A violência de gênero é algo ainda muito presente no dia a dia das mulheres. Dados da Prefeitura de São Paulo mostram que o número de atendimento de mulheres em situação de vulnerabilidade quase dobrou em um ano. Em 2020 foram atendidas 24 mil, em 2021 esse número saltou para 42 mil.
Pesquisa divulgada em junho de 2021 mostra que uma em cada quatro mulheres foi vítima de algum tipo de violência entre março de 2020 e início de 2021, aponta levantamento do Datafolha encomendado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
As mulheres que ocupam cargos de poder também enfrentam esse problema. O PT São Paulo buscou relatos de parlamentares petistas que vivenciaram violência de gênero e seus casos refletem o que ocorre na sociedade.
Na capital paulista, a vereadora Juliana Cardoso conta que como mulher de origem indígena e da periferia, desde muito cedo aprendeu o que é a violência de gênero, mas não como uma forma de se deixar dominar, muito pelo contrário.
“Em meu quarto mandato como vereadora na Capital paulista, já fui vítima de diversas formas de violência política de gênero, desde interrupções de fala, desqualificação, ameaças, inclusive a meus filhos (caso de um homem, não vereador, que fez ameaças de estupro contra mim). Ainda no ano passado, fui atacada por um vereador bolsonarista pela resistência contra o absurdo projeto de lei (PL 813/2019) que apresentava como “solução” para a gravidez na adolescência, a abstinência sexual”, afirma a vereadora de São Paulo.
A violência política de gênero não é nova na nossa realidade. Segundo levantamento do jornal O Globo, oito a cada dez deputadas e senadoras já foram vítimas desses ataques no Congresso. O assassinato de Marielle Fraco e o golpe contra a presidenta Dilma são exemplos disso. Mas o que já era grave se tornou ainda pior no desgoverno atual, que trata as mulheres, os indígenas, a população negra, trabalhadores, etc, como inimigos.
A vereadora Juliana ressalta que esse cenário não a desanima e relata: “Além de seguir firme na luta pela democracia na Câmara, tenho pautado na Câmara o tema da violência política de gênero, inclusive com a realização de seminário sobre o tema com a participação da ONU Mulher e de vereadoras de outros partidos e, mais recentemente, com a apresentação de dois projetos que apresentei. Um deles institui o dia de enfrentamento à violência política de gênero no calendário oficial da cidade. O outro projeto prevê o reconhecimento da violência política de gênero como quebra de decoro parlamentar”, ressalta a vereadora Juliana Cardoso.
Duas jovens vereadoras do interior de São Paulo, Paolla Miguel de Campinas e Duda Hidalgo de Ribeirão Preto relatam situações de violência de gênero vivenciadas por elas no ano passado (2021).
A vereadora negra e periférica Paolla Miguel, 30 anos, foi insultada por bolsonaristas contrários ao passaporte da vacina. Enquanto fazia sua fala no plenário da Câmara Municipal de Campinas chegou a ser chamada de “Preta Lixo” quando discursava sobre um projeto que trata do Conselho de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra e um Fundo Municipal de Valorização da Comunidade Negra.
“Nós mulheres sofremos isso no dia a dia e na política isso não é diferente, então mesmo o fato de eu ter sido eleita, de eu ser uma entre os 33 vereadoras (es) de Campinas, as pessoas que estavam no plenário naquele dia lutando contra o passaporte da vacina me veem como uma pessoa que não pode ocupar o espaço da política. Aquilo que aconteceu comigo, acontece todo dia, infelizmente com várias outras mulheres pelo Brasil a fora. As frases ditas, a forma agressiva como eles se dirigiam a mim, era completamente diferente de como eles se dirigiam aos homens. Então, só isso mostra como que ocupar aquele espaço para nós mulheres é muito mais difícil,” aponta a vereadora de Campinas.
Em Ribeirão Preto, a jovem vereadora de Ribeirão Preto Duda Hidalgo de 22 anos, sendo a vereadora mais jovem eleita da história da cidade, tem enfrentado um processo de cassação do seu mandato.
“A oposição combativa à Prefeitura que faço na cidade vem incomodando todos àqueles que se beneficiam deste governo que privilegia a elite e deixa o povo desamparado. Ver uma mulher jovem, negra e bissexual na Câmara defendendo os direitos da população tem enfurecido os setores conservadores da cidade que não aceitam pessoas como eu ocupando espaços de poder e dando voz àqueles que não eram ouvidos até então”, afirma Duda.
Outro caso bastante representativo de violência de gênero na política é o ocorrido em dezembro do ano passado com a deputada federal pelo PT de Rio Grande do Norte, Natália Bonavides.
O apresentador Ratinho, ao vivo, numa rádio de grande repercussão, sugeriu que Natália fosse lavar roupa, costurar as cuecas do seu marido e ainda que fosse metralhada, reforçando a manutenção da lógica misógina de delimitação do espaço da mulher ao âmbito estritamente doméstico, para servir homens, e o próprio extermínio.
“Isso tudo foi disparado após ele atacar nosso projeto de lei (PL 4004/21), que prevê o respeito à diversidade nos casamentos. Essas ameaças e ataques não ficarão impunes, acionamos a justiça e faremos sempre que necessário. Debater o tema e lutar pelo fim da violência de gênero é fundamental para mudarmos os rumos da história e construirmos uma sociedade onde a vida e os direitos das mulheres sejam respeitados”, relata a deputada federal Natália Bonavides.
Diane Costa da Redação do PT São Paulo