Evento ocorreu na manhã deste sábado, na Praça Roosevelt, e contou com a presença de estudantes de diversas universidades e escolas da capital paulistana para ouvirem de artistas e intelectuais a necessidade de defender a democracia
Estudantes de diversas universidades e escolas paulistas estiveram presentes na Praça Roosevelt, símbolo cultural de São Paulo, na manhã deste sábado (9), para uma Aula Pública em defesa da democracia e contra o golpe.
Organizada pelos comitês contra o golpe da UNICAMP, PUC, USP, Mackenzie, entre outras faculdades, a aula foi conduzida pela presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, APEOESP, Maria Izabel Azevedo Noronha (Bebel), a presidenta da União Paulista dos Estudantes, a UPES, Ângela Meyer, a coordenadora Nacional de Entidades Negras/CONEN, Sandra Mariano, a presidenta da União Estadual dos Estudantes, a UEE-SP, Flavia Stefanny, a presidenta da União Nacional dos Estudantes, a UNE, Carina Vitral, da urbanista e professora Raquel Rolnik, do humorista Gregório Duvivier, da economista Laura Carvalho e do coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos.
A atividade foi transmitida ao vivo pela TVLD, do portal Linha Direta, e pela TêveFPA, da Fundação Perseu Abramo.
Uma das organizadoras do evento, a estudante do curso de letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Universidade de São Paulo, a FFLCH, Laura Martin explicou que a aula publica buscou unir estudantes para refletir sobre o momento vivido e discutir alternativas de ações diante disso. “A gente chamou essa aula pública aqui, hoje, foi pensando no cenário que estamos vivendo nos últimos tempos, (…) Para repensar e para poder ir contra as ameaças à democracia”, explicou.
Responsável pela abertura da aula, o humorista, roteirista e escritor, Gregório Duvivier começou frisando que o golpe já está acontecendo. “Cada vez mais esse grito: ‘Não vai ter golpe’, ele ficou obsoleto por que a gente percebe que já está tendo, quando na verdade já teve. Essa é a verdade. A gente tem que lembrar disso. Esse golpe está sendo articulado há muito tempo, ele não é o futuro, ele não é o vai ter, ele é uma coisa que já está acontecendo. Pior, se não tiver golpe, vamos supor se, por exemplo, a Dilma continua. Em nome de quê? Que não seja em nome de um outro golpe. Se a Dilma continuar – eu torço que ela continue- que não seja com falsas alianças com setores mais conservadores da sociedade. Se ela continuar com essas alianças, que ela continue na rua protestando”, ressaltou o escritor.
Segunda a falar, a arquiteta e urbanista e professora da USP, Raquel Rolnik, frisou que derrubar a presidente Dilma é abrir espaço para implementação de uma agenda neoliberal que pode acabar com o Estado brasileiro. “Derrubar a Dilma é abrir espaço para um projeto rigorosamente neoliberal que prescinde do espaço urbano e implementa a democracia direta do mercado. O mercado pode decidir o destino do planeta e o destino dos cidadãos. Sem distribuição, sem mediação, sem espaço público. É a privatização total. É o fim do estado”, destacou a urbanista.
A organização dos comitês contra o golpe foi lembrada pela presidenta da União Nacional dos Estudantes, a UNE, Carina Vitral. Ela destacou que a juventude está reagindo diante da crise e que ela está unida na defesa da democracia. “O que nos une é a convicção de que o povo brasileiro esteja na linha de frente para defender a democracia. Eu estou mais orgulhosa ainda por este ato, é um ato organizado pelos comitês das universidades. Eu quero cumprimentar a realização destes comitês e a participação dos comitês da USP contra o golpe, da PUC contra o golpe, da Mackenzie contra o golpe, da Cásper contra o golpe, da metodista contra o golpe […]. A gente está aqui porque o que nos une é a convicção de que a juventude brasileira esteja na linha de frente de combate a crise. A juventude brasileira não se sente representada por Bolsonaro, por Marco Feliciano, por Aécio Neves”, enfatizou a presidenta.
Coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos disse que a burguesia brasileira talvez não tenha engolido até hoje a abolição da escravidão, fica imaginando que o Bolsa Família é política comunista e quer devastar os direitos sociais. “Quando a gente diz que a democracia está em questão, não é apenas por esse golpismo, mas é pelo ambiente que vem junto com ele. O que eles estão criando junto com a tentativa de golpe é o ataque ao ambiente democrático, a quem está na rua de vermelho e pode ser agredido. A esse clima de intimidação e intolerância, nós temos que responder que haverá resistência e que não vamos nos intimidar. Tentaram intimidar o MTST, a nossa resposta foi fazer uma ocupação com mais de 1500 pessoas. A nossa resposta é que não vamos no intimidar. A burguesia brasileira talvez não tenha engolido até hoje a abolição da escravidão, eles acham que Bolsa Família é comunista. É isso que estamos enfrentando e quanto a isso, nós temos que ser categóricos: barrar! Eles querem acabar com direitos trabalhistas, privatizar a Petrobrás, eliminar programas sociais. Aqui tem estudantes e é importante que a gente saiba que acabar com subsídio é acabar com o Fies, com o Prouni. É uma onda de devastação dos direitos sociais”, disse o dirigente durante Aula Pública.
A professora Doutora do departamento de economia da FEA-USP, Laura Carvalho, foi a última a falar na aula. Em sua explanação, ela pontuou que um dos principais méritos do governo Dilma foi ter acabado com o financiamento empresarial de campanha. Laura ressalta que o impeachment não será o caminho para a solução dos problemas e não garantirá estabilidade ao país. “Um ponto que está sendo muito pouco tratado é que esse governo, do pondo de vista político e do sistema político, fez um avanço muito importante, que foi fim do financiamento empresarial de campanha. Existe uma tentativa constante de acabar com isso e foi vetado de novo pela presidência da republica, na semana retrasada. Eu não tenho a menor dúvida de que um ‘governo do PMDB’, com toda pressa do mundo, usará de todo artifícios para que a campanha presidencial de 2018 seja feita com financiamento empresarial. Mesmo que a gente agonize durante três anos, mesmo que esse governo não consiga resolver a crise econômica, mesmo que a gente não tenha capacidade desse projeto de restabelecer o programa que a gente quer, a gente quer uma eleição em 2018 sem financiamento empresarial de campanha […] É importante a gente lembrar o tempo todo para aquelas pessoas que estão nesse campo de estar vendo que está tudo ruim, mas sabe exatamente como faz que esse governo melhore de alguma maneira, como manter a presidente. Tem algum impacto nessa crise? Tem! Pelo menos a gente segura três anos e faz um outro tipo de eleição em 2018, 1922 e daqui pra frente”, defendeu a economista.
Fonte: Elineudo Meira, do Linha Direta