O IMPÉRIO NORTE AMERICANO E O BRASIL DOS BRASILEIROS

Com isso o Brasil precisa urgentemente reafirmar sua soberania, retomando sua política ativa e altiva, que foi a marca dos governos do PT

A posse de Trump foi esperada pelo mundo inteiro. O espetáculo prenuncia uma linha clara de conflitos comerciais e ameaças de guerras mundo afora, mas já era esperado. Toda retórica trumpista denuncia a decadência e a perda de hegemonia norte americana.

A situação interna dos EUA não é boa. Desigualdades crescentes, o aumento da pobreza, o declínio da classe média, a saúde quase inacessível aos mais pobres, a drogadição e morte de 100 mil por ano por uso de fentanil, o crescimento da população de rua, a redução da renda dos mais pobres que contrasta com a ampliação do número de bilionários. Segundo a Forbes em 2024 o número de bilionários nos EUA aumentou para 813 – um novo Record. Os 10% mais ricos detém mais riqueza do que os 90% mais pobres e Donald Trump acena com a radicalização desse fosso. A profunda divisão política aponta uma anomia social e risco crescentes de guerra civil. Vamos lembrar que Trump não aceitou a derrota para Biden e não aceitaria se fosse derrotado por Kamala Harris.

O espetáculo de posse com a presença em destaque das “Big Techs”, das petrolíferas, e dos cassinos na primeira fila. Essas presenças, entre outras, indicaram um norte para um governo de espetáculo pirotécnico, com muito circo para todos e pão para poucos.

O Show claramente indicou na estética e no discurso um caminho de grande concentração de poder e renda nas mãos dos grandes magnatas das empresas de TI, IA e energia fóssil farta e barata para impulsionar os mega investimentos nessas áreas estratégicas de controle da comunicação social e política com as quais querem manter controle de um mundo que não aceita mais a unipolaridade.

A ordem mundial criada depois da Segundo Guerra já estava moribunda com o fim da URSS e só servia para legitimar as ações imperialistas e coloniais das potências ocidentais lideradas pelos EUA. Agora, com a extrema-direita liderando o mundo, cai a máscara da hipocrisia dos democratas norte-americanos e Trump assume o verdadeiro proposito da elite imperial:  IMPEDIR A ASCENSÃO DUMA NOVA ORDEM MULTIPOLAR ANCORADA NOS BRICS, sem rodeio ou subterfúgios. Para isso está retirando os EUA da OMC, OMS e suspendendo todos os apoios as agências americanas que tinham cara humanitária, mas serviam para promover revoluções coloridas e golpes de Estado.

A extrema direita norte americana não quer “Soft Power” e espalha desinformação, Fake News, alimenta as visões disruptivas, desconstrói valores civilizatórios e agora está no controle dos instrumentos técnicos e dos recursos materiais para impulsionar os seus representantes mundo afora. Não é à toa que Elon Musk está na campanha do líder da extrema direita alemã.

Trump vai negociar com quem tem força real: Militar e nuclear – China e Rússia – e baixar o Big Stick nos demais. Por isso ameaça anexar o Canadá, tomar a Groelândia e retomar o canal do Panamá. Já anunciou tarifas de 25% nos produtos do México e Canadá e esses são seus parceiros comerciais do NAFTA (Tratado norte americano de livre comercio que envolve Canadá México e EUA) em vigor desde 1990.

Para a América Latina e Caribe vem a reinstalação da doutrina Monroe: “América para Americanos” e o uso do Big Stick (Grande Porrete), já recolocou Cuba na lista de estados terroristas, e ameaça a Venezuela e Nicaragua e considera o Brasil sem importância para os EUA.

A sua política será de claro protecionismo econômico, agressividade política, comercial e ameaça militar.

