Charles Gentil: Segunda Carta Aberta ao Digníssimo Presidente da República Federativa do Brasil

Foto: Gabriel Paiva

São Paulo, 12 de Agosto de 2021

Ao

Excelentíssimo Senhor Presidente da República

Jair Messias Bolsonaro

Assunto: Voto impresso – Blindados, tanques de guerra e porta mísseis.

Senhor Presidente,

Para a arte do bem governar são necessários dois augustos movimentos; um externo e outro, interno.

À ação externa exige por um lado, condutas extremas e permanentes destinadas ao povo que se quer cuidar e, por outro lado, incansável empenho para que esta tarefa, logre êxito.

À ação interna convêm por um lado, cultivar a serenidade plena e o autodomínio total, para superar os desafios que a posição de comando requer e, por outro lado, exercitar a maior abrangência da compreensão e do amor infinitos, para, assim, homenagear-se a prática consequente da vera Justiça.

Desta maneira, esclareço a Vossa Excelência, que o intuito deste intróito é tão somente fazer refletir, neste espelho de admoestação fragorosa, a radiante imagem da Vossa desconformidade com tão belos encantos, da arte do bem governar.

E por isso, não obstante a sua mais completa inadequação, ao exercício de mandatário supremo de uma nação e, no entanto, ciente de que Vossa Excelência dispõe como ser humano que é – de razão suficiente – para não denegar o conteúdo das críticas,aqui, ora perfiladas, faço apenas firmemente observar – a título de prudente precaução política – que meu propósito, não é assediar Vossa Excelência, com minha veneranda insatisfação, mas apenas esposar nesta epístola: a excelsa rebeldia que inflama meu peito com a singela verdade, a fim de que deste autêntico himeneu, nasça sem fraquejar, na consciência de Vossa Excelência, a nítida compreensão de que, enquanto mandatário é indesejado, sobretudo, por ser insolente.

Aliás, macular às ruas de Brasília, mais especificamente a Praça dos Três Poderes, com a presença física de comboios blindados, tanques de guerras e lança mísseis, sob o cínico pretexto dos preparativos para a já tradicional Operação Formosa, mas, consentir esta performance militar, no exato dia em que o Congresso deliberava sobre o voto impresso, não só constitui por parte de Vossa Excelência, invulgar desprestígio a ordem democrática estabelecida, mas também patente afronta ao Estado Democrático de Direito, uma vez que, tal incursão soou como um acinte e com o vil propósito de intimidar a votação, visando impor o desfecho que melhor aprouvesse a Vossa Excelência, e que por ser insolente enquanto mandatário, no entanto, anuiu a referida manobra militar, e, com isso, apequenou – alerto ! -diante do mundo, as nossas Forças Armadas.

E se insurjo estas ponderações como contraponto necessário da pompa empregada para a entrega do convite feito a Vossa Excelência, para prestigiar a Operação Formosa, o faço por entender que deveria, antes, Vossa Excelência, prestigiar o povo pelo qual deveria zelar, destinando-lhe, nestes tempos difíceis de pandemia, os recursos utilizados para consumar tão gritante e infértil apresentação militar.

Por obséquio, rogo a Vossa Excelência, que abdique desta querela inútil, no que tange ao voto impresso, sobretudo, agora, que, em votação, se decidiu pelo arquivamento deste tema, em virtude da confiabilidade já comprovada, de nosso atual sistema de votação.

Que Vossa Excelência, saiba ser obediente ao mandamento constitucional que prevê, nos regimes democráticos, a alternância de poder como aspecto constitutivo, do Estado Democrático de Direito.

Que Vossa Excelência respeite a soberania popular, quando em voto eletrônico ou em seu devido tempo nas ruas, optar o povo por destitui-lo do comando da nação, por entender que os valores da democracia e da liberdade, encontram-se acima das pretensões de Vossa Excelência, de se perpetuar no poder.

Despeço-me, por hoje

Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro. Coordenador do Comitê Popular Antifascista Ponte Rasa Pela Democracia e Lula Livre.

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