O ato pró-Bolsonaro ocorrido na Avenida Paulista, no dia 25.02(sábado), expôs diversas contradições:
1. Teve a pretensão de ser pela magnitude da mobilização, um ato que consistiria em dar um recado ao STF contra a possibilidade de encarcerar Bolsonaro; porém,o ato em si, no geral, apresentou-se contraditoriamente com características mais defensivas, de qualquer forma, porém, os ataques havidos contra a democracia, no conjunto, embora bastante velados foram sumamente gravíssimos.
2. Apresentou-se como um ato de conteúdo político, mas, no fundo e na prática, fez a mescla perigosa entre religião e política com predominância daquela.
3. Os bolsonaristas habituados a visibilizarem-se na condição de agressores vestiram a pele de vítimas considerando injustas, as prisões ocorridas em decorrência do 8 de Janeiro.
4. Da fala de Bolsonaro fica evidente que, simultânea e contraditoriamente, sinalizou que quer a conciliação, mas nas entrelinhas incitou a violência, ao sugerir que o cidadão tem o direito de se armar.
5. O bolsonarismo é um movimento de extrema-direita antidemocrático, mas pretendeu mostrar que defende a democracia e que as prisões de bolsonaristas ocorridas e consideradas arbitrárias, não condiz com o Estado Democrático de Direito
6. Bolsonaro que, de acordo com Magno Malta, é o escolhido de Deus foi um dos que menos falou Nele.
7. Bolsonaro ao evocar a Anistia para os prisioneiros do 8 de Janeiro, embora não assuma abertamente ter havido o golpe deixa implícito, e de forma contraditória, que o crime contra as instituições democráticas ocorreu, mas entende ser injusta e excessiva as penas impostas.
8. O bolsonarismo que adota um discurso rígido de punição de criminosos, na prática, mostra-se conivente com os mesmos, ao objetivar que criminosos golpistas sejam perdoados.
9. Silas Malafaia enaltece a liberdade e cantarola parte do Hino da Independência “ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil” , mas, de forma contraditória, Bolsonaro evocou um período em que os autoritários responsáveis pela fim das liberdades civis foram, naquela ocasião, perdoados e espera que a Anistia seja repetida.
10. O ato buscou exibir contornos pacifistas ao mesmo tempo em que se defendeu o Estado de Israel e cujas práticas de guerra tem cometido genocídio contra o povo palestino.
11. O ato condenou a corrupção, e de forma contraditória, negligenciou as variadas formas de corrupção de que Bolsonaro é acusado
12. No ato Michelle Bolsonaro sublinhou o patriotismo e o dito amor pelo país e,no entanto, ela não foi capaz de realçar um único gesto patriota de Bolsonaro enquanto esteve no governo; ao contrário, de forma contraditória, o que se constatou foi que o bolsonarismo sempre subordinou o país, aos interesses de potências estrangeiras e prestou particular reverência aos EUA.
13. No ato embora a retórica fosse de defesa da democracia, Bolsonaro de forma contraditória, excluiu o amor de manifestar-se livremente, o qual designou de ideologia de gênero e,com isso, antidemocraticamente condenou todo um segmento minoritário da população, o público LGBTQIAPN+, a não ter o direito de exercer a liberdade de amar.
Estas são as 13 contradições do bolsonarismo, que ficaram evidenciadas no ato do dia 25 de Fevereiro.
Estas 13 contradições também evidenciam que o bolsonarismo, por mais que pretenda exibir sua força, se desespera ao intuir que o que lhe confere força é aquilo que, aos poucos, gradativa, mas permanentemente, lhe enfraquece; ou seja, o bolsonarismo não tem cura, não tem como sarar de si mesmo, porque ele próprio está acometido de si; ele próprio é a moléstia, que de si mesmo adoece.
O fundamentalismo religioso, o autoritarismo estrutural, os preconceitos morais, a repulsa à diversidade cultural e o patriotismo servil são os componentes explosivos e, portanto, a química tóxica, que torna forte, mas ao mesmo tempo, torna fraco o bolsonarismo, daí porque o bolsonarismo não pode sarar de si.
Haverá circunstância em que estará mais sadio e apto à guerra e períodos em que sua saúde estará seriamente comprometida e optará por pacificações temporárias; este ciclo de ascensões e quedas sucessivas é apenas o acontecimento que antecede, no entanto, a sua autodestruição.
