Filiação de Douglas Belchior reafirma compromisso do PT com luta antirracista

Muito mais do que um ato de filiação ou o lançamento de uma pré-candidatura à Câmara dos Deputados, o retorno do historiador Douglas Belchior ao PT, marcado por evento no Teatro Oficina, em São Paulo, na noite de segunda-feira (6) (assista abaixo), serviu para reafirmar o compromisso do Partido dos Trabalhadores com a luta antirracista e as demandas do movimento negro brasileiro.

“Nós estamos aqui a serviço do povo brasileiro. (Ao discutir o racismo,) Nós discutimos tudo, porque somos a maioria do povo e nossos problemas correspondem a todos os problemas que este país carrega e tem. Considero que isso aqui é um convite. Não é o movimento de um militante do movimento negro que se filia ao PT. É o convite do movimento negro ao PT, para que ele corresponda às expectativas da maior parte da população brasileira”, afirmou Belchior.

As palavras do fundador da UNEafro e articulador da Coalizão Negra por Direitos ecoavam a fala de Regina Lúcia dos Santos. “Quem discute a pauta racial neste país discute tudo. Discute moradia, educação, saúde, justiça, a fome, a miséria, o encarceramento. Quem discute a pauta racial neste país discute o Brasil como tem que ser”, havia dito, minutos antes, a coordenadora do Movimento Negro Unificado (MNU) em São Paulo.

Duas das várias lideranças do PT presentes ao encontro, a presidenta nacional do partido, Gleisi Hoffmann, e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad aceitaram o convite feito por Belchior. “A luta libertadora para fazer com que os trabalhadores tenham seus direitos é uma luta que, no Brasil, só tem sentido se for uma luta antirracista (…) porque a maioria do povo brasileiro é preta, pobre, trabalhadora e é mulher”, disse Gleisi, recordando que, em 2020, mais da metade dos vereadores eleitos pelo PT são negros e negras.

Já Haddad, que recebeu apoio dos presentes para se lançar candidato ao governo de São Paulo em 2022, lembrou que o Partido dos Trabalhadores, durante os governos Lula e Dilma, contribuiu para que a população negra tivesse importantes conquistas, embora pequenas quando se considera o tamanho do trabalho ainda a ser feito. E esse trabalho precisa ser realizado com a participação ativa do movimento negro.

“Nós temos de assumir um compromisso com vocês, e viemos fazer isso de público. E isso tem que se traduzir em políticas públicas, em caminhos para os nossos irmãos brasileiros enxergarem no país a sua representatividade. Hoje, eu entro em uma sala de aula e falo ‘o Brasil está aqui’. Ela tem cheiro, tem gosto, tem cor de Brasil. Mas é a sala de aula, apenas ela. Quantos outros espaços vão ter de ganhar essa coloração? É para isso que você vai estar conosco. Vem com garra, vem com força, porque o Brasil vai mudar muito mais nesta década do que mudou na primeira década deste século”, afirmou o ex-prefeito.

Trabalho coletivo
O evento organizado por Douglas Belchior reuniu várias das principais lideranças negras brasileiras, que exaltaram a cultura, a religiosidade e a história de luta do povo preto. Nos discursos, muito orgulho e muita disposição para a luta. “Temos uma luta sistemática para implementar, que é a luta contra o genocídio da população negra, que se expressa, sobretudo, contra a juventude negra. Tenho certeza de que estamos produzindo aqui um processo vitorioso”, disse Milton Barbosa, o criador, ainda nos anos 1970, do MNU.
A volta de Douglas Belchior ao PT, seu primeiro partido, no qual ingressou nos anos 1990, foi ainda saudada por petistas emblemáticos, como o senador Paulo Paim (PT-RS), a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), o deputado federal Vicentinho (PT-SP) e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. “É uma honra recebê-lo como todo esse movimento de negros e negras que estão fazendo a diferença neste país. Você, como um homem que tem dedicado a sua vida ao nosso processo de independência, de democracia e de  liberdade, saberá como ninguém somar a esse grande projeto e continuar fazendo a diferença”, disse Benedita, que gravou um vídeo para o evento.
“Seja bem-vindo, o PT ganha com você”, acrescentou a coordenadora nacional do MNU e presidente da CUT-GO, Iêda Leal. “O exercício vai ser eleger homens negros e mulheres negras, LGBTs e trans negros no país todo, porque a gente quer modificar o Planalto no sentido de colocar pessoas que possam nos ajudar a, de fato, construir uma democracia, como Zumbi e Dandara. Nós faremos Palmares de novo.”
Ao encerrar, Douglas Belchior saudou todos aqueles que fazem parte do movimento negro e lembrou que cada conquista, cada candidatura, cada eleição de uma pessoa negra no Brasil, é uma conquista coletiva. “Nós estamos aqui em nome dos que morreram na travessia, daqueles que se rebelaram em cada quilombo, em nome das mulheres que na cozinha envenenavam seus senhores, daqueles que organizavam rebeliões nas senzalas. Nós estamos aqui para cobrar acerto de conta com a história. Não estamos aqui em nosso próprio nome. Isso não é uma candidatura, é um acerto de contas com a história. É a desobediência mais radical em um país racista como o nosso, que é, para além de sobreviver ao genocídio, ocupar espaços de poder. Isso não está permitido por eles e nós estamos desobedecendo”, discursou.
“Preciso saudar meus companheiros e minhas companheiras, sem os quais eu não estaria aqui. Muito obrigado. Chegamos aqui contra tudo e contra todos, contra o Estado brasileiro, que é o maior violador de direitos humanos que existe. E, mesmo assim, mesmo contra o projeto genocida deste Estado, estamos aqui hoje, enchendo o Teatro Oficina. Não construindo uma candidatura. Porque essa candidatura que vamos ter ano que vem é uma, que vai puxar um bonde, e vamos eleger uma bancada do movimento negro para o Congresso Nacional em 2022”, completou, antes de puxar Canto das três raças, composição de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro que acabou entoada por todo o teatro.


https://youtu.be/0ggcjj4wqKE

Redação da Agência PT

Posts recentes:

Arquivos

Pular para o conteúdo