Por Charles Gentil: Ligações perigosas

Não há dúvidas de que, a invasão do Capitólio – prédio que abriga o Congresso dos Estados Unidos – feita pelas hordas de Trump inconformadas com a vitória, nas urnas, do democrata Joe Biden terá, em breve, aqui, no Brasil, uma reprise assustadora, quando as hordas de Bolsonaro, promoverem nas ruas das principais cidades do país: desordem, balbúrdia e violência gratuita, em função da provável derrota de Bolsonaro, nas urnas, no escrutínio de 2022.


O enredo já é conhecido: a alegação irresponsável feita por Bolsonaro, de que o voto eletrônico não é confiável e que houve fraude nas eleições no Brasil, em 2018.
E não é de agora que o cenário [do caos] de 2022 está sendo montado.Na verdade, pouco depois de seu triunfo eleitorial, Bolsonaro havia dito que estaria preparado para governar por 30 anos.


E, aos mais atentos, sempre foi claro que tal declaração não externava um mero entusiasmo inocente, nem um simples deslumbramento ingênuo devido a recente vitória.


Na verdade, Bolsonaro assumiu publicamente o papel patético de ditador (com possíveis desvios lunáticos de alucinações monarquistas), marca daquele conservadorismo mais que intransigente, perigoso, mais que obsoleto, mais que superado, de quem não admite, por ao menos 30 anos, a alternância de poder e contou, inclusive, com o silêncio cúmplice de expressivos setores da imprensa; não isentando-se daí, nem mesmo os segmentos da grande mídia; todos conspiraram a céu aberto contra a já limitada e precária democracia formal burguesa.


Ainda como parte do enredo Bolsonaro chegou a dizer, que apresentaria provas de que houve fraude na eleição de 2018, e que, por isso, não obteve a vitória no 1o turno.
E não só Bolsonaro não apresentou as tais provas, como mais uma vez, contou com o silêncio generoso da imprensa e a servidão antipatriota de magistrados, que não se dignaram a pronunciarem-se com a devida contundência sobre esta tentativa pública de Bolsonaro em desacreditar um dos fundamentos da democracia, que é o voto direto na escolha, pela sociedade, de seus legítimos representantes eleitos por um determinado período.


Não é só: Bolsonaro passou a fazer declarações de que, o voto eletrônico não é confiável e chegou a pleitear o retorno da votação manual.


Com isso, diante destas reiteradas incitações contra a legitimidade do processo eleitoral evidencia-se que, a motivação incide desde sempre, na recusa de Bolsonaro em aceitar uma eventual derrota nas urnas em 2022, de modo que, busca inflamar seus adeptos para que assegurem sua permanência no poder.


Diante disto, embora muitos se façam de desentendidos, sabe-se o que vai ocorrer em 2022: uma espécie de reprise, aqui, no Brasil, do que houve, neste começo de 2021, nos Estados Unidos.


O que não se sabe, ao certo, é qual será o desfecho verdadeiro deste filme, talvez, dramático, que irá estrear em alta voltagem devido estas ligações perigosas, amarradas no submundo da política norte-americana.


O making of, mostra a produção de bastidores deste filme, em criação na superfície da política brasileira, pelas forças sociais em luta, no Brasil; ainda assistimos já, aos bloopers, que nos parecem, de fato, erros de gravação deste filme; rimos da encenação grotesca de Bolsonaro posando de ditador(mas, conscientes de que sempre há um perigo sério e real nestes desejos autoritários, que buscam se viabilizar).


E o que Bolsonaro faz, na verdade, é tentar confundir, aqueles que diante dos acontecimentos cochilam de leve, entre uma cena e outra.


De fato, a eleição de 2018 foi fraudada, mas a fraude ocorreu em função da retirada dos direitos políticos de Lula, que era e é o candidato preferido da população.