Sua campanha foi orientada nessa direção e teve na China o seu alvo principal, visto que é o maior rival econômico e ocupa cada dia mais espaço no plano global. No plano regional, a China ocupa papel de potência inconteste e a Ásia será ainda nesse século o centro do poder mundial: Maior economia, maior população, expansão cultural e uma política comercial vigorosa com a Nova Rota da Seda. Dos atuais 190 países do globo a China mantem comércio vigoroso com 140 deles, quantidade superior aos demais países, é o maior produtor industrial do mundo e coloca anualmente 440 mil engenheiros em atividades no país, os EUA colocam 180 mil.

A Europa está em decadência incontestável. Dependente de energia barata e do estrangulamento das suas ex-colônias para manter sua economia e sua padrão de vida, mas enfrenta a cada dia uma forte contestação dos países africanos, em especial da região sahel, dos quais depende para obter minerais indispensáveis para suas usinas termonucleares que, no caso da França, equivale a 67% da produção energética. A Alemanha está em franca recessão e sua indústria em declínio produz desemprego em massa.

A União Europeia caiu na armadilha norte américa de enveredar numa guerra a qual sabiam não poder ganhar, transformando a Ucrania no palco do maior conflito militar desde a segunda Guerra Mundial.

A aposta norte americana foi enfraquecer seus aliados e tornar os principais países da Europa dependente da sua indústria de guerra, do seu gás liquefeito, que é quatro vezes mais caro do que o gás russo. Como miséria pouca é bobagem, Trump declarou durante a campanha que vai retirar os recursos americano destinados a OTAN e propõe que os seus pares europeus, aumentem seus orçamentos militares para 5% do seu PIB.

O novo Presidente norte americano não esconde o desprezo pela América Latina – tratando-a como quintal dos EUA. A pressão sobre a retomada do canal do Panama, por onde passa grande parte das mercadorias para China e hoje é controlado por empresas Chinesas, já surtiu efeito: O Panamá se retirou da Nova Rota da Seda.

O Brasil é um dos países mais vulneráveis às pressões americanas no nosso continente. Não precisam de um Jeep com um cabo e um soldado, visto que contam com hegemonia cultural, financeira e tecnológica. Como dizia o saudoso Ariano Suassuna “Para invadir o Brasil não precisam de caças, mísseis ou soldados, basta Michael Jackson e Madonna”.

A nossa soberania nunca esteve tão ameaçada como hoje. Além da supremacia, econômico-financeira, tecnológica e cultural dos EUA, temos uma elite servil aos seus próprios interesses que sempre estão associados ao capital estrangeiro, para dizer o mínimo. Temos uma extrema direita que se autointitula patriota, mas que bate continência para bandeira americana, lambe botas do trumpismo, faz coro com a mais sórdida propaganda da Doutrina Monroe, “América para os americanos” frase escrita no boné do Governador Tarcísio de Freitas, para demonstrar seu viralatismo visceral. Perderam a vergonha e a compostura – Se é que havia.

As nossas FFAA são intimas das forças americana e não do nosso proposito constitucional de defesa do Brasil. Temos um General do nosso exército, Valeriano de Faria Junior, como subcomandante de interoperabilidade do exército sul dos EUA. O cargo é um dos mais altos a serviço dos interesses estratégicos norte americano. Será que nós estamos comandando o exército norte americano ou estamos a serviços?

O Brasil é uma potência em tudo que o império cobiça: petróleo, minerais críticos, terras raras, água doce, biodiversidade e sabemos que a Águia está sedenta. Enquanto isso a nossa diplomacia esvazia o principal objetivo geopolítico estratégico que é unir o continente sul-americano. Foi um erro boicotar a entrada da Venezuela nos BRICS, optando pela Argentina que, sob governo de Milei, recusou o convite. E para agravar não reconheceu a vitória do Presidente Nicolas Maduro contrariando o princípio de não intervenção presente no artigo 4 nossa Constituição Federal.

Com isso o Brasil precisa urgentemente reafirmar sua soberania, retomando sua política ativa e altiva, que foi a marca dos governos do PT.

FRANCISCO CHAGAS  é vice-presidente do PT da Capital SP –  Ex-Vereador e Dep Federal

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