A retomada de um instrumento de diálogo com a população brasileira, uma das marcas democráticas das gestões do PT, é o principal eixo de atuação da plataforma Fala SP, lançada nesta quarta-feira (14), em evento em São Paulo com o pré-candidato ao governo do Estado, Fernando Haddad. Diante de lideranças do PT e dos aliados PV, PCdoB, Rede e PSOL, Haddad apontou que a superação da crise no estado e no país depende de um amplo processo de participação da sociedade civil na construção de um modelo de governança. O petista também respondeu perguntas da população sobre temas como desemprego, segurança pública, saúde e educação.
“Nós temos uma atitude progressista em relação à vida e à política, e isso significa confiar, sim, na democracia representativa, mas sem dispensar a participativa”, esclareceu o ex-prefeito e ex-ministro da Educação. “Sem as conferências, os encontros, as assembleias, fica muito mais difícil governar porque fica mais difícil ouvir o que o cidadão quer”.
“Abrimos essa plataforma para toda a sociedade, o cidadão mais humilde vai poder participar e será ouvido”, destacou o pré-candidato. “E não apenas na elaboração do plano de governo”.
Haddad lembrou das gestões do PT na Presidência, quando realizou 74 conferências nacionais, quatro apenas na área de educação. “O Plano Nacional de Educação, que foi rasgado pelo atual governo, foi construído a partir dessas quatro conferências. Então a gente entende que é fundamental manter os canais de comunicação desobstruídos para a elaboração do plano mas, sobretudo, durante o governo”.
Haddad frisou que o desafio de implementar uma agenda de desenvolvimento em cenário de pós-pandemia será ainda mais difícil pelo agravamento da crise causado pelas gestões desastrosas de João Dória no Estado e de Bolsonaro no país. “Não só pelo estado de devastação institucional de políticas públicas, mas também porque a pandemia – até pela péssima gestão da crise sanitária – deixou um rastro de destruição na educação. O analfabetismo está voltando forte entre as crianças, jovens abandonando a escola, tanto no ensino médio quanto na educação superior, há fila do SUS”, elencou.
“A vantagem é que estamos bem acompanhados: PV, PCdoB, a Rede agora, o PSOL. O último subsídio da Rede me foi entregue generosamente pela Marina Silva em mãos”, elogiou o petista. “Queremos que esse canal seja utilizado, estamos recebendo documentos importante dos partidos, das entidades, do movimento popular, mas cada cidadão pode e deve se considerar convidado a participar”, afirmou o pré-candidato. “A melhor maneira de transformar o mundo é pela política, com “p” maiúsculo”.
A seguir, os principais temas tratados no encontro.
Desemprego
“É o maior desafio de curto prazo que o país está vivendo, é óbvio que a gente depende também do que irá acontecer no plano federal”, avaliou o petista. “São Paulo vive um problema de desindustrialização, por conta de guerra fiscal e da falta de iniciativa em explorar o potencial de desenvolvimento do estado”.
“Precisamos de programas emergenciais, sem eles o povo vai continuar morando na rua. São 40 mil pessoas só na capital em situação de rua. Precisamos de programas que vão lidar com a base da pirâmide, construção civil”, afirmou Haddad.
“Mas não podemos dispensar uma visão de médio e longo prazo. E para isso, quero criar em São Paulo o Sistema Estadual de Inovação, que vai congregar, como em todo lugar do mundo, uma relação tripartite: o governo, as instituições de pesquisa e o setor privado”, explicou. “Precisamos combinar esses esforços para reindustrializar São Paulo”.
Cultura
“A cultura é do povo, o Estado não produz cultura”, definiu. “Se a gente criar o ambiente cultural necessário para compreender o que a população está produzindo e estabelecer parcerias, desobstruir os canais, fomentar a cultura, ela desabrocha. O maior ensinamento tivemos em São Paulo, com figuras extraordinárias, caso do Juca Ferreira, do Nabil [Bonduki]. [Se trabalharmos] não de costas para a sociedade, mas olhando face a face, com os grandes movimentos de cultura, os projetos irão surgir”.
Haddad citou a Lei de Fomento à Periferia, criada localmente. “A periferia redigiu uma lei, e por que? Porque os editais não chegavam. Em função dessa lei, os editais passaram ser direcionados para públicos específicos. E quem nunca tinha visto a cor do dinheiro público para fazer acontecer a cultura do seu bairro, da sua comunidade, começou a participar das atividades culturais”, explicou.
