A menos de um mês para as eleições gerais, vivemos um momento decisivo no Brasil: iremos definir o país que queremos nos próximos anos. É um momento-chave de um processo que dura quase uma década, quando as chamadas jornadas de 2013, iniciadas com protestos contra o aumento da passagem de ônibus, foram a gênese da ascensão de movimentos antidemocráticos e fascistas ao poder –que resultaram na consequente crise política, econômica e ética que vivemos atualmente. Entretanto, ao contrário do que a extrema direita esperava, os movimentos populares progressistas se mantiveram atuantes e mobilizados, lutando pela democracia e pelos direitos da população brasileira.
No ano passado, promovemos seis grandes protestos de rua, nos quais reunimos em todo o país milhares de pessoas em defesa da vacina contra a Covid-19, pelo impeachment do atual presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), pelo auxílio emergencial no valor de R$ 600 e pela defesa da democracia. Os protestos também denunciaram a grave crise social que leva, neste momento, 33 milhões de pessoas a passarem fome no Brasil, que soma quase 10 milhões de desempregados.
Em 2020 e 2021, em plena pandemia de Covid-19, nos vimos abandonados à própria sorte pelo governo Bolsonaro, que virou as costas para as famílias enlutadas. No auge da pandemia, ressaltamos as ações de solidariedade que os diversos movimentos populares promoveram para mitigar os efeitos da crise sanitária, especialmente nas favelas e periferias das cidades, e a luta pela suspensão dos despejos enquanto durarem os efeitos da pandemia no país, em uma grande vitória dos movimentos populares.
Agora, estamos diante das eleições mais decisivas de nossas vidas. E novamente o papel dos movimentos populares tem sido fundamental no que diz respeito ao diálogo com a população —especialmente a de bairros periféricos— sobre a situação do país e caminhos para superar a crise atual e reconstruir o Brasil, tendo como base a democracia e o combate à desigualdade social.
Estamos engajados no processo eleitoral com o objetivo de eleger um novo governo — que tenha compromisso com democracia, trabalho e renda, educação, saúde, moradia e preservação do meio ambiente. O Brasil precisa de um governo que respeite a diversidade e pluralidade de pensamento e se preocupe com políticas públicas voltadas para a questão racial, das mulheres e da juventude. Nossa missão é sempre lutar por um país democrático, justo, com trabalho e em que ninguém passe fome ou tenha de viver na rua por não ter um teto para morar.
Raimundo Bonfim – Advogado, é coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP) e da Frente Brasil Popular, articulação que congrega 80 organizações de movimentos populares, sociais, estudantis e sindicais
Artigo foi publicado originalmente pelo jornal Folha de São Paulo, no dia 6 de setembro