E esta fraude só pôde ocorrer devido o golpe de Estado que, antes, em 2016 depôs mediante uma fraude política, a presidente Dilma Rousseff e depois, quando no pleito de 2018, para derrotar Fernando Haddad, houve, por parte de Bolsonaro e seus terroristas cibernéticos, o manejo das chamadas fakenews(notícias falsas), produzidas em escala industrial e disseminadas também por robôs, que fraudaram a verdade e entregaram de bandeja, o país a um desengonçado aspirante a ditador.


Neste making of podemos ver, que a verdade de que a eleição de 2018 foi fraudada é convertida em uma mentira, quando se quer atribuir – como faz Bolsonaro – a fraude ao cômputo feito pelas urnas eletrônicas, o que é aventado com o deliberado objetivo de, por um lado, confundir as pessoas e por outro, mobilizar seus apoiadores mais extremistas para não aceitarem a regra do jogo democrático da alternância do poder.


Por isso, considerando-se também as cenas que televisionadas presenciamos do Capitólio, já é hora de se fazer uma pergunta diante deste enredo todo, que se desenrola à nossa frente. Vamos supor que, se tenha visto de trás para frente, o que pode ocorrer no Brasil [ uma possível transição não-pacífica do governo], neste caso, o que, de fato, sobretudo, as forças políticas de esquerda tem feito de concreto e qual entendimento consensual se chegou na prática para obstruir, aqui no Brasil, um desfecho – mais que provável – à lá Trump?


E caso se tenha feito de tudo, se ainda assim, o desfecho for similar, qual a força política que se dispõe, para que não se permita vicejar mais e nem vingar este ímpeto bolsonarista antidemocrático?


Penso – e espero que isto não seja um clichê – dizer que, o enredo deve começar a ser mudado agora, mediante o aprofundamento da ligação com as classes populares para, se for o caso barrar nas ruas, o desejo de permanência de Bolsonaro.


Para evitar, aqui, cenas extravagantes como aquelas do Capitólio é preciso deixar bem claro às pessoas, que Bolsonaro tem um cordão umbilical que o liga aTrump, do mesmo modo que, o diabo é ligado ao pecado.


Mas, nossa ligação é justa, é com o povo; o Partido dos Trabalhadores é ligado aos trabalhadores e trabalhadoras, que, de fato, são os que verdadeiramente produzem a riqueza deste país e que, ainda assim, são menosprezados neste filme de terror, em que mais de 200 mil pessoas contaminadas pelo coronavírus e o descaso já sucumbiram, sob este governo verde-oliva de extermínio.


O aprofundamento de nossa ligação com as bases populares e a necessária ligação com um arco de alianças no campo político, com força suficiente e sólida unidade programática em defesa da população, deverá pavimentar o enredo para a produção de novos capítulos de desenvolvimento social pondo fim, a este filme triste de ódio soberbo, que criou um enredo perigoso de perdas de direitos e ataque à vida da população; que este filme trágico, não se repita como farsa em uma segunda edição, ainda mais pavorosa.


Sendo assim, desde já deve-se buscar construir um projeto de transformação radical da democracia para 2022, de modo que, se possa iniciar os capítulos de desenvolvimento social e inclusão de uma nova série de conquistas de direitos, que irá mudar, mais uma vez, a vida do Brasil real e das pessoas e cujo capítulo, será o de convocar todas e todos para que celebrem um novo pacto de progresso humano em nossa pátria; uma convocação para que todas e todos se ponham à tarefa de auxiliar no novo capítulo de nossa história; o capítulo que ainda não terminou, que permaneceu inacabado e, desde já deve-se colocar mãos-à-obra, para podermos retomar este capítulo do ponto em que foi interrompido; o capítulo em que trabalhávamos e estávamos:

Construindo Um Novo Brasil.

Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro. Integrante do Democracia e Luta. Coordenador do Comitê Popular Antifascista Ponte Rasa Pela Democracia e Lula Livre

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