O cenário que se desenha para a pandemia de Covid-19 nas próximas semanas é o que os especialistas chamam de tempestade perfeita: vacinação baixa e em queda, platô alto de infecções e óbitos, sistema de saúde em colapso e a circulação de novas variantes, caso da indiana, já detectada em território nacional pela falta ineficiência do governo Bolsonaro em controlar fronteiras. Nesta quarta-feira (26), o país registrou 2.399 mortes, e apesar de uma queda de 5% na média móvel de mortes nas últimas semanas, a taxa segue alta. Em relação à ocupação de leitos, 17 estados e o Distrito Federal têm mais de 80% das vagas de UTI preenchidas. Em dez capitais, a taxa supera 90%. A terceira onda chegou.
“Nós já estamos na terceira onda, já temos os indícios” alerta o neurocientista Miguel Nicolelis, em entrevista ao Estadão. “Temos um aumento de casos e de internações na UTI ocorrendo em todo o país, temos claramente um colapso hospitalar que não foi resolvido, ele vem se arrastando aos trancos e barrancos, temos vários Estados com taxa de ocupação na UTI acima de 90% e temos agora uma variante indiana – apesar dos alertas de que nós deveríamos ter feito o controle rígido nos aeroportos e nos portos e em todas as entradas no Brasil, nada foi feito”, desabafa o professor titular da universidade Duke, nos EUA.
“Nós temos no horizonte as condições para uma terceira onda, com o agravante de que o sistema de saúde já levou duas pancadas de grande porte e vai ter grande dificuldade de lidar com uma terceira onda”, advertiu o cientista.
Nicolelis é um crítico ferrenho do que considera medidas sem efeito prático na contenção do surto. Ele se refere ao relaxamento da restrição de circulação de pessoas quando as taxas de ocupação começam a cair, caso de estados como São Paulo, criando um efeito sanfona.
“O efeito sanfona é o seguinte, você espera a situação piorar até o limite – acima de 90% de ocupação da UTI -, toma algumas medidas de restrições e mantém isso por uma ou duas semanas. Quando há uma pequena melhora você abre de novo “a sanfona”, e isso não adianta, isso só posterga a pandemia e o sofrimento da sociedade e faz com que o Brasil seja um dos últimos a sair dessa crise”, condena o professor.
Variante indiana
Para o ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas, Pedro Hallal, a terceira onda chegou um mês antes do previsto. “E infelizmente essa terceira onda tem a tendência de ser mais grave ainda do que as anteriores, especialmente se nós não conseguirmos controlar a disseminação dessa variante indiana”, advertiu o epidemiologista, em entrevista à GloboNews.
O maior temor das autoridades de saúde é que a variante indiana, identificada em pelo menos sete casos de infecção no país, de acordo com o Ministério da Saúde, seja mais transmissível e agressiva. “A gente já sabe que ela é mais transmissível. O que não temos certeza ainda, e precisa de novos estudos, é se ela é mais agressiva também”.
Halall também condenou a omissão do governo e a falta de medidas rígidas para frear a pandemia. “A terceira onda tem potencial de ser devastadora se o Brasil não levá-la a sério, como aliás não levou a sério nem a primeira, nem a segunda onda”, criticou.
E, diferentemente dos outros picos de infecção, a nova onda de contágio chega em um momento de alto platô de mortes e ocupação de leitos. “O momento que está começando nós já estamos com 2 mil mortes de média móvel diária, então assim, não tem como fazer uma previsão otimista”, observou Hallal.
Redução de vacinas
O quadro tende a se agravar com o anúncio, feito pelo Ministério da Saúde, de uma redução de pelo menos 8,4 milhões de doses de vacinas no mês de junho. O motivo é uma revisão da previsão de entrega da Fiocruz. A queda total é de 52,2 milhões para 43,8 milhões de vacinas. O instituto alega falta de insumos.
Em audiência na Câmara dos Deputados, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga admitiu a dificuldade em ampliar o programa de vacinação e disse que o governo “vê com preocupação” a possibilidade de uma terceira onda de Covid-19 no país.
Da Redação da Agência PT