“Vejo a cultura em uma dimensão ampla e, para mim, o transporte público, o pedestre, fazem parte da cultura da cidade. Não é uma coisa dissociada, você viver a vida urbana, a ativação do espaço público, tudo isso faz parte de uma ressignificação da cidade. E a sociedade sabe fazer. Inspirado nesses exemplos todos, nos pontos de cultura do Gil, se a gente fizer esse rearranjo, e fizer chegar a todas as comunidades, veremos muita coisa bonita ganhar visibilidade no nosso estado”.
Segurança Pública
“Temos sentado com várias lideranças, tanto da polícia militar, quanto civil, que tenham uma filosofia de sociedade parecida com a nossa: queremos uma sociedade de paz e prosperidade”, observou.
“Faremos um plano de metas, que tem dois elementos: a redução da criminalidade e o aumento da resolutividade dos crimes. Qual é a novidade: vamos associar o plano de metas ao plano de valorização profissional das carreiras, tanto civil quanto militar, com três elementos: carreira e salário, formação continuada e investimento em inteligência e tecnologia”.
“Nós precisamos desse pacto com as polícias, a sociedade precisa disso. O governo tem de ser o fiador desse pacto. Mas metas precisam ser atingidas para a população saber que há um polícia cada vez mais comprometida com a entrega desse bem precioso, o maior de todos, que é a segurança e a integridade de cada um de nós. E do outro lado, as polícias saberem que tem um governo que as valoriza do ponto de vista profissional”.
Saúde
Segundo Haddad, o SUS é um patrimônio nacional que ganhou grande relevância durante a pandemia, que trouxe um grande desafio: “as filas dos procedimentos se acumularam barbaramente. Tem gente que não vai ao médico tem dois, três anos, esperando consulta, exame e cirurgia”.
“Estamos habituados a pensar o SUS como posto de saúde e hospital geral. Mas a gente sabe que há equipamentos intermediários que são fundamentais para o SUS funcionar bem: as UPAs e o outro que dialoga com fila do SUS, o chamado hospital dia, onde se encontra o especialista, o exame de imagem e os centros cirúrgicos, para cirurgias eletivas que não exigem internação. Pelo nosso diagnóstico, não temos UPAs e hospitais dia em quantidade suficiente no interior do estado para desafogar os hospitais gerais e dar fluxo aos postos de saúde”.
Haddad defendeu relações do governo com as prefeituras para melhor desenvolvimento do SUS. “O governo do Estado não participa do SAMU”, lamentou.
Evasão escolar e coordenação com governo federal
O pré-candidato demonstrou preocupação com a evasão escolar de jovens que precisam trabalhar por falta de apoio. “Se assistência estudantil já era importante antes da inclusão, imagine agora que temos 8,6 milhões universitários no Brasil”, analisou Haddad.
“Jovens no ensino médio estão às vezes sendo obrigados a ajudar suas famílias em virtude da crise econômica. Então se a gente não chegar junto dessa juventude, vamos perder o melhor dela. Uma juventude que tirou nota pra entrar no Prouni, no Sisu, e hoje não consegue os quatro, cinco anos de graduação. É um tempo longo, se formos pensar”, disse.
“Uma das coisas mais corretas que fizemos foi fazer o maior plano de assistência estudantil junto com a expansão universitária, programa hoje que está sendo cortado pelo governo federal”, criticou.
Haddad apontou que é possível recuperar o ensino básico e superior com coordenação entre estados e o governo federal. “O Lula tem dado ênfase à necessidade de eleger bons governadores, mais do que no passado. Porque hoje o Brasil está dependendo de uma boa governança estadual e municipal para tirar esse atraso o mais rapidamente possível e atender as famílias, que têm urgência”, alertou.
Meio Ambiente
“Questão ambiental é transversal, tem de passar por todas as secretarias”, apontou Haddad, citando ações das secretarias de sua gestão na prefeitura de São Paulo, como as duas primeiras centrais de triagem de lixo mecanizadas da América Latina, o maior programa de mobilidade da história de São Paulo, com ciclovias, corredores, redução de velocidade e, consequentemente, de acidentes.
Haddad lamentou o estado de degradação ambiental causado por Bolsonaro. “Pouco mais de dez anos atrás, estávamos comemorando indicadores de redução de desmatamento, de sustentabilidade. Mudou muito a postura do governo”, frisou. “Com a intenção do atual governo, nada dá certo. É um descaso com a agenda ambiental impressionante”.
Haddad disse que é possível fazer uma agenda ambiental que inspire outros estados e até outros países.
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Da Redação da Agência PT