Nunca a imagem do Brasil, que nos últimos 20 anos passou a ser um jogador importante no tabuleiro das nações influentes do mundo, esteve tão ruim. Desde a eleição de Jair Bolsonaro, jornalistas estrangeiros, emissoras e jornais influentes se debruçam sobre a política nacional para entender porque um admirador de torturadores, que faz a apologia do estupro de adversários, lamenta o baixo número de mortos assassinados ou desaparecidos pela ditadura militar – que torturou 20 mil pessoas – se elegeu chefe do maior país da América do Sul.
A resposta começa a aparecer nas reportagens que circulam no mundo desde ontem: as fake news. Um esquema de mentiras elegeu Bolsonaro, montado numa máquina de propaganda e contrainformação disposta a difamar, alimentar o ódio e pregar a violência física e verbal contra adversários do presidente e as instituições democráticas do país, preferencialmente o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional.
O país hoje é visto com desconfiança pelas Nações Unidas, a mídia europeia, americana e asiática pelo que se transformou sob a gestão de Jair Bolsonaro. Um Brasil de ódio, negacionismo, escondido sob o manto bélico de um autoritário. Uma imagem muito diferente daquela vista e admirada pelo mundo nos governos Lula e Dilma, quando o Brasil era tido como a bola da vez, e o ex-presidente petista era saudado por Barack Obama como “o cara” e Dilma Rousseff eleita entre as 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista americana ‘Time’.
Esquema fraudulento de notícias
Desde quarta-feira, despachos de agências internacionais como Reuters, Associated Press, EFE e France Presse se encarregaram de difundir a notícia de que o Supremo Tribunal Federal começou a desvendar um poderoso esquema de mentiras distribuídas em massa em redes sociais e sites especializados em fraudes, financiadas por empresários bolsonaristas e alimentada pelo Gabinete do Ódio.
A estrutura de mentiras instalada no 3º andar do Palácio do Planalto, suspeita-se, está sob a coordenação do filho 02 do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro, como destaca o jornal inglês ‘The Guardian’. O diário britânico ressalta que telefones e computadores foram apreendidos de “bolsonaristas incondicionais” e que as investigações podem desbaratar uma rede de mentiras e intrigas.
O diário alemão ‘Frankfurter Allgemeine Zeitung’ relata que um total de 29 pessoas são acusadas de espalhar sistematicamente campanhas de ódio e “notícias falsas” nas redes sociais. E antevê um clima de confronto entre o presidente e a Suprema Corte. “O próprio Bolsonaro fala de sinais de que algo muito ruim está acontecendo com a nossa democracia”, destaca a reportagem. O jornal menciona o episódio em que o ministro da Educação Weintraub disse em uma reunião do gabinete em abril que prenderia todos os “vagabundos” em Brasília, se quisesse, começando pelo Supremo Tribunal Federal.
Aliados suspeitos de ‘fake news’
A operação da Polícia Federal, que cumpriu mandados de busca e apreensão em seis estados e realizou batidas nas residências de ativistas de extrema-direita, correu o mundo. “Polícia brasileira busca aliados de Bolsonaro em investigação de notícias falsas”, destaca a Associated Press, cujo material foi replicado em 2.100 veículos noticiosos importantes, como ‘The New York Times’ e ‘Washington Post’. A Reuters também informa: “Polícia brasileira invade aliados presidenciais em investigação de fake news”.
A agência espanhola EFE informa a ação que apura a “disseminação de notícias contra o Supremo” envolvendo aliados do presidente. Em outra reportagem, a EFE diz que, em meio à crise política, econômica e sanitária, a porcentagem de brasileiros que rechaçam o governo saltou de 38% para 43%. “Um nível recorde”, relata, citando a pesquisa do Datafolha, divulgada nesta quinta. “A rejeição do líder de extrema direita que assumiu a Presidência do Brasil em janeiro de 2019 vem crescendo gradualmente desde abril do ano passado”, diz a reportagem.
Também nesta quinta-feira, a revista ‘The Economist’, uma das mais conceituadas e influentes do planeta, afirma que o Brasil enfrenta crises combinadas e que, enquanto o país enterra 25 mil mortos, o presidente de extrema-direita continua se recusando a adotar procedimentos recomendados pelas autoridades de saúde para conter a doença, como evitar aglomerações e manter isolamento e o distanciamento social da população.
De acordo com a publicação, o presidente ignora conselhos e sugestões. Nada é seguido por Bolsonaro. “Sua presidência é consumida pelo melodrama”, aponta a conceituada revista inglesa. “Em um vídeo de duas horas de uma reunião de gabinete divulgada pela Suprema Corte do país e assistida por milhões de brasileiros, ele se entrega a protestos desonestos e profanos contra as investigações policiais de seus filhos, mas tem pouco a dizer sobre a proteção dos cidadãos contra a pandemia”.
Da Redação da Agência PT
Imagem: Bruno Caramori