Ainda Estamos Aqui, por Charles Gentil

Divulgação

 

No programa Roda Viva desta segunda-feira (09.06), o entrevistado Roberto Caiado, Governador de Goiás, mereceria após o programa receber extrema-unção, a fim de curar-lhe o ódio contra o PT e que maldosamente habita o seu coração carrancudo.

Francamente, o político de cabelos alvos que se gaba de ter 40 anos de vida pública e ser, segundo ele, de longa data, o maior adversário dos petistas, longe de ser o homem moderado e pleno de equilíbrio cuja imagem pretende vender, na verdade, apesar da fala mansa e do teatro para conter-se acaba, enfim, revelando sua face autoritária, quando indagado se, na mesma linha do Governador de Minas Gerais, Romeu Zema,entende não poder afirmar se houve uma ditadura no Brasil, uma vez que, para aquele, por existir opiniões divergentes trata-se, então, o acontecimento de 1964, como uma questão de interpretação.

Roberto Caiado como todo negacionista consumado alega, assim, que referir-se ao passado promove, hoje, a continuidade, no Brasil, de uma polarização política que, no entanto, precisa terminar.

E mais, além de buscar esquivar-se da pergunta, Roberto Caiado, atribui a reação militar apenas como uma resposta natural, ao governo supostamente fraco de Jango e, portanto, atribui à esquerda a responsabilidade das atrocidades da qual foi vítima, o que em outras palavras, significa que Roberto Caiado, endossa a violência do regime militar sem – notem – afirmar explicitamente que a ditadura foi um fato histórico e não – como também supos Romeu Zema – uma questão de mera interpretação.

Porém, a cereja do bolo, que coroa de forma deprimente a entrevista de Roberto Caiado, bem antes do programa Roda Viva terminar, dá-se quando, ele, então debocha da movimentação contra a Anistia aos envolvidos nos atentados antidemocráticos de 8 de Janeiro de 2023 comunicando que tal posição é poesia diante de tantos problemas que o país enfrenta.

Mas, que me perdoe:

Roberto Caiado
Por não querer ver
Nem crer
Que nenhum antipatriota será anistiado
E dizer,inclusive,aos generais
Ditadura Nunca Mais !!!

Isto porque, o abuso da força e a licença do Estado para matar adversários políticos vai, justamente, na contramão da democracia, a qual Roberto Caiado, afirma, porém, reconhecer-lhe a beleza, uma vez que, considera ser belo, no parlamento, a capacidade do orador de arguir sobre os temas nos quais é versado.

E bem examinada a fala de Roberto Caiado observa-se haver uma contradição indissolúvel em seu pensamento que, ao mesmo tempo, supõe admitir a pluralidade de opiniões divergentes dos oradores que entram em embate no parlamento e a solução política autoritária, que confere anuência sanguinária, para que o Estado elimine os adversários políticos silenciando, pela tortura ou assassinato, quem pensa diferente.

Mas, o poço de contradições que é Roberto Caiado, vai além. E nele – pasmem – a despoesia aparece em todo seu esplendor noturno. Nele reluz a sombra da força bruta e as trevas do poder brilha com seu sorriso de morte. Isto ocorre,justamente, quando a jornalista Thais Bilenky(Uol), aborda o tema de segurança pública e informa que no Estado que governa, o índice de letalidade da polícia, aumentou.

Roberto Caiado, então, busca justificar o aumento da letalidade promovido pela polícia de Goiás como a contrapartida necessária, a fim de impedir o aumento da criminalidade, bem como viabilizar neste Estado a condição que torna seguro a qualquer cidadão transitar no território em qualquer horário sem risco de ser assaltado e mais: diz que se eleito presidente do Brasil em 2026 irá promover a ostensividade da polícia em âmbito nacional.

Então, ao ser interpelado novamente pela jornalista, Thais Bilenky(Uol), que informa que o crime organizado se tornou mais forte, uma vez que, de acordo com apuração feita pela Polícia Federal, as facções criminosas obtiveram mais equipamentos advindos da campanha armamentista estimulada por Bolsonaro, Roberto Caiado, então, desaloja-se de sua posição serena e em tom enfático diz que esta linha ostensiva irá continuar, que ele, enquanto Governador, é quem manda no Estado e não irá admitir a proliferação do crime organizado, em Goiás; acusa, inclusive, a imprensa de ser complacente com bandidos e que irá interditar que Goiás se transforme em uma Venezuela.

Mas, que fique claro: toda esta efervescência retórica tratou-se apenas de cortina de fumaça para esquivar-se do coração do problema que consistiu em não reconhecer que a pregação e prática do armamentismo possibilitou com que o crime organizado apenas se fortalecesse.

E,aqui,é preciso ponderar: Roberto Caiado diz que o país precisa livrar-se da oposição esquerda versus extrema-direita, mas parece-me que os autoritários, tal qual Roberto Caiado, ao concordarem em fomentar e facilitar o acesso à armamentos buscam, na verdade, substituírem esta oposição no plano político por uma oposição no plano cotidiano, ou seja, fazer vingar como projeto político a oposição segurança pública versus crime organizado, daí – penso – não ser à-toa a tentativa de, por isso, criminalizar os partidos de esquerda e mesmo os movimentos sociais e, assim, tratar como meros criminosos os adversários políticos ou defensores dos direitos humanos.

Neste sentido, Roberto Caiado criticou a aproximação de Lula com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST, designando os integrantes do movimento como criminosos e invasores de propriedade.

Logo ele, Roberto Caiado, o longevo defensor do agronegócio e que sequer foi capaz de reconhecer, mesmo com a observação de jornalistas, que o agronegócio no governo Lula, e isto é um fato, prosperou como nunca.

Roberto Caiado nega os fatos. Nega os fatos históricos mais antigos: a ditadura de 1964. Nega os fatos históricos mais recentes: que a campanha armamentista da extrema-direita conferiu mais poder ao crime organizado, que o agronegócio prosperou no governo Lula e que a população, no conjunto, – afirmo – foi beneficiada por um governo popular.

Aliás, Roberto Caiado, nega, inclusive, que Gleisi Hoffman, enquanto Ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais do Brasil, de acordo com políticos, tornou mais aprazível a relação com o governo Lula.

Ou seja, Roberto Caiado, na pretensão de tornar-se presidente da República nega o óbvio; nega que o Partido dos Trabalhadores, o qual se vangloria de combater, nasceu, no entanto, da luta contra a ditadura e toda forma de opressão e, portanto, continua, hoje, a promover o desenvolvimento e fortalecimento do Estado Democrático de Direito com inclusão social e avanço econômico significativo para o conjunto da sociedade, particularmente, os mais necessitados.

Roberto Caiado pode até negar os fatos, mas é fato que embora faça oposição ao PT a décadas, ele, enquanto autoritário que é, apenas exibe sua vocação para rebelar-se contra o que é bom e justo e apesar de interpretar os fatos pela ótica antidemocrática também é preciso colocar Roberto Caiado em seu devido lugar e dizer-lhe:

Ainda estamos aqui.

Trabalhando e continuaremos trabalhando para que o Brasil possa dar a seus filhos e filhas ainda mais oportunidades e prosperidade.

Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro

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