Nesse domingo, e ao longo da semana, mulheres em mais de vinte estados brasileiros marcharam juntas contra o governo Bolsonaro. Marchas que unificaram partidos progressistas, organizações e movimentos populares e sociais levaram milhares de pessoas às ruas para combater o feminicídio e o silenciamento das mulheres.
Em São Paulo, nem a chuva torrencial impediu mais de 10 mil mulheres de marcharem na Avenida Paulista para lutar por seus direitos, combater a violência e ocupar espaços políticos.
Com performances teatrais, oficinas de produção de lenço, quatro carros de som e muita disposição para enfrentar a chuva, as paulistanas homenagearam Marielle, Dandara e Cláudia, lutadoras e guerreiras da causa feminista.
“Esse ano nós vamos votar em mulheres comprometidas. Não existe um mundo bom pra todo mundo, se esse mundo não for bom para as mulheres”, Débora Pereira, secretária estadual de mulheres de São Paulo.
Ainda no sudeste, as mineiras de Belo Horizonte (MG) e as capixabas de Vitória (ES) também fizeram história no Dia Internacional da Mulher. A ala das bordadeiras de “Linhas do Horizonte” abriu a marcha em BH que contou com as companheiras da Ocupação Pátria Livre, na favela Prado Lopes, da capital mineira.
Mulheres de Belo Horizonte no ato de 8 de março
Direto para o Nordeste, pólo da resistência progressista, as mulheres do Maranhão ocuparam as ruas das cidades de Bacabal, Santa Inês, Imperatriz e a capital São Luís. Em Bacabal (MA), as ações aconteceram no Sindicato dos Comerciários do município, incluindo roda de conversa sobre violência contra mulher, oficina de maquiagem e dança. No dia 06, a Câmara Municipal de Santa Inês (MA) foi inundada por jovens mulheres prontas para continuar a luta sem tréguas d por políticas públicas, direitos, fim da violência e oportunidades. Em Imperatriz (MA) e na capital São Luis (MA), atos culturais como sarau, poesia, oficinas de cartazes fizeram parte das manifestações pelo Dia Internacional da Mulher.
Em Aracaju (SE), o trio de cantoras “Bruxas do Cangaço” soltou a voz na defesa das mulheres de periferia e da cultura hip hop. O protagonismo da cultura nas manifestações também marcou a marcha das mulheres em Maceió (AL) que contou com festival de arte, artesanato, poesia e performance teatral.
“Nós queremos mulheres em cada câmara municipal, queremos prefeitas eleitas em cada município de Alagoas. Estamos aqui para reafirmar que as mulheres tem capacidade de serem gestoras e legisladoras e de ocuparem os espaços que quiserem”, Elida Miranda, do coletivo estadual de mulheres do PT-AL.
Estuprador é tu! As paraibanas de João Pessoa (PB) ocuparam a praia e realizaram a performance “Estuprador em teu caminho”, reproduzida em todo o mundo, e conduziram o ato “Mulheres juntas contra a violência e a retirada de direitos”, na capital paraibana.
Já no Rio Grande do Norte e no Ceará, as ruas de Natal (RN) e Fortaleza (CE) ficaram pequenas para seus respectivos atos que articularam diversos movimentos populares, do campo e da cidade, em defesa de um país livre, democrático, feminista e popular.
E no palco do enfrentamento contra o governo Bolsonaro, as nortistas colocaram o bloco na rua contra o retrocesso, a retirada de direitos e a violência contra a mulher. Em Tocantins, as mulheres do PT, além de irem às ruas, também realizaram rodas de conversa para refletir sobre os impactos do machismo no cotidiano feminino e da política.
“Além de ser mulher feminista, precisamos refletir ‘o que é ser mulher petista’ diante dessa conjuntura. A gente acaba virando referência. ‘Olha lá a petista’. E pra mim é uma honra, porque eu levo esse partido muito a sério. É um partido que luta pelos direitos das mulheres e da classe trabalhadora” Ana Júlia, juventude do PT, Gurupi-TO
No Amazonas, o Fórum Permanente das Mulheres de Manaus (FPMM) realizou a “Virada das mulheres contra o Feminicídio: Por Elas, Por Nós e Por Todas”, na Feira de Artesanato Eduardo Ribeiro, no centro da capital amazonense, com o cortejo do Maracatu Baque Mulher Manaus.
As feministas expuseram os dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) que revelam um aumento de 300% das mortes por feminicidio, entre os anos de 2018 a 2019, na cidade de Manaus, e de 200% no estado do Amazonas no mesmo período.
“Os crimes contra as mulheres são com requinte de crueldade, sempre na frente dos filhos e filhas menores. Nós mulheres queremos viver e exigimos das autoridades jurídicas e governamentais, políticas públicas e de segurança que derrubem essa escala de violência”, afirma Anne Karolyne, secretária nacional de mulheres do PT e manaura.
Em Roraima, as mulheres do PT de Boa Vista (RR) realizaram sarau cultural e coletiva de imprensa para divulgar os dados sobre a situação da mulher no estado e a realização do ato do Dia Internacional da Mulher. Em Rondônia, Amapá e Pará, as petistas ocuparam as ruas de Porto Velho (RO), Macapá (AP) e Belém (PA) na defesa das mulheres indígenas, da agroecologia, do meio ambiente e da democracia.
Mulher paraense com criança em ato do 8 de março, em Belém (PA)
No Acre, a voz feminina no samba deu o tom da resistência. O show ‘Tem Mulher no Samba’ marcou as manifestações do 8 de março em Rio Branco (AC), capital acreana.
