São Paulo – O ex-sindicalista Kjeld Jakobsen morreu na madrugada deste sábado (5), aos 65 anos, depois de longa batalha contra um câncer no pâncreas. Kjeld era especialista em relações internacionais, doutor na área pela Universidade de São Paulo, e atuava como consultor. Dinamarquês radicado no Brasil desde os 9 anos, ele cresceu em Holambra, interior de São Paulo, e tornou-se um dos mais respeitados dirigentes da CUT, que ajudou a organizar e a construir nacionalmente. Presidiu a central entre maio e agosto de 2000. Na ocasião, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, deixou o posto para disputar a eleição para prefeito de São Bernardo do Campo. E o vice, João Vaccari Neto, não assumiu para se dedicar à campanha pela presidência da própria CUT a partir do congresso da entidade, em agosto daquele ano.
Assim, tornou-se o primeiro presidente da entidade fundada em 1983 que não saiu dos quadros do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A central foi presidida por Jair Meneguelli por 11 anos e depois por Vicentinho, por mais seis. Assim como o também ex-presidente da CUT Artur Henrique, Kjeld Jakobsen ingressou no movimento sindical como eletricitário, tornando-se dirigente do Sinergia-CUT, sindicato dos trabalhadores no setor, nos anos 1980.
Olhar sobre o mundo
“Kjeld Jakobsen foi um grande companheiro, nosso dinamarquês que tanto contribuiu para as lutas dos trabalhadores brasileiros. Agradeço em especial sua amizade e a solidariedade comigo como secretário executivo do Comitê Internacional Lula Livre. Meus sentimentos aos familiares, amigos, companheiros e admiradores de Kjeld”, diz mensagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Jakobsen era considerado um interlocutor atento, sereno e muito respeitoso com os divergentes. O atual presidente da CUT, Sérgio Nobre, afirma que o companheiro deixa “um legado inestimável ao movimento sindical, à CUT, à classe trabalhadora, a todos que sonham e lutam por um Brasil mais igual”. E cita o título de um dos livros como com uma marca do sindicalista. “Kjeld deixa Um Olhar sobre o Mundo, como diz o título de um dos inúmeros e preciosos livros que ele escreveu. Todo carinho e solidariedade à família”, lamenta Sérgio Nobre.
O professor de Relações internacionais da Universidade Federal do ABC, Giorgio Romano, amigo pessoal de Kjeld, o define como uma pessoa “calma no meio da tormenta” e muito solidária. “Sangue frio, mas coração quente e no lugar certo. Para Kjeld, ser de esquerda tinha um significado humano profundo. Ele teria muito a contribuir ainda com as nossas reflexões. Quem conviveu com ele vai se lembrar para sempre dele”, observa Romano.
“Afável no trato pessoal, tratava as polêmicas com rara elegância, ouvindo e refletindo, sem jamais perder a firmeza ou abdicar de suas posições, mas invariavelmente atento a argumentos e fatos que fizessem sentido”, define o jornalista Breno Altman, em rede social.
Defesa de Lula
Kjeld Jakobsen foi também destacado articulador da denúncia internacional contra a perseguição ao ex-presidente Lula pelo sistema de Justiça no Brasil. Ajudou a organizar comitês Lula Livre pelo mundo e foi um obstinado defensor do Prêmio Nobel da Paz ao ex-presidente preso por 580 dias a partir e abril de 2018 e excluído da eleição presidencial que acabou vencida por Jair Bolsonaro.
“É um reconhecimento, pelo que Lula fez no combate à fome, por ter retirado o Brasil do mapa da fome. Numa época de intolerância e violência, seria um prêmio muito justo, já que Lula foi um pacificador e contribuiu para evitar guerra civil na Bolívia e Venezuela”, afirmou Kjeld em entrevista à Rádio Brasil Atual. “Houve várias premiações (para Lula) durante o exercício de seu mandato, como o da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o World Food Prize, em 2011, da Unesco (em 2009, por incentivar a paz), entre outros. São quase 100 títulos de honoris causa de universidades do mundo inteiro.”
Para o consultor de política internacional, a percepção da “farsa jurídica”, à qual Lula foi submetido, foi comprovada com a nomeação de Sérgio Moro como ministro da Justiça do governo Bolsonaro.
A morte de Kjeld Jakobsen é a segunda de um presidente da CUT neste tormentoso ano de 2020. Em 19 de março, o professor João Felício, ex-presidente da central de 2014 a 2018, também perdera a batalha contra um câncer de pâncreas. Felício havia presidido a Apeoesp e a Confederação Sindical Internacional (CSI).
Kjeld tinha dois filhos, um neto e era casado com Leonor, cujos filhos o abraçaram como pai. “Kjeld deixa esta vida envolto em muito amor, solidariedade, coragem, força e a dignidade que marcaram sua história”, diz a companheira, ao site da Fundação Perseu Abramo
Rede Brasil Atual