Nomes importantes do jornalismo brasileiro se manifestaram contra o golpe e pela democracia em ato no Sindicato da categoria nesta quinta-feira (7). No ato, jornalistas apontaram que a postura da grande imprensa está contribuindo para incitar o ódio e acirrar a crise política no país.
“O aparato da Lava-Jato quer que a mídia mostre certas coisas. No fundo, é a fonte manipulando veículos de informação”, afirma Paulo Zocchi, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. “Falta investigação jornalística de profundidade, para buscar o outro lado das acusações”, diz.
No ato, o jornalista Breno Altman denunciou violações por parte da Justiça na última sexta-feira, 1º de abril, quando foi levado para depor coercitivamente pela Polícia Federal no âmbito da Operação Lava-Jato. “Fui levado forçadamente a depor sem ter recebido uma intimação anteriormente”, conta ele.
Há cerca de um mês, a mesma violação foi cometida contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, sem ter recebido qualquer intimação anterior, foi levado a depor coercitivamente no aeroporto de Congonhas.
Além disso, segundo ele, a PF empreendeu uma busca e apreensão indevida na casa do jornalista, ao levar um computador de trabalho sem autorização legal.
Além dessas violações, o Sindicato dos Jornalistas também quer denunciar a quebra do sigilo de fonte, já que a Lava-Jato levou material de trabalho de Altman. O sigilo da fonte é um direito constitucional garantido ao jornalista.
Segundo Altman, as perguntas feitas durante o depoimento foram desconexas, e, mesmo após o fim da entrevista, não foi possível compreender o motivo de sua presença ali. “Fizeram perguntas como: há quanto tempo eu era jornalista, ou há quanto tempo eu era do PT”, afirma. “E fizeram isso porque o golpe precisa de espetáculo”.
Segundo Altman, a Lava-Jato está tentando criminalizar a esquerda e intimidar quem defende ideias progressistas. “Temos que denunciar a escalada golpista”, diz ele.
Já a jornalista Barbara Gancia disse acreditar que a condução de Lula teve o impacto positivo de estimular a resistência das pessoas de esquerda contra as ações abusivas da Justiça.
A opinião foi compartilhada pelo jornalista Paulo Moreira Leite. “A primeira grande resistência veio daí. Ao mexer com essa liderança (Lula) colocou o pé naquilo que não tínhamos visto até então”, afirma ele sobre a condução coercitiva do Lula.
Leite ainda avalia que o relatório do deputado Jovair Arantes, presidente da Comissão do Impeachment, favorável ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff, é um documento criminoso e sem nenhum fundamento.
Já o jornalista Audálio Dantas defende que a postura da mídia hoje não é muito diferente dos dias que antecederam o golpe de 1964. “A grande mídia sempre apoiou os movimentos golpistas”, lembra.
Altamiro Borges, do Centro de Estudos Barão de Itararé, lembrou que jornalistas estão sofrendo agressões por se colocar contra o impeachment, como o jornalista Juca Kfouri. “O que está em jogo não é a corrupção, senão o impeachment não estaria sendo conduzido pelo correntista da Suiça Eduardo Cunha. É um projeto de país que a elite quer impor”.