Manifestantes promoveram o enterro simbólico da Rede Globo, da Veja, do Estadão, da Folha e outros veículos de comunicação na noite desta quinta-feira, 5, na Avenida Paulista, como parte das mobilizações da Jornada Nacional contra o Monopólio Golpista. Houve atos em outras capitais do país.
Velas acesas e a marcha fúnebre embalaram o caixão durante o féretro, ocorrido entre o vão livre do Masp e o prédio da Gazeta, bastante popular na cidade, que tem sobre seu teto a principal antena transmissora da Globo.
“O povo já percebeu o complô dos grandes veículos de comunicação. Precisamos de um jornalismo que tenha pluralidade de vozes. Este cenário monopolista, que coloca um ladrão como Eduardo Cunha na condução de um processo de impeachment, é lamentável”, afirmou a secretária de Comunicação da CUT/SP, Adriana Magalhães.
Relembrando o golpe militar de 1964, Adriana destaca a repetição, hoje, de uma marca registrada contra a democracia e o povo: “Enquanto as pessoas estavam sendo torturadas nos porões da ditadura, em 1964, a Folha de São Paulo emprestava seus veículos para apoiar o regime. Esse formato mudou, o golpe mudou de rosto, mas a manipulação é a mesma”.
Para José Augusto Camargo, o Guto, secretário geral da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o monopólio das comunicações é um desrespeito à diversidade de opiniões e de realidades do povo brasileiro. “Manifestar contra o monopólio é exigir que a informação seja tratada adequadamente e a população seja respeitada. Queremos uma democracia que seja política e cultural”, disse. “Do ponto de vista do trabalho, o monopólio é negativo porque diminui emprego, controla a informação, concentra a renda e achata salários dos profissionais”.
“Esse golpe tem a mídia como um dos principais sujeitos, ao lado do Judiciário. A Rede Globo tem feito um trabalho de destruir reputações, vazar informações falsas, de envenenar mentes e de criar uma opinião pública de forma favorável aos golpistas”, opinou o professor de Comunicação da USP, Dennis de Oliveira.
O golpismo, se continuar avançando, deve colocar em risco alguns avanços na área de comunicação, que “não foram muitos”, segundo a coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Renata Mielli. “A lei do direito de resposta, o marco civil da Internet, as cotas de produção nacional no conteúdo da TV paga”, cita Renata. “É fundamental que as pessoas percebam que a comunicação é um direito. É preciso entender como funcionam as concessões, por exemplo. Mas o monopólio da informação não deixa que se discuta comunicação”, completa.
A mídia monopolista não destrói apenas reputações, mas vidas, lembra o coordenador de comunicação do MST, Rafael Soriano. “É uma mídia que não aprofunda os temas e que trata todos aqueles que lutam por justiça social como baderneiros. Isso motiva inclusive vítimas físicas, em ataques de pistoleiros a acampamentos de sem-terra”, disse.