Gleisi: “BC atua politicamente contra o governo Lula, e juros altos são crime contra o país”

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A presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que o presidente do Banco Central, o bolsonarista Roberto Campos Neto, atua politicamente contra o governo Lula e o desenvolvimento do país ao manter a taxa básica de juros (Selic) em níveis elevados. Segundo afirmou ao JR Entrevista, da Rede Record, na quinta-feira (4), “é um crime que se faz contra o Brasil”.

Gleisi falou sobre o assunto ao ser perguntada se via algum componente político nas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC sobre a Selic.

“As decisões do Copom atualmente têm sido políticas, não tem justificativa a gente ter uma taxa de juros de dois dígitos numa economia que está estabilizada, que a inflação já caiu, que está controlada. Por que que nós estamos pagando essa taxa de juros? Isso implica em não ter investimento, implica no crédito das pessoas, ou seja, na circulação do dinheiro na economia. Então é um crime que se faz contra o Brasil”, disse.

“É a posição do PT de que o Campos Neto faz uma gestão política no BC. E é muito ruim colocar a culpa no salário do trabalhador, no aumento de renda das pessoas mais pobres, dizer que isso leva à inflação e, portanto, tem que aumentar juros. É cruel, chega a ser cruel. O BC deveria se preocupar com o desenvolvimento do país, baixar a taxa de juros, melhorar o crédito, incentivar o investimento, é disso que o Brasil está precisando”, acrescentou.

Questionada sobre a posição do PT em relação à autonomia do Banco Central, aprovada durante o governo passado, Gleisi lembrou que o partido votou contra a proposta no Congresso.

“O Banco Central é uma autarquia. Por que ele vai ser independente? Ele é o banco do Tesouro Nacional. Então, para que ele vai ser independente? É uma autarquia. Daqui a pouco você está fazendo eleição para o presidente do Banco Central, e ele nomeia o presidente da República. A gente tem que entender que, quando o povo elege o presidente, o povo está elegendo em cima de um projeto, inclusive de linha econômica”, enfatizou.

“Dar independência ao Banco Central e um mandato ainda diferenciado do mandato do presidente eleito é você ter uma contraposição à política que foi eleita nas urnas”, acrescentou a deputada, que também foi questionada sobre outros assuntos durante a entrevista.

Plano do PT para os municípios

Em relação às eleições municipais deste ano, Gleisi afirmou que o principal desafio do PT é apresentar um plano inovador para as cidades, envolvendo melhorias no transporte coletivo, na segurança, na infraestrutura, além de torná-las mais inteligentes. “Esse é o desafio. A gente tem se preparado para fazer essa disputa”, afirmou.

A parlamentar disse também que o PT tem conversado com outros partidos do campo democrático para discutir possíveis alianças. “Onde nós pudermos e tivermos candidaturas boas, nós vamos apresentar. Onde não tiver, nós vamos apoiar o aliado”, disse, citando como exemplo São Paulo.

“São Paulo é a prioridade número um, não tenho dúvidas disso. O presidente [Lula] já falou sobre isso, e nós vamos jogar todo o peso possível na candidatura do [Guilherme] Boulos. Nós queremos ver Boulos prefeito de São Paulo. Acho que isso é muito importante, é uma das prioridades nossas. E, obviamente, onde a gente tiver candidaturas competitivas”, declarou. “A gente tem conversado mais com campo de partidos que está conosco nos ajudando a governar o Brasil. Nós queremos que esse campo democrático eleja o maior número de prefeituras possível”, pontuou.

Gleisi prosseguiu: “Não é só o PT, é claro que a gente quer eleger prefeitos do PT, mas nós vamos comemorar muito se nós tivermos uma eleição desse campo. Então, quando prefeitos desse campo democrático, que defendem a democracia, que defendem as instituições forem eleitos, isso vai nos dar garantia de que a gente tem uma boa base para sustentar o processo democrático brasileiro”.

Candidaturas femininas

A presidenta disse ainda que entre as maiores prioridades do PT está o fortalecimento das candidaturas femininas, não só nos municípios, mas em todos os espaços de poder. Observou que, nesse sentido, é fundamental o combate à misoginia e a todas as formas de violência contra as mulheres.

Gleisi citou várias políticas do governo Lula nesse sentido, como a criação do Ministério das Mulheres, a construção das Casas da Mulher Brasileira, as patrulhas Maria da Penha e ações visando à penalização dos agressores. Ao mesmo tempo, a deputada disse ser fundamental mudar uma cultura de desrespeito aos direitos das mulheres.

“Infelizmente, a gente vem de uma cultura em que a mulher é vista quase como um objeto. É muito recente o tempo de libertação das mulheres, de entrada no mercado de trabalho, de estudo, muito recente. Por muito tempo, a nossa cultura foi de que as mulheres eram submissas, eram subalternas, eram inferiores. Portanto, podiam se dispor das mulheres como se achasse melhor, inclusive com violência”, sublinhou.

“Então, todos esses mecanismos que eu falei a gente tem que usar para também mudar a cultura. E é óbvio que a escola é essencial. Então, você ter educação de igualdade de gênero, de respeito, isso é fundamental para você ir mudando a cabeça”, acrescentou.

Avanços do governo Lula

Gleisi também fez um balanço positivo dos 15 primeiros meses do governo do presidente Lula, citando como exemplo ações como a retomada do aumento real do salário mínimo, a reorganização do Bolsa Família, a renegociação de dívidas pelo Desenrola Brasil e a ampliação da isenção do Imposto de Renda até dois salários mínimos, entre outras.

“Eu acho que teve muitos avanços, não tenho dúvidas disso. Em um ano do governo, todos os programas que Lula instituiu a partir do primeiro mandato dele, que foram destruídos no último governo do Bolsonaro, ele colocou de pé. E são programas importantes, muitos têm a ver diretamente com a renda”, disse.

Sergio Moro no banco dos réus

Gleisi também foi perguntada sobre o início do julgamento do senador Sergio Moro pelo Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), no processo em que o parlamentar é acusado de caixa 2, abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação na campanha de 2022. O tribunal julga em conjunto duas ações, uma apresentada pela Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV) e outra pelo PL.

A deputada foi questionada, por exemplo, sobre a declaração do relator do processo, desembargador Luciano Falavinha Souza, de que o PT quer impedir Moro de participar da política. O magistrado votou contra a cassação do mandato do senador.

Gleisi criticou a postura de Falavinha. “O juiz tinha que se ater aos autos do processo, e não emitir opinião política como fez o relator. Ele tinha que dizer se Moro praticou ou não os crimes que estavam elencados nas petições apresentadas, e acho que ele extrapolou a sua função”, afirmou a presidenta do PT.

Tentativa de golpe

Ainda durante a entrevista, Gleisi defendeu as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal contra Jair Bolsonaro e outros golpistas que atentaram contra a democracia e estimularam ataques como o de 8 de janeiro de 2023. Ela defendeu que o Supremo Tribunal Federal (STF) puna exemplarmente todos os responsáveis.

“Que os culpados sejam punidos, independente de quem seja, independente do grau de poder, se for civil, se for militar. Nós não podemos ter anistia para quem quer praticar o golpe. É muito grave o que aconteceu. A depredação da Praça dos Três Poderes foi uma consequência do golpe que queriam aplicar. Ou seja, não estavam satisfeitos com o resultado da eleição”, afirmou. “É importante que tenha punição. Porque aí nós não repetimos o que foi em 64”, disse, sobre o golpe militar que acaba de completar 60 anos.

Da Redação da Agência PT

 

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