Com maior taxa de juro real em 7 anos, país corre risco de entrar em recessão

Aniquilando as chances de crescimento do país, o Banco Central (BC) mantém a taxa Selic em 13,75%. Com isso, a taxa de juros real, descontada a inflação, será de 7,8% no primeiro trimestre, o maior índice desde o terceiro trimestre de 2015, de acordo com a própria instituição. Segundo noticiou a imprensa no final de semana, os dados constam de uma carta enviada no mês de janeiro pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Mantida a taxa de juro real mais alta do planeta, confirma-se também um cenário de desaceleração econômica que pode levar o Brasil a uma recessão. Daí a pressa do presidente Lula em reduzir os juros para que o Brasil volte a gerar renda e empregos. Um quadro de desaceleração e uma crise de crédito podem inclusive gerar uma reação sistêmica, com capacidade para paralisar o país, advertem economistas.

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O documento do Banco Central informa que a autoridade monetária projeta uma trajetória de queda para os juros reais até o final do ano. Segundo a expectativa do BC, a taxa deve cair a partir do 2º trimestre e atingir 6,9% até dezembro. O movimento poderá chegar com atraso e minar de vez as chances de recuperação da economia brasileira, com o agravamento da crise de crédito, como reconhece a própria ala técnica do BC.

“O endividamento e o comprometimento de renda das famílias têm aumentado, aponta um documento do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), emitido no final do ano passado. “No caso das pessoas jurídicas, observa-se o aumento dos ativos problemáticos nas empresas de menor porte. Assim, uma frustração substancial do desempenho da atividade econômica pode resultar em elevação do risco de crédito”, alertou o Comef.

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Na semana passada, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) também emitiu um alerta: “Nossa projeção de crescimento do PIB em 2023 se mantém em 0,2%. Esse cenário resulta de desaceleração que começou no terceiro trimestre de 2022”, destacou o Boletim Macro, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Economia, o FGV Ibre.

Crise de crédito

O risco de um “credit crunch” (ou de uma crise de crédito no mercado privado) está aumentando no Brasil, em parte devido ao elevado patamar das taxas de juros”, comentou a economista Monica de Bolle, pelo Twitter, neste domingo (26).

“Diferentemente de outros analistas, penso que o próximo movimento do Banco Central deva ser na direção de iniciar um ciclo de baixa da taxa de juros”, defendeu o economista Manoel Pires, do Ibre/FGV, em entrevista à Folha de S. Paulo. “E por vários motivos: atividade econômica está fraquejando, temos uma crise de crédito latente e o real vem se valorizando”, confirmou.

“Com juros altos, é com esse cenário que vamos nos deparar: sem crédito, sem investimento”, criticou a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, na semana passada. “O BC tem de mudar a política monetária pelo bem do Brasil”, clamou Gleisi.

 

“Debate necessário”

“O que impede o Brasil de virar uma potência como a China, como a Índia está virando? Taxa de juros e mercado financeiro”, ponderou o jornalista Luis Nassif, no Jornal GGN. “Há um terrorismo da crise fiscal que não existe, o terrorismo da dívida pública impagável que não existe e não se discute isso”, argumentou.

No final de semana, o líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu, endossou as críticas do presidente Lula aos juros extorsivos praticados pelo Banco Central e disse considerar que o pais deve fazer esse debate.

“Fazer uma nota questionando e criticando não pode ser considerado uma afronta, até porque tem gente passando fome, desempregada. O pequeno e médio agricultor, e até o grande, não aguentam mais essa taxa de juros. O país precisa voltar a crescer, voltar a ter investimento”, afirmou Dirceu à GloboNews. “O debate é, sim, necessário e adequado”.

Medidas do governo

No final de semana, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, afirmou ao Estado de S. Paulo que o governo trabalha para evitar uma crise de crédito e que programas como o Desenrola e o Minha Casa, Minha Vida servirão para melhorar o ambiente econômico do país. A economia, no entanto, precisa de juros mais baixos para funcionar.

“Eu tenho certeza de que todo mundo quer uma taxa de juros menor. E acho que o que o Ministério da Fazenda vem fazendo é construir as condições para que o juro seja mais barato – não só a taxa Selic, mas a taxa de juros que chega para população, para as empresas, na ponta”, explicou o secretário. “E que isso esteja alinhado com um projeto que está sustentado nesses três pilares: desenvolvimento econômico, social e ambiental”, defendeu Galípolo.

Da Redação PT nacional , com Folha de S. Paulo

 

 

 

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