São Paulo, 26 de Junho de 2022
Ao Excelentíssimo Presidente da República Jair Messias Bolsonaro
Assunto: Sobre a soberania do povo
Senhor Presidente,
Quando em 2018, por meio do voto eletrônico, a população brasileira decidiu alçá-lo a condição de Chefe do Executivo, o regramento institucional da democracia formal burguesa, que prevê, no âmbito do Estado Democrático de Direito a alternância de poder, aliás legítima, foi por isso respeitada por todos os adversários políticos de Vossa Excelência, em justa deferência a consubstanciação da vontade popular pelo voto.
No entanto, Vossa Excelência, diante das pesquisas de opinião reage mal, tumultua a República, de forma vil, autoritária e covarde, ao insinuar uma eventual insurgência contra aquela mesma soberania popular que, antes, tendo confiado a Vossa Excelência os destinos da nação, agora, tal soberania popular já aquiesce de que outrora enveredara por mau caminho e assim, quer redimir sua falta de fé, nos valores cristãos e humanistas substituindo, então, Vossa Excelência, pela escolha de um novo mandatário digno da incumbência da arte de governar.
Isto ocorre porque, as pessoas, do pobre à classe média, já compreendem (e bem), que Vossa Excelência, promove um governo comprometido exclusivamente com um segmento muito minoritário da população, que está circunscrito há um seleto grupo de bem-nascidos: magnatas do mercado financeiro, mercadores da fé e coronéis do agronegócio que multiplicaram suas fortunas, em detrimento de cada um de nós, convertidos em meros clientes (antes de Temer e Vossa Excelência éramos cidadãos), nesta hoje pátria mãe hostil. Meu Deus!
Meu Deus! Vossa Excelência insinua até que pode não aceitar o resultado das urnas. E quem disse que Vossa Excelência tem que aceitar o resultado? Se não agradar a decisão popular, o que Vossa Excelência deve fazer é acatar o que for consumado pelas urnas e pronto. Não somos reféns nem de Vossa Excelência, nem de Vossa vontade. Assim, na terra como no céu cumpra-se, a vontade do povo.
A população brasileira está pendurada na cruz da inflação. Cruz credo! Crucificada pela alta de preços. Ave Maria! É um Deus nos acuda e salve-se quem puder. É um sofrimento diário, sem limite (só por Jesus!), que Vossa Excelência finge ignorar de forma ridícula, até. Fariseu! Vossa Excelência fala em nome de Deus – que é Amor-, mas prega o ódio (fariseu! fariseu!) porque seu deus, na verdade, chama-se Taurus, do qual Vossa Excelência é imagem e semelhança.
Vossa Excelência tem pacto macabro com a indústria da morte. O evangelho de Vossa Excelência é o porte de arma para saciar com sangue efervescente o lucro da indústria armamentista.
Vossa Excelência é a própria banalização do mal. Um recuo civilizatório sem precedentes.
Como, então, Vossa Excelência pode sequer supor ser bem quisto pela população se a recíproca não é verdadeira? Como Vossa Excelência pode cogitar que será reeleito, se presta um verdadeiro desserviço ao país?
Se quer Vossa Excelência fazer do Brasil um matadouro, depois de tê-lo convertido em um cemitério a céu aberto para sepultar aqueles que foram exterminados pela Covid-19. Se Vossa Excelência ambiciona que o Brasil seja uma arena para sacrificar em espetáculo hediondo, aqueles que escaparam do descaso de Vossa Excelência, que tão absurdamente se fez profeta negador da ciência.
Como, então, pretende Vossa Excelência governar de novo, se a governança de Vossa Excelência se converteu em tortura, martírio e morte, de quem deveria, antes, ter cuidado?
Como alguns seres humanos em particular certa linhagem da raça monstruosa de pequenos tiranos como Vossa Excelência, tem predileção especial em nutrir-se de ilusões vazias e absolutamente desarrazoadas, sem fundamento e nexo, que seria até hilário, se não fosse trágico, esse buquê mal cheiroso e mal-ajambrado de delírios autoritários, de quem como Vossa Excelência, supõe que a soberania popular seja tão alienada, a ponto de novamente outorgar ao sadomasoquismo político de Vossa Excelência, o direito de outra representação.
Aliás, neste sábado (25/06), no Balneário Camboriú (SC), enquanto participava da Marcha Para Jesus, Vossa Excelência expeliu bravatas taurinas e até sugeriu agir fora da Constituição. Mas, a constituição do discurso de Vossa Excelência é muito mirrada, um discurso fraco com chifres de Aquiles, sem substância aliás, um palavrório sem vigor, sem tutano, nem sentido.
No devaneio Vossa Excelência, inclusive, afirmou “Cada vez mais, tenho um exército que se aproxima das 200 milhões de pessoas em cada canto deste Brasil”.
Mas, omitiu que cada vez mais, é este exército que Vossa Excelência supunha possuir, que em cada canto constitui milhões de pessoas do povo, de zés-ninguém, de anônimos, de subalternos, que pleiteam a liberdade e voltam-se contra Vossa Excelência.
Assim, assevero e aqui também, nesta epístola, me despeço de Vossa repulsiva Excelência, arrematando com o fragmento de um poema dele – que alerta que, em Outubro, virá primeiro:
Um raio níti-
do
De riso dourado, que irá fulminar o Touro
E depois virá uma gargalhada longa do trovão amigo
E haverá a bendita chuva dos dois lados…
E aparecerá enfim, um arco-íris risonho de treze estrelas, na volta para o presente do futuro
A ponte hoje é para o
AGORA
E virá uma chuva de bênçãos floridas
E surgirá uma Nova Primavera de Reconstrução e Transformação
Assim falou Zé Ninguém
Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro