A defesa por Bolsonaro – em uma live de 29 de Julho – do voto impresso auditável e a contagem pública dos votos faz parte de uma estratégia de marketing político, em que o presidente-genocida procura, a fim de se perpetuar no poder, construir uma nova narrativa de sua velha prática política, bem como disfarçar seu incontornável autoritarismo
perante o eleitorado que cobiça obter, a fim de alargar na sociedade, a base de seus apoiadores.
A tática consiste,então, em camuflar-se com um falso verniz democrático,sobretudo, para arrebanhar os incautos e que ainda não compreenderam, o real significado do disfarce adotado por ele.
Daí porque, é salutar observar que Bolsonaro pretende aparentar-se à imagem de um convicto e sincero defensor da democracia e da liberdade, disfarçando suas características e pretensões autoritárias incorrigíveis; outras camuflagens estão em curso, tais como: de homem público de retórica belicosa a dissimulado pacificador e de político deseducado a cínico genocida cordial.
No que tange a primeira camuflagem: de autoritário confesso a “democrata” declarado analiso,aqui,neste artigo, como quem descortina em Bolsonaro – por detrás das pretensas boas aparências e supostas elevadas intenções, -a verdade nua e crua, tal como ela é, e que se apresenta nesta contradição fundamental: Bolsonaro coloca a máscara transitória de democrata para camuflar seu autoritarismo permanente.
E aqui é preciso que as outras contradições também fiquem claras: Bolsonaro (se não conseguir impedir as eleições-Plano A) quer votos, em 2022. E é, por isso, que tem como projeto alternativo se desvencilhar da imagem do autoritarismo, ao fazer defesa do voto impresso auditável e a contagem pública dos votos(no fundo, Plano B, cortina de fumaça, se o Plano A falhar), como alegada forma de defender os valores da democracia e da liberdade(com o propósito real de por fim, a estes mesmos valores).
Não é possível ainda afirmar se este projeto de Bolsonaro logrará êxito; se sua eventual tática eleitoral de se camuflar transitoriamente como defensor da democracia e da liberdade será levada a cabo, o que se pode afirmar neste momento é o caráter contraditório deste processo, em que Bolsonaro busca recriar sua imagem política.
O aspecto contraditório desta recriação imagética, se exprime, em linhas gerais, da seguinte forma: ao mostrar-se como democrata tem que, necessariamente, reiterar e tornar visível o perfil autoritário que quer camuflar e é, justamente, ao revelar sua face autoritária, que tem que disfarçar o aspecto democrata, que quer mostrar.
Isto ficou patente, em 29 de Julho, em sua live repugnante, quando Bolsonaro,de forma hipócrita e fazendo uso de técnicas de disseminação da desinformação, versou sobre a suposta transparência e eficácia permitida pelo voto impresso, e que este se constitui em um meio institucional seguro para obstruir o retorno do PT ao governo,uma vez que, a referida legenda – segundo Bolsonaro – literalmente, quebrou a economia do Brasil (quanta desinformação e má fé!, reunidas em uma só pessoa; é um espetáculo grandioso, do ponto mais alto a que se pode chegar, a pequenez da alma humana, com vistas a se perpetuar no poder)
E em Bolsonaro, tudo é assim: terrivelmente contraditório. Inclusive, a recriação de sua imagem política, que se produz naquele atoleiro de contradições insolúveis, aludido acima.
Noto ainda que, ao falar em sua live sobre voto impresso auditável e contagem pública dos votos, a intenção de Bolsonaro é mostrar-se como defensor da democracia e da liberdade, fazendo-se passar por alguém sinceramente preocupado com a lisura do processo democrático, daí porque o autoritarismo que quer camuflar, de forma contraditória, tem que reaparecer e tornar-se visível, quando Bolsonaro em sua live rejeita, então, a ideia de que o PT retorne ao governo e atribui ao voto impresso auditável este papel, esta possibilidade.
Mas, ao mostrar este perfil autoritário, que se insurge contra a alternância de poder nos regimes democráticos, Bolsonaro busca disfarçar o aspecto democrata que quer mostrar, pois, o autoritarismo que se revela esta justificado, na medida em que, trata-se de proteger a ordem democrática contra tentativas de solapar seus fundamentos, pela interdição da introdução de ideias vermelhas – consideradas nocivas – em nosso território nacional.
Tanto é assim que, na referida live, Bolsonaro – já em plena campanha eleitoral – não bastasse fazer apologia do voto impresso auditável como pretensa fórmula para impedir uma nova gestão petista,em seguida, e de forma ainda mais detestável,Bolsonaro, aventa que o PT objetiva importar para o Brasil, o modelo comunista autoritário adotado em Cuba ou na Venezuela (novo feixe de desinformações difundidas e uso incorreto de termos e conceitos.Bolsonaro se compraz, em torturar a verdade com a mentira).
A contradição, porém, é patente: Bolsonaro pretende na recriação de sua imagem política para fins eleitorais justificar seus ímpetos e métodos autoritários como forma de preservar o regime democrático ( e assim, já se fabrica o próximo estelionato eleitoral !!! ).
Daí porque, contra o PT e seu fictício radicalismo de esquerda, Bolsonaro em sua live de 29 de Julho, apresenta-se como o defensor da democracia e da liberdade disposto, aliás, a verter seu próprio sangue em nome desta causa e por sua pátria, a qual conclama ser o destino a que irão se entregar, outros autênticos brasileiros patriotas.
Com isso, o que ficou constatado é que a pretexto de versar em sua live sobre voto impresso auditável e contagem pública dos votos, Bolsonaro,de fato, fez uso da maior parte do tempo, para antecipar sua campanha eleitoral contra a esquerda em geral, e contra o PT, em particular.
Aliás, não foi à toa que o lema:
Brasil acima de tudo
Deus acima de todos
Nesta live foi disfarçado com o lema:
Democracia acima de tudo
Liberdade acima de todos
Os referidos lemas expressam as imagens indissociáveis de Bolsonaro.
O primeiro lema, da imagem já cristalizada: do homem de pulso, autoritário, politicamente incorreto e que ganhou as eleições de 2018(aliás, pelo voto eletrônico que,hoje, ataca- nunca é demais lembrar)
O segundo lema, de uma imagem ainda em construção: do homem de bem, que quer proteger a democracia e a liberdade do cidadão, que é perseguido e injustiçado por se propor a fazer o que é correto.
Então fica claro, que a remodelação da imagem de Bolsonaro é trabalhada no âmbito do marketing político, como tática eleitoral, de caráter preventivo contra o incremento do desgaste em curso, da primeira imagem já consolidada.
Daí porque, de qualquer forma, a segunda imagem de Bolsonaro, não pode vingar sem estar atrelada, necessariamente,a primeira.O inverso, também é verdadeiro.
Caso contrário, não seria Bolsonaro.
Que fique claro: a retórica feita por Bolsonaro da defesa da democracia e da liberdade é,justamente e de forma contraditória, o caminho que conduz para a eliminação gradual destes valores.
Por isso, se é certo que o marketing político pode produzir ilusionismos, para cumprir propósitos eleitorais imediatistas; nós, críticos socialistas, temos o dever de combater o adversário com as próprias armas conceituais que julgam nos vencer, motivo pelo qual afirmo de forma categórica:
Para que se possa aprimorar a democracia no país é preciso fazer o correto; é preciso libertar o Brasil: de Bolsonaro e seus cúmplices no Planalto.
Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro. Coordenador do Comitê Popular Antifascista Ponte Rasa Pela Democracia e Lula Livre.