Aliás, do bolsonarismo não há como estimar a duração de cada ciclo, seja de plenitude ou de declínio, ambos podem ser breves ou prolongados.
Por isso, o que importa é quando refluir sua força contê-lo; isolando-lhe, a fim de postergar ao máximo, que venha se manifestar no corpo social adoecendo assim, este organismo vivo, que é o conjunto da sociedade.
No entanto, é certo que por contágio deve haver já na sociedade, outras variantes do bolsonarismo e quando uma cepa se extinguir, o corpo social poderá ser reinfectado por uma nova mutação dele.
Talvez, chegará o dia e talvez, já esteja próximo o momento, em que o organismo social terá que lidar com o ataque de múltiplas variantes do bolsonarismo.Defendo a tese de que: o corpo social devera buscar imunizar-se desde já contra os bolsonarismos por vir. Em uma palavra: ao invés do bolsonarismo padrão, previsível e reconhecível teremos que estar aptos a lidar com os bolsonarismos, ou seja, suas diversas variantes, não tão identificáveis, mas presentes, não previsíveis, mas atuantes, não padronizáveis, mas diversificadas.
O ato do dia 25 de Março expôs as contradições viscerais do bolsonarismo tal qual conhecemos e, de certa forma, anuncia que é incurável e mais cedo ou mais tarde, irá morrer de si mesmo.
No entanto, ali, também uma nova variante do bolsonarismo começa a ser gestada. Ali, naquele ato, a retórica da defesa do Estado Democrático de Direito por parte do bolsonarismo expõe que o bolsonarismo tal qual se apresentou originariamente está mudando e mudando também sua narrativa.
E outros bolsonarismos irão surgir: alguns mais brandos, outros ainda mais totalitários; todos, no entanto, antidemocráticos e mais resistentes.
Devem surgir variantes de bolsonarismos culturais; bolsonarismos feministas; bolsonarismos identitaristas de toda ordem; além do bolsonarismo verde e amarelo, surgirão outras variantes de outras cores, de diferentes matizes também(todos, no entanto, de transição e mais resilientes) e os perigosos bolsonarismos conciliadores, estes já aparecem, timidamente, já se anunciam.
A fragmentação do bolsonarismo matriz nada mais é do que a variação da moléstia para novo contágio do corpo social.
Fato é que seja qual for a versão dos bolsonarismos por vir, a versão predominante no momento(a mais competitiva para a disputa do poder), esta versão também permanecerá contraditória(embora busquem-lhe em alguma nova mutação dar-lhe maior coerência) até o surgimento de uma nova réplica mais aprimorada,mais resistente, mais apta para a disputa ideológica no interior do corpo social. Eis aí: a engenharia perversa, a engenharia do mal.
A sociedade, isto é, o corpo social tornou-se um laboratório onde múltiplas variantes do bolsonarismo já encontram-se em gestação e irão, em breve, buscar reinfectar o organismo político, adoecendo-lhe com uma nova febre autoritária.
O que é mais importante do que contabilizar o número de pessoas que estiveram presentes no ato do dia 25 de Fevereiro é meditar e extrair as lições daquele acontecimento, a saber:
1. Não só o bolsonarismo que conhecemos está mudando, mas diversas mutações em curso estão produzindo diversas variantes de múltiplos bolsonarismos.
2. A luta daqui em diante deverá ser feita não apenas contra o bolsonarismo em geral(que será o bolsonarismo predominante), mas contra as outras manifestações específicas(e não dominantes) de cada um dos diversos bolsonarismos.
3. Um bolsonarismo não dominante poderá vir a se tornar um bolsonarismo predominante; por isso, será necessário mapear o total das variações em geral associando a mutação mais recente com a correlação de forças em vigor no momento e que possibilite o fator que constitua o surgimento das condições propícias para,inclusive,se compreender esta nova dominância.
4. Será preciso traçar estratégias para o combate simultâneo do bolsonarismo dominante e dos não-dominantes
5. É preciso sarar o corpo social do bolsonarismo presente e dos bolsonarismos que o reinfectarão.
6. O futuro,no entanto, pertence a classe trabalhadora e a sua ciência, que desde o século XIX constatou,enquanto classe, qual é seu lugar na história da civilização.
Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro
Este texto é de responsabilidade do autor