Presidenta diz que se sente injustiçada, mas que continuará lutando, enfrentando o impeachment no Senado e defendendo os 54 milhões de votos que teve
Presidenta Dilma Rousseff durante declaração à imprensa. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Em entrevista coletiva concedida nesta segunda-feira (18), a presidenta Dilma Rousseff abordou pela primeira vez a votação deste domingo (17), na Câmara dos Deputados, que decidiu pela abertura de um processo de impeachment contra ela sem a existência de base legal para sustentar a acusação. Ela disse que escolheu o lado da democracia porque este “será sempre o lado certo da História”.
“O mundo e a História observam cada ato praticado neste momento no Brasil. Vivemos tempos muito difíceis, mas históricos, a História está presente. Tenho ânimo, força e coragem suficientes para, apesar do sentimento de muita tristeza, enfrentar essa injustiça”, afirmou a presidenta no Palácio do Planalto.
Dilma disse que se sente injustiçada no atual processo de impeachment, mas que não irá se abater e continuará lutando, enfrentando o processo no Senado e defendendo a democracia no Brasil. “A injustiça sempre ocorre quando se esmaga o processo de defesa”, disse.
“Não vou me deixar paralisar, vou continuar lutando, como fiz em toda a minha vida. Comecei numa época em que era muito difícil de lutar, aquela que te torturava fisicamente e matava e tirava a vida de companheiros meus. Agora, vivo numa demcoracia e de uma certa forma estou tendo meus sonhos, meus direitos, torutados. Não vou deixar de lutar. Continuarei lutando e vou enfrentar todo o processo, vou me defender no Senado e, ao contrário do que anunciaram, estamos no início da luta, que será muito longa e demorada”, completou.
A presidenta disse que sua luta não é por seu mandato, mas pelos 54 milhões de votos que teve e pela defesa da democracia. “Não é uma luta que envolve o meu mandato, não é por mim, mas é pelos 54 milhões de votos que eu tive. Uma luta de todos os brasileiros, mesmo aqueles que criticam meu governo, uma luta pela democracia. Sem democracia não sairemos da crise. A democracia será sempre o lado certo da história”, afirmou.
Sem crime de responsabilidade
Dilma apontou ainda a falta de debate no plenário da Câmara dos Deputados sobre os motivos usados para basear as acusações, o que demonstra que o processo é de exceção e não dentro das regras jurídicas.
“Me sinto indignada com a decisão que recepcionou o impeachment. Os atos que me acusam foram praticados por outros presidentes da República antes de mim e não foram atos considerados criminosos, foram considerados atos legais”, lembrou. “Quando me considero discriminada é porque a mim reservam um tratamento que não foi dado a ninguém antes de mim. Quando um presidente pratica esses atos, o faz com toda uma cadeia de decisão, com análises técnicas, pareceres e, daí, o presidente assina. E, a posteriori, foi também a posição de todos os juristas consultados.”
A presidenta ressaltou que nenhum ato que tenha praticado, mesmo equivocado, foi para benefício pessoal, ao contrário de muitos deputados que têm contra si acusações de corrupção. “Não foram atos praticados para que eu me enriqueça pessoalmente”, disse. “Saio com tranquilidade porque não os fiz ilegalmente. E tenho certeza que todos sabem que é assim. Não há contra mim nenhuma acusação de enriquecimento ilícito, não há contra mim suspeita de contas do exterior.”
Segundo Dilma, os que tentam chegar ao poder pela via do voto indireto, a partir de um golpe institucional, não permitiram que ela governasse com estabilidade política. “Praticaram sistematicamente a tática do quanto pior, melhor. Pior pro governo, melhor pra oposição. E isso se expressa em pautas-bomba, que chegaram a montar para inviabilizar as contas do governo. Como esta que está em curso, um projeto de decreto legislativo que, ao mudar a correção dos juros das dívidas dos Estados, provoca um rombo nas contas de R$ 300 bilhões”, afirmou.
O clima ruim que ficará no país se houver um impeachment sem crime de responsabilidade foi considerado um problema grave pela presidenta Dilma. “Que o mundo veja que nossa jovem democracia enfrenta um processo de baixa qualidade. Porque, se é possível condenar um presidente da República sem que ele tenha feito nada, o que é possível fazer contra um cidadão comum? Contra os cidadãos que são os grandes protragonistas da nossa história”, questionou.
Ela destacou que as razões para a abertura do processo não foram técnicas, mas motivadas por uma vingança do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que reagiu à negativa do PT de protegê-lo no Conselho de Ética, onde responde processo por quebra de decoro parlamentar. “As razões do impeachment são fundadas numa espécie de vingança porque não aceitamos dar os votos no Conselho de Ética. Vamos lembrar disso”, afirmou.
Espírito de luta
Dilma lembrou sua luta pela democracia durante a ditadura e disse não haver comparação entre os dois períodos. “Sem sombra de dúvidas, a ditadura é um milhão de vezes pior. Até porque na ditadura o cidadão não tem direito a nada, à liberdade de imprensa, não pode reivindicar um salário maior, que é presa”, disse.
“Sempre lutei pela democracia e vou continuar lutando por ela. Na minha juvenude, enfrentei por convicção a ditadura. E agora enfrento por convicção um golpe de estado, não o tradicional da minha juventude, mas é o golpe da minha maturidade. Em que se usa de uma aparência de processo legal e democrático para perpetrar talvez o mais abominável crime contrea uma pessoa: condenar um inocente.”
A presidenta enalteceu a importância do apoio popular para a chegada ao poder e fez duras críticas ao comportanto golpista do vice-presidente, Michel Temer. “Nenhum governo será legítimo sem ser por voto secreto, direto, numa eleição convocada para este fim, na qual todos os cidadãos participam. Não se pode chamar de impeahcment uma tentativa de eleição indireta, porque quem quer ascender ao poder não tem votos para tal”, afirmou.
“É extreamente inusitado, estranho, estarrecedor, que um vice-presidente no exercício do seu mandato conspire contra a presidenta abertamente. Em nenhuma democracia do mundo quem fizesse isso seria respeitado, porque a sociedade humana não gosta de traidor. Porque cada um sabe a dor que tem quando vê a traição no ato.”
Fonte: Agência PT de Notícias