A última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) “independente” em 2021 fechou com a esperada alta de 1,5 ponto percentual da taxa básica de juros da economia (Selic), de 7,75% para 9,25%. No primeiro encontro de 2022, avisou o órgão, haverá outro reajuste do mesmo grau, o que fará o indicador ultrapassar o patamar de julho de 2017 (10,25%) e agravará o quadro recessivo que o ministro-banqueiro Paulo Guedes insiste em dizer que é mero discurso da oposição.
Esta foi a sétima reunião consecutiva em que o BC “independente” decidiu pela alta. A escalada, de 7,25 pontos percentuais desde março, é o maior ciclo altista dos juros desde 2002, último ano do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Tanto em 2002 quanto agora, o motivo é o mesmo: a perda de controle sobre a inflação.
Em 2002, a inflação anual chegou a 12,25%. Dezenove anos depois, a meta inflacionária de 3,75%, com tolerância de 1,5 p.p. para cima ou para baixo, já quase triplicou até outubro. O índice acumulado nos 12 meses anteriores chegou a 10,67%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Brasil é líder de alta dos juros
Já os dados coletados pelo BIS, banco central dos bancos centrais, mostram que o ritmo de alta dos juros brasileiros é o maior entre os analisados, e o país voltou a liderar o ranking de juros reais. Apesar disso, a inflação brasileira está entre as três mais altas.
Entre as causas da carestia atual estão o real, desvalorizado pelo descrédito mundial do desgoverno Bolsonaro, e as altas constantes dos bens intermediários (insumos da produção). A política de dolarização dos preços da Petrobras termina o serviço, contaminando toda a cadeia produtiva e também o consumo na ponta.
Nesta sexta-feira (10), o IBGE anunciará o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e o INPC Amplo de novembro, e as prévias mostram o avanço da carestia no mês. “Diante do aumento das projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista”, justifica o Copom em comunicado.
Por isso a projeção de nova alta na próxima reunião, em fevereiro. E pode ir além do já contratado. “O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”, alerta o comunicado.
Juros altos derrubam produção
A “evolução da atividade econômica”, no momento, segue em viés de baixa, com seguidas revisões negativas das projeções para o desempenho da economia – neste ano e no próximo, pelo menos. Em tempos de deterioração econômica como os atuais, com a inflação e o desemprego corroendo a renda dos trabalhadores e a poupança e o consumo em queda, juros altos inviabilizam investimentos e qualquer outra chance de recuperação da atividade da economia real.
O mesmo não ocorre no mundo virtual do mercado financeiro. A organização Auditoria Cidadã da Dívida estima que o custo da dívida pública federal, que beneficia principalmente grandes bancos e investidores, dá um salto de R$ 25 bilhões anuais no pagamento de juros a cada aumento de 1 p.p da Selic.
Em agosto, os títulos da dívida pública indexados à Selic alcançaram a fábula de R$ 2,518 trilhões. Economistas do Bradesco estimam que o pagamento de juros da dívida deve aumentar de R$ 438 bilhões para R$ 658 bilhões em 2022, enquanto políticas públicas de combate à fome e à miséria são exterminadas pelo desgoverno Bolsonaro.
Com a picardia típica de sua terra, o vice-líder da Minoria na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), mostrou a realidade invadindo a Bovespa, ilha da fantasia dos financistas brasileiros. “Viva nossos artistas que estão na resistência! ‘Vaca Magra’ é obra da artista cearense Márcia Pinheiro. A obra faz parte de um protesto contra a fome e a miséria no Brasil”, apontou o deputado em postagem no Twitter.