A semana começou com as manifestações antifascistas espraiadas pelas redes sociais impulsionadas principalmente pelos protestos do movimento antirracista nos EUA, e das torcidas organizadas contra o autoritarismo, aqui no Brasil.
O bolsonarismo revira a lata de lixo da história e confunde deliberadamente os conceitos dizendo “fascismo é de esquerda” e, ao mesmo tempo, exaltando fascistas como Mussolini, Hitler, Goebbels e outras personalidades. Olavo de Carvalho segue firme em sua cruzada contra os fatos, aparelhando as instituições para deturpar e manipular a história da formação da sociedade brasileira.
Para elucidar dúvidas frequentes sobre o fascismo e incentivar ações efetivas cada vez mais conscientes, lançamos esse guia rápido com a filósofa Márcia Tiburi -o Guia Antifa Entender para Combater.
O que é o fascismo?
Fascismo é uma tecnologia política com características populistas, cujo nome foi criado por Benito Mussolini na Itália do começo do século 20. Mas o conceito de expandiu e passou a ser usado para designar manifestações de ódio ao outro que se organizam em movimentos de massas. No fascismo cria-se um inimigo para poder combatê-lo.
Como ele se manifesta?
O fascismo se manifesta como discurso de ódio, autoritarismo de todo tipo, submissão a um líder autoritário, presença de agitadores criando confusão nas massas, racismo, misoginia, homofobia e preconceitos que fazem pensar em uma síndrome autoritária como uma espécie de perturbação mental coletiva.
Quais são os símbolos?
O fascismo tem símbolos conforme os países onde de instaura. Na Itália de Mussolini se usava um Machado com um cabo de feixes. Na Alemanha nazista se usava uma suástica. Mas há um fascismo difuso e em potencial sem nenhum tipo de símbolo.
Quais os traços do fascismo no Brasil?
No Brasil, há muitos traços fascistas: ódio ao outro, racismo, devoção ao líder autoritário, elogio da ignorância, homofobia, misoginia, elogio da morte, negação das verdades científicas, apologia da violência, frieza, cinismo.
O que caracteriza um governo fascista?
A diferença entre o fascismo subjetivo e o fascismo dos agitadores e do Estado é meramente formal. Um Estado pode superar o fascismo dos cidadãos promovendo a democracia. Ou promover o fascismo e ajudar a nutrir e manipular o sentimento de ódio nas massas.
Ser de direita é ser fascista?
Ser de direita não implica ser fascista. Ser de extrema-direita sim.
É possível ser de esquerda e ser fascista?
Se a esquerda se torna autoritária e pratica as mesmas coisas que a extrema-direita, sim, mas aí já não seria mais esquerda.
Como identificar um(a) fascista?
Identifica-se um fascista pelos seus preconceitos expressos em discursos de ódio
Dá para dialogar com um(a) fascista e fazê-lo(a) mudar de ideia?
O fascismo se expressa em graus diversos. É possível ajudar uma pessoa com grau baixo de fascismo a mudar.
Todo preconceituoso (racista, machista, sexista, xenófobo) é fascista? Por que?
Não. O fascismo não é um preconceito, mas uma combinação de preconceitos na forma de uma síndrome autoritária. Um preconceito isolado e em grau abordavel não configura fascismo.
Tenho um(a) amigo(a) fascista. O que fazer?
Se meu amigo é fascista devo avisar que ele está com um problema e tentar ajudar indicando reflexão, psicanálise e até psiquiatria. Se não for possível conversar sobre isso, devido à exacerbação do quadro, melhor afastar-se.
É possível ser fascista e não saber?
É possível ser fascista e não saber porque uma pessoa fascista não costuma questionar e refletir sobre si mesma. Ela tem profunda dificuldade de se olhar no espelho. A incapacidade emocional e cognitiva são características dos fascistas.
Qual a diferença entre fascismo e nazismo (para a compreensão de hoje)?
O nazismo é uma forma de fascismo.
Uma forma de fascismo que foi criada na Alemanha e incrementada por Hitler
Por que o fascismo é ‘sedutor’?
O fascismo seduz pessoas com capacidade intelectual e sensível limitadas porque apresenta ideias prontas e simples e compensação emocional para os ressentimentos de classe — muito comuns de quem adere ao fascismo.
Como combater o fascismo?
Para combater o fascismo, existem dois caminhos possíveis, aponta Márcia Tiburi. Primeiro, é precisar criar uma sociedade que não dê condições para o florescimento do fascismo. Em outras palavras, “essa sociedade precisa se estabelecer em condições democráticas tais que o fascismo não surja”.
Se o trem já descarrilhou e o fascismo se instalou, o caminho é recuperar a democracia. Para isso, é necessário garantir e fortalecer instituições democráticas em funcionamento e, ao mesmo tempo, cuidar das subjetividades — ou seja, o Estado precisa criar condições para formar cidadãos e cidadãs capazes de diálogo e de pensar sobre si mesmos.
“ Cultura, educação, formação, família e escola são importantes nesse processo de construir uma subjetividade que forme pessoas capazes de dialogar”, aponta Tiburi
Ana Clara, Agência Todas