O que fazer? Pergunta clássica que atormenta ou ilumina decisões de partidos e líderes, chefes militares e empresários, dirigentes sindicais e populares, famílias e a cada um de nós. Há momentos e momentos. Alguns decidem o destino de uma nação, de um país, de gerações, outras levam a desastres, tragédias e não poucas vezes, na vida das nações, as destroem ou as reduzem a cinzas ou escombros, como aconteceu com a Alemanha nazista.
Nós mesmos, no nosso imenso e querido Brasil, estamos pagando o preço de erros e decisões ao responder esta pergunta anos atrás. Os partidos PSDB, DEM e MDB lideraram um golpe de Estado, travestido em legal pelo STF e Congresso Nacional, sancionado pela mídia monopolista e pelos quartéis. Ao não reconhecerem os resultados das urnas em 2014, e produzir a desestabilização de um governo democrático, gestaram a tragédia que vivemos hoje sob Bolsonaro.
Como tenho dito e repetido, o Estado nacional e a democracia, a soberania nacional, a coesão social, todas conquistas dos últimos 70 anos, estão em risco. Há um colapso político e social, um desgoverno e um desmonte do Estado, a negação da pandemia, a dor e a tristeza das 200 mil vidas perdidas, além de suas consequências econômicas, sociais e psicológicas. Tudo isso destrói o espírito nacional, mina as instituições e divide o país, aprofunda o desemprego e a recessão, aumenta a desigualdade e a pobreza. Nada mais grave e, portanto, nada mais urgente que legalmente e dentro da Constituição colocar um fim nesse governo, fazer o impeachment de Jair Bolsonaro.
Não há como negar. Chegamos ao limite, o que fez mudar o clima político do país. Diferentes setores sociais e políticos se manifestam pelo impeachment, e cresce a consciência e a mobilização contra Bolsonaro. As consequências políticas do desgoverno e da tragédia de Manaus, anunciando o que pode acontecer em todo Brasil, mobiliza e coloca, de novo, na ordem do dia o impeachment. Mas o que contará é a mobilização popular, as ruas. Daí a necessária posição clara e ofensiva da esquerda trazendo de volta a agenda de mobilização pelo fim do governo Bolsonaro.
Muitos dirão: o pais não suporta e não deve correr esse risco em função do apoio das milícias, das Forças Armadas e de parte da população a Bolsonaro. Os fatos, no entanto, conspiram contra esse temor. Quanto mais tempo Bolsonaro e sua camarilha permanecerem no poder, maiores serão a desagregação do país e os riscos de um colapso econômico e uma convulsão social.
Cada vez fica mais evidente que um Estado policial está em gestação e que as instituições estão sendo franqueadas pelo aparelhamento dos órgãos policiais e de controle. Sem falar no crescente isolamento internacional do país e na perda total de credibilidade, mesmo dos chamados mercados, do capital financeiro bancário.
Combate à pandemia
A principal tarefa, hoje, é o impeachment de Bolsonaro, sem deixar de priorizar o combate à pandemia, o apoio imediato a Estados e municípios, com recursos, logística e pessoal, começando por Manaus. A vacinação universal e gratuita, a testagem massiva, a manutenção do auxílio emergencial e o apoio e auxílio as pequenas e medias empresas para manutenção do emprego são bandeiras que têm que ser defendidas paralelamente à mobilização pelo impeachment. Não há como enfrentar a pandemia sem um plano de investimentos públicos e a superação do teto de gastos, como acontece em todo mundo. A hora é de o Estado financiar a superação da pandemia e evitar uma recessão que pode se transformar numa depressão econômica com graves consequências sociais.
O Congresso Nacional deve ser convocado –o vazio político é um convite ao autoritarismo e negacionismo do governo– para discutir, aprovar essas medidas e cobrar do governo a vacinação universal e gratuita, como pediram os partidos PDT, PSB, PT, PSOL, PC do B e Rede. A eleição para a presidência das casas legislativa não deve servir de pretexto para o adiamento dessa emergência nacional. De qualquer forma, daqui duas semanas teremos o Congresso funcionando e a pauta da emergência nacional deve ser nossa batalha.
O Brasil não tem como conviver com Bolsonaro mais dois anos, não apenas pelos riscos que corremos, mas porque a cada dia seu comportamento é mais desequilibrado e sua obsessão negacionista e de seu desgoverno cobra mais vítimas e mais pobreza e miséria. É evidente que setores que apoiavam Bolsonaro por sua política econômica liberal, privatizante a serviço do capital financeiro já retiram seu apoio temerosos de um colapso. Mesmo defendendo seus privilégios e interesses, ancorados na política econômica neoliberal, buscam uma saída à direita sem Bolsonaro. É verdade que seu vice é um general e de direita, como tem deixado mais do que claro em suas declarações e artigos. Mas seu governo, se ele assumir, não será uma continuidade de Bolsonaro, pois não haverá condições políticas para tanto.
Elite quer manter política econômica
A pergunta a se fazer é até quando os militares conviverão com Bolsonaro e como nossa elite fará uma transição, pois é disso que se trata, até as eleições de 22. Aqueles que no empresariado fecham os olhos a realidade e se apegam a agenda das chamadas reformas estão cegos pela defesa de seus interesses de classe e se afastam dos anseios democráticos e do interesse Nacional. Das Forças Armadas será cobrada sua cumplicidade com o golpe, a eleição e agora o apoio, mais do que explícito –basta ver a presença militar no governo– a Bolsonaro. Embora esteja claro que o país não suporta mais dois anos de governo Bolsonaro, Forças Armadas, capital financeiro e parte do empresariado farão tudo para não ter impeachment e, se ele ocorrer, trabalharão para que o novo governo mantenha a atual política econômica neoliberal.
A esquerda precisa se unir e traçar uma estratégia para que essa transição não seja um acordo por cima, que muda para ficar tudo como está. O protagonismo da esquerda não pode se limitar ao âmbito institucional. Se é certo que a aprovação do impeachment vai exigir composição com a centro-direita e mesmo a direita por sermos minoria no Parlamento, nossa tarefa é transformar o impeachment em um movimento popular que mude a correlação de forças e detenha o atual ciclo de direita e neoliberal.
Nossa capacidade de assumir o protagonismo da luta contra Bolsonaro e de mobilizar amplos setores da sociedade ditará os rumos da luta pela salvação nacional no enfrentamento da pandemia e nas medidas para evitar o desemprego e o desamparo da maioria dos brasileiros e brasileiras, a fome e o aumento da pobreza. Determinará, também, os rumos da luta não apenas pelo impeachment, mas de quem governará o Brasil a partir de 2022 para retomar o fio da nossa história de nação soberana com um Estado de Bem Estar Social, democrática, o que significa fazer uma revolução social para distribuir renda e riqueza, condição essencial para um novo projeto de desenvolvimento nacional.
Com Poder 360
Foto: Sérgio Lima