Irresponsável e negacionista, Bolsonaro é contaminado pela Covid-19

O histórico de atleta não foi suficiente para impedir a chegada da “gripezinha”. Descuidado, irresponsável ao promover aglomerações e arrogante quanto aos perigos representados pela pandemia do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro contraiu a doença. O resultado foi confirmado nesta terça-feira (7) pela Secretaria de Comunicação Social do Ministério das Comunicações. Diz a nota da pasta: “o resultado do teste de covid-19 feito pelo presidente Jair Bolsonaro na noite dessa segunda-feira, 6, e disponibilizado na manhã de hoje, 7, apresentou diagnóstico positivo. O presidente mantém bom estado de saúde e está, nesse momento, no Palácio da Alvorada”.

Bolsonaro também concedeu entrevista no Alvorada para confirmar a notícia. Ele voltou a fazer propaganda da hidroxicloroquina, medicamento sem comprovação de eficácia  no tratamento da doença e disse que está tomando a droga com acompanhamento médico.”Estou bem, estou normal, em comparação a ontem [segunda], estou muito bem. Estou até com vontade de fazer uma caminhada, mas, por recomendação médica, não farei”, afirmou, repetindo o tom fanfarrão de pronunciamentos anteriores. E enviou um recado para a população. “Não precisa entrar em pânico, a vida continua”. Infelizmente, mais de 66 mil brasileiros não estão aqui para ouvir os desvarios do presidente da República, vítimas que foram da sua negligência. De acordo com o último boletim do consórcio de veículos de imprensa, o país tem mais de 66.093 óbitos e 1.643.639 casos confirmados.

Na entrevista, o presidente voltou a desafiar a ciência e o bom senso. Ao final da coletiva, retirou a máscara, mesmo depois da divulgação da notícia de que o vírus permanece no ar, podendo ser transmitido por mais de um metro de distância, arriscando a vida dos profissionais que o entrevistavam. Também defendeu novamente o fim do isolamento social como maneira de retomar a e economia e voltou a minimizar a letalidade da doença, dizendo que jovens têm chance mínima de morrer por causa do coronavírus.

No fim de semana, Bolsonaro compareceu a um almoço na embaixada americana com vários convidados para comemorar a independência dos EUA. A confirmação acendeu o alerta para o embaixador Todd Chapman, que anunciou que fará teste para coronavírus. “Chapman teve um almoço privado, no dia 4 de julho, com o presidente Jair Bolsonaro, 5 ministros e o deputado Eduardo Bolsonaro. O embaixador não apresenta nenhum sintoma, mas está tomando as precauções, fará os testes e seguirá os protocolos de rastreamento do CDC (Centro de Controle de Doenças)”, disse a Embaixada Americana pelo twitter.

“Veja a quantidade de pessoas que ele pode ter contaminado por covid-19 por não ter usado máscara e adotado as medidas de distanciamento social”, criticou a deputada federal e presidenta do PTGleisi Hoffmann. “Ele é tão irresponsável que ainda recorreu à justiça para ter o direito de não usar a máscara e conseguiu. Também vetou o uso de máscara em locais de aglomeração. Agora que Bolsonaro foi testado positivo para a covid-19, como fica a saúde das pessoas que tiveram contato com ele?”, questionou Gleisi, pelas redes sociais.Foto: André Coelho

Sepultamento em Manaus (AM)

Pária

A confirmação do contágio ganhou repercussão internacional e várias agências noticiaram o anúncio do presidente. O diretor de Emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan, comentou o diagnóstico de Bolsonaro e reforçou que “ninguém está protegido deste vírus”. Segundo o especialista, “isso mostra que todos somos vulneráveis”. A explosão de casos de Covid-19 no país, somada ao comportamento de Bolsonaro, segue destruindo a imagem o país no exterior.

A renomada publicação americana ‘Foreign Affairs’ destacou, com direito a manchete no portal da revista, reportagem intitulada “Bolsonaro transformou o Brasil em pária da pandemia. “O presidente Jair Bolsonaro saudou a pandemia tentando desativar o SUS, espalhar desinformação sobre o vírus e minar a colaboração internacional em saúde”, descreve a reportagem da revista. 

Importância do SUS

A publicação relembra parte da história do sistema de saúde e suas conquistas nos últimos 30 anos, como o sucesso no combate ao HVI e ao vírus zika. “Ao longo de seus 30 anos de atuação, o SUS ofereceu muitos serviços valiosos aos brasileiros, incluindo atenção primária e vigilância de doenças de longo alcance”, destaca a revista.

Além disso, pontua o veículo, o sistema usou sua capacidade de responder efetivamente a pandemias passadas: a partir da década de 1990, por exemplo, o SUS forneceu tratamento anti-retroviral gratuito para todos os brasileiros que deram positivo para o HIV. “Em 2015, um padrão de defeitos congênitos surgiu no nordeste do Brasil, e os epidemiologistas do SUS os rastrearam rapidamente até o vírus Zika e alertaram as autoridades internacionais”, destaca a publicação.

Tudo isso mudou. “O tratamento da pandemia por Bolsonaro fez muito para prejudicar a estatura internacional do Brasil no campo da saúde. O presidente populista desconsiderou as recomendações do COVID-19 da Organização Mundial da Saúde, ameaçou sair da organização e tentou interromper a publicação de dados cumulativos de casos”, observa a revista, lembrando ainda que o ministro das Relações Exteriores frequentemente critica os sistemas de cooperação multilateral, incluindo a ONU.

“Como resultado, o Brasil é agora um epicentro global para o coronavírus, com mais de 61.000 mortos. Um país que já foi admirado por seu sistema de saúde responsivo e sua diplomacia em saúde tornou-se um pária pandêmico”, relata a ‘Foreign Affairs’.

Segundo o colunista Diogo Schelp, do ‘UOL’, “é raro o Brasil obter tal destaque (manchete principal do site) em uma publicação especializada em assuntos internacionais. Infelizmente, dessa vez foi por um motivo ruim”.

Da Redação da Agência PT, com informações de ‘UOL’ e agências internacionais

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