“O meu estado possui o maior índice de feminicídio proporcional do país. É perigoso ser mulher no Acre, no Brasil e em qualquer região do planeta”, explica Maria Meirelles, do coletivo estadual de mulheres do Acre.
Agora, vamos cruzar o mapa direto para o sul do país. No Rio Grande do Sul, as mulheres abriram a agenda de mobilizações do com rodas de conversa e caminhada a partir do Largo Glênio Peres, em Porto Alegre (RS), para exigir ‘Fora, Bolsonaro’ e combater o projeto neoliberal e o fascismo.
Na região metropolitana de Porto Alegre, na cidade de Parobé (RS), a “Caravana das Mulheres” tomou as ruas no domingo, 8 de março, que também era dia de eleição municipal extraordinária. A campanha, no sábado, foi feita ao lado da candidata a prefeita pelo PT, professora Maristela, e o vice, professor Lodeir.
Já em Santa Catarina, mulheres petistas estiveram em diálogo sobre os Direitos das Mulheres e contra os retrocessos do governo Bolsonaro durante toda a tarde, em Florianópolis (SC), que se somou a uma grande Marcha com concentração na Praça do Miramar. Na cidade de Joinville (SC), ato cultural no Jardim das Oliveiras marcou o debate sobre o Dia Internacional da Mulher.
No Paraná, as curitibanas somaram forças e renovaram o corpo e o espírito para enfrentar 2020 e seguir na luta pelo direito de todas. O ato “Mulheres da Favela exigem paz” colocou a pauta da segurança pública e do combate à violência contra a mulher no centro dos protestos, em Curitiba (PR).
Em direção ao Centro-Oeste, em Campo Grande (MS), vários sindicatos e organizações fizeram ações, incluindo palestras, feiras, espetáculos artísticos e atos públicos, ao longo de toda a semana. Preocupadas em não deixar a discussão restrita às regiões centrais e “nobres” da cidade, as mulheres elegeram uma das maiores feiras de bairros populares para expressar suas lutas, denúncias e reivindicações à população e “às trabalhadoras que constroem este país”, explicaram as organizadoras.
Na manifestação, as ativistas distribuíram panfletos, conversaram com a população e denunciaram o ataque que o governo federal faz às mulheres, negando verbas a políticas públicas e retirando direitos de trabalhadoras.
“As mulheres estão fortalecidas cada vez mais para todos os enfrentamentos que ainda faremos por uma sociedade mais justa e igualitária, sem preconceitos e discriminações”, Secretária-Geral da CUT-MS, Dilma Gomes
Em Goiás, as petistas de Goiânia (GO) marcharam ao lado de mulheres do campo e da cidade, na manhã desta segunda-feira, para denunciar a violação de direitos da mulher e exigindo igualdade de gênero. O Atlas da Violência de 2019 revelou que número de homicídios de mulheres em Goiás aumentou 84% e que o estado ainda está no ranking das cinco unidades federativas com maiores índices de violência doméstica.
“Em Goiás todos os crimes envolvendo violência contra mulher tiveram aumento expressivo, o que denota a adoção de medidas emergenciais, políticas públicas eficazes para o combate à violência em nosso estado. Precisamos continuar mobilizadas denunciando todas as formas de violência”, Ssecretária estadual de mulheres do PT-GO, Lucimar Nascimento.
Manifestações também foram realizadas em Cuiabá, no Mato Grosso, na luta pelos direitos da mulher e contra os ataques do governo Bolsonaro.
As mulheres camponesas, que realizavam o I Encontro Nacional de Mulheres, protagonizaram o ato das mulheres em Brasília, no Distrito Federal. Na luta pela Reforma Agrária, em defesa das águas, das indígenas, trabalhadoras rurais e do movimento popular, as mulheres do PT se somaram à marcha unificada nas ruas do Planalto Central.
Por fim, de volta ao sudeste, o Rio de Janeiro realiza nesse momento um grande ato das mulheres contra os ataques do governo federal, mas também contra os desmandos do prefeito Crivella que impõe uma agenda fundamentalista e neoliberal à população carioca.
Mulheres do PT no ato de hoje, 09, em Recife, PE
É só o começo.
No dia 14 de março, completam-se dois anos desde que Marielle e Anderson foram brutalmente assassinados, sem que ainda haja uma resposta sobre quem foram os mandatários desse crime brutal e político, que ficou conhecido no mundo todo. As mulheres do PT estarão nas ruas em todo país para exigir que os culpados pelo crime sejam punidos.
Para o dia 18 de março, está prevista uma paralisação nacional contra a política econômica do atual governo, que sangra os mais pobres e afaga os ricos, e em defesa da educação. As mobilizações estão sendo construídas por entidades estudantis, como a União Nacional dos Estudantes (UNE), por centrais sindicais, movimentos sociais e por partidos de esquerda.
Projeto Elas Por Elas.
O Elas por Elas é um projeto desenvolvido pela Secretaria Nacional de Mulheres do PT com o intuito de impulsionar a participação de mulheres na política e construir uma plataforma feminista para o Brasil.
O protagonismo das mulheres em lutas políticas e sociais é histórico e está ainda mais evidente neste momento de avanço de pautas conservadoras e consecutivos retrocessos promovidos pelo governo Bolsonaro.
“Demos um passo importante na construção da resistência ao governo Bolsonaro: atos unificados de mulheres marcharam em todo país. Seguiremos na luta por nossos direitos e dizendo a todos os machistas: Silenciadas Nunca Mais”, Anne Karolyne, secretária nacional de mulheres do PT.