“O Banco Central (BC) precisa fazer o trabalho dele”. A advertência foi feita pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no início do mês, ao explicar como a taxa de juros estratosférica do Brasil, hoje em 12,25% (a maior do mundo, descontada a inflação), segue impedindo a geração de empregos e, portanto, um crescimento mais acelerado do PIB. Desde fevereiro, o movimento Juros Baixos Já vem realizando protestos em todo o país pela redução da Selic. Nesta terça-feira (12), as centrais sindicais voltam às ruas em mais uma manifestação em frente às sedes do BC pelo país, no mesmo dia em que o Comitê de Politica Monetária (Copom) está reunido para definir o novo patamar do indicador. O anúncio deve sair nesta quarta-feira (13).
“Nossa campanha é por emprego e renda, porque a Selic elevadíssima reflete nas taxas de juros cobradas pelas instituições financeiras no crédito, o que prejudica o investimento produtivo, atrapalha a economia e encarece a vida de todos nós”, explicou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira, ao site da Central.
A redução a conta-gotas dos juros, imposta pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, provoca múltiplos efeitos nocivos para a atividade econômica, que vão desde o aumento dos juros da dívida pública, prejudicando a capacidade de investimentos do Estado, passando pelo endividamento de empresas e das famílias, até o atraso no processo de reindustrialização do país.
Para o secretário de Assuntos Econômicos da Contraf-CUT, Walcir Previtale, O Banco Central – hoje, um porta-voz do rentismo, ao invés de uma instituição comprometida com a geração de empregos -, demorou demais para iniciar os cortes na taxa básica de juros, que ficaram em 13,75% por um ano, de agosto de 2022 até agosto deste ano, em um lento processo de asfixia da atividade econômica.
Assista a série Banco Central de Bolsonaro: o sabotador da economia
“Iniciamos uma intensa pressão nas redes sociais e nas ruas, com materiais didáticos em vídeos para explicar à população o que isso significa: crédito mais caro para as famílias e empresas, travando o crescimento do país e aumentando o endividamento de todos nós”, destacou Previtale, também ao site da CUT.
Juros da dívida, vilão do orçamento
“Em agosto de 2023, por exemplo, o gasto do governo federal com juros da dívida chegou a R$ 689 bilhões em 12 meses (quase 20% a mais do que nos doze meses anteriores)”, informou a economista da subseção do Dieese na Contraf-CUT, Vivian Machado, à reportagem da CUT.
“Esse valor representa quase duas vezes o gasto previsto para todo o ano de 2023 com Bolsa Família (R$ 145 bilhões), com a Farmácia Popular (R$ 2 bilhões), Minha Casa Minha Vida (R$ 9,7 bilhões), Educação (R$ 11,2 bilhões) e Saúde (R$ 182,6 bilhões)”, comparou a economista.
“Ou seja, com a redução dos juros, o Estado teria um orçamento muito mais justo e equilibrado, beneficiando a economia como um todo e quem realmente precisa: a sociedade e especialmente das famílias que mais dependem de políticas públicas”, defendeu Machado.
Os juros reais do Brasil, em torno de 7%, continuam a manter o país como líder no ranking das nações que praticam as mais altas taxas do planeta.
PIB
Apesar da atuação nefasta do bolsonarista Campos Neto, que segue agindo em defesa da drenagem de recursos da União para irrigar o sistema financeiro, como demonstrou a economista, as medidas macroeconômicas adotadas ao longo de 2023 pelo governo Lula surtiram efeito, levando todos os analistas do mercado a uma revisão de suas projeções sobre o crescimento do PIB. No terceiro trimestre, o Produto Interno Bruto apresentou variação positiva de 0,1%, contrariando projeções que apontavam para uma retração de 0,3%.
Com isso, as previsões para o crescimento deste ano têm ano se mantido acima de 3%, mesmo com a incômoda presença de Neto, o soldado do rentismo entrincheirado no Banco Central graças à “independência” do BC. Trata-se de verdade um golpe do governo Bolsonaro para submeter o Estado brasileiro aos caprichos do capital financeiro, aos moldes do teto de gastos de Temer, que sufocou completamente os investimentos em educação e saúde nos últimos cinco anos.
“O Brasil não cresceu mais por causa de Campos Neto”, denunciou o deputado federal Lindbergh Farias, em suas redes sociais. “É um absurdo que a taxa de juros não caia mesmo com o PIB subindo e a inflação caindo”, protestou.
“Os juros altos são a forma mais cruel, mais perversa de transferir renda dos pobres para os ricos”, concordou o presidente da CUT, Sergio Nobre.
Confira abaixo os endereços para manifestações em frente às sedes do Banco Central:
– Brasília (DF): Setor Bancário Sul (SBS), Quadra 3 Bloco B – Ed. Sede. Brasília;
– Belém (PA): Boulevard Castilhos França, 708 – Campina;
– Belo Horizonte (MG): Av. Álvares Cabral, 1.605 – Santo Agostinho;
– Curitiba (PR): Av. Cândido de Abreu, 344 – Centro Cívico;
– Fortaleza (CE): Av. Heráclito Graça, 273 – Centro;
– Porto Alegre (RS): Rua 7 de Setembro, 586 – Centro;
– Rio de Janeiro (RJ): Av. Presidente Vargas, 730 – Centro;
– Salvador (BA): 1ª Avenida, 160 – Centro Administrativo da Bahia (CAB);
Da Redação da Agência PT, com CUT