autor