Após denúncias do PT e pressão dos estudantes, CPI da Máfia da Merenda vai ouvir denunciante do esquema

 

 

Com apoio dos estudantes, oposição conseguiu alterar o plano de trabalho da comissão apresentado pela base de Alckmin e derrubar limitações de acesso a documentos remetidos à Comissão

 

 

A reunião da CPI da Máfia da Merenda na volta do recesso foi marcada por momentos de tensão. Na sessão desta quarta-feira (3/8), o presidente e do relator da Comissão tentaram obstruir os trabalhos. Denúncias de petistas e pressão dos estudantes barraram as manobras.

No início da reunião, o deputado Alencar Santana Braga questionou as razões para o presidente da CPI, Marcos Zerbini (PSDB), considerar os documentos da investigação “sigilosos”. Se acatada, a medida estabelecia que os documentos só poderiam ser acessados pelos deputados da Comissão em local e em horários determinados, mediante aviso prévio e acompanhado de um funcionário da Casa.

Líder do PT na Casa, José Zico Prado denunciou que Zerbini estava colocando os deputados “sob suspeita” ao designar um funcionário para que os acompanhasse na secretaria da CPI durante a leitura dos documentos.

Alencar ainda questionou o fato de não poder fazer cópia dessas informações. “Durante o recesso, estive aqui. Gostaria de ter estudado essa documentação, mas o presidente da CPI proibiu o acesso no mês de julho”, denunciou Alencar.

O deputado João Paulo Rillo salientou que CPI tem prerrogativa para ter acesso a qualquer documento.

Zerbini alegou que o segredo de justiça tinha sido recomendação do corregedor. A deputada Márcia Lia rebateu a alegação destacando a autonomia dos parlamentares. “Corregedor não acima da Assembleia”, argumentou.

“Sigilo de documentos no governo Alckmin é regra”, denunciou Alencar.

Diante de pressão dos estudantes que cantavam “se a CPI não der em nada, a Alesp vai ser ocupada” e sem apoio da própria base tucana, o presidente da Comissão acabou acatando os questionamentos da oposição e concordou em liberar os documentos.

Em seguida, os integrantes da CPI foram discutir o plano de trabalho apresentado pelo relator. Ignorando uma série de requerimentos feitos pela bancada petista, o plano poupava todos os parlamentares envolvidos no esquema.

Denunciando que presidente e relator estavam tentando engavetar a CPI, Rillo apontou que, entre os 40 requerimentos que constavam do plano de trabalho, não havia qualquer menção a agentes políticos e, sobretudo, ao presidente da Assembleia Legislativa envolvido no escândalo, deputado Fernando Capez.

Estevão alegava que todos seriam convocados “no tempo certo e correto”. “Qual é esse tempo?”, perguntou Alencar. “Nós queremos ouvir primeiramente pessoas que tragam elementos que acusam”, disse o representante do PT na Comissão.

Novamente pressionado, Zerbini acatou a proposta do PT de ouvir primeiramente os acusados.

O deputado Rillo ainda questionou o relator e o presidente da CPI: “Qual é a origem da CPI da Merenda? Qual foi a primeira denúncia?”. Nenhum dos dois soube responder, mostrando o total desconhecimento sobre o caso. Rillo então sugeriu que também fossem convidados o delegado da cidade de Bebedouro, José Eduardo Vasconcellos, que recebeu a primeira acusação da fraude, e o ex-gerente da Coaf, a cooperativa envolvida no escândalo, João Roberto Fossaluza Júnior, que denunciou o esquema, além dos delegados Paulo Roberto Monteli e Mário José Gonçalves.

A proposta também foi acatada e a Comissão vai ouvir o personagem que deu início à investigação da corrupção na merenda. A reunião acontecerá na próxima terça-feira (09/03) e também ouvirá o corregedor do Estado, Ivan Francisco Pereira Agostinho.

Listando diversas pessoas que devem ser convocadas a depor na CPI, Alencar Santana propôs que a Comissão se reunisse pelo menos duas vezes por semana. Zerbini prometeu colocar a proposta em votação na próxima reunião.

Ao final da sessão, um estudante rompeu a barreira policial e entregou um bolo de fubá que tinha o logo do Governo do Estado na embalagem para cada deputado da Comissão. Segundo ele, essa é a única alimentação que o governo Alckmin tem enviado para sua escola.

Alencar comemorou o resultado da reunião. Segundo ele, a alteração no plano de trabalho mostra a importância dos estudantes continuarem acompanhando todas as sessões. “Foi uma vitória o que aconteceu hoje. Claro que não podemos nos iludir que a base do governador vá facilitar o processo de investigação depois disso. Mas a mudança no plano de trabalho mostra que a atuação firme da oposição e a pressão dos estudantes e da população podem fazer diferença na condução desta CPI”, destacou.

 

Fonte: Cláudio Motta Jr | Linha Direta

 

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