Crítica da crítica do General Hamilton Mourão

Em entrevista recente concedida à Band News, o vice-presidente e também General, Hamilton Mourão, faz uma crítica ao PT asseverando que nosso partido precisa se reinventar e buscar novas lideranças,pois, Lula já é passado.


Em primeiro lugar, quero, aqui, dizer que militares não deveriam exercer funções governamentais, uma vez que, tal atribuição não compete ao exercício de seu ofício. Na verdade, ao Exército cabe a função de proteger as fronteiras nacionais de eventual adversário externo ou coibir nas linhas fronteiriças a atuação do narcotráfico.


Sendo assim, delegar a militares a direção do país é, de fato, fazer mau uso desta Força. É como se fizéssemos de um determinado objeto um mau uso, por exemplo, usassemos uma cadeira como escada ou uma mesa como assento. De fato, é até rotineira esta subversão da função das coisas e não é incomum os acidentes, ou seja, as quedas, ocasionadas e muitas vezes fatais, por este uso incorreto.


Pois bem, no Brasil, já experimentamos com o golpe de 1964, um desastre semelhante. Despreparados para a arte da governança, não afeitos, portanto, a técnicas de gestão, incapazes para a administração pública, os militares conduziram o país para uma queda absoluta de todos os índices de desenvolvimento social; ruína econômica, arrocho salarial e empobrecimento da classe trabalhadora pela queda do seu padrão de consumo foi o resultado da administração militar no Brasil iniciado com o golpe de 1964.


Em segundo lugar, quero dizer também que, com o golpe de 2016 chegam os militares, novamente, ao governo, em 2018. E as consequências deste novo mau uso do Exército se traduz em nova queda do padrão de vida das pessoas, retorno da fome e da miséria, intensificação da crise econômica, desemprego em massa, bem como negligência no combate a pandemia do novo coronavírus.O desastre é total. Inoperância, incompetência e ineficiência administrativa em marcha permanente. E quando querem desconversar dizem que nem em 1964, nem em 2016 houve golpe, mas sim, movimento; por isto, designo como movimento golpista o movimento do golpe (comigo quando se trata de discutir conceitos, estes verde-olivas sempre ficam em maus lençóis).


Pois bem, o despreparo(e, aqui, talvez, e é quase certo, a má-fé ) dos militares não dá-se apenas no âmbito administrativo; dá-se também em termos de raciocínios e declarações.


De acordo com, Hamilton Mourão, o PT precisa se reinventar e buscar novas lideranças.


E aqui é preciso colocar o General no seu devido lugar: por que, que autoridade moral tem um governante, produto que é do movimento golpista de 2016 e urdido em 2018 nas entranhas do vírus das fakenews, que autoridade tem este governante de propor tal recomendação ao PT? Que audácia autoritária é esta de dizer o que o PT deve ou não fazer?, logo ele, Hamilton Mourão, inimigo da classe trabalhadora.


Outra coisa: que frenesi é este da grande mídia por tão óbvia declaração? É óbvio que novas lideranças devem surgir(e digo, não só no PT), mas qual a relação disto com a afirmação verde-oliva caótica e retrógrada de que Lula já é passado? Como o General pode aferir o prazo de validade não de Lula, mas do que ele representa para o país?, não só em termos simbólicos, mas em termos de conquista material e inclusão de um povo historicamente oprimido.

E, aqui, faço uma pergunta: Será que não ocorreu ao General, uma vez sequer, duvidar desta crença indecorosa de que Lula já é passado? Esta fé que é doentia e inflexível (estes são os predicados da fé) se misturam e moldam de forma tão promíscua com o pensamento ideológico da extrema-direita, que é necessário alertar que o verdadeiro perigo, no Brasil, não é o pensamento de esquerda ou o comunismo como querem fazer crer os militares, mas esta fusão e confusão que vigora hoje no Brasil, entre política e fé. Ou seja, o mau uso da Sagrada Escritura e, portanto, a interpretação conservadora do Evangelho em combate a apropriação progressista contida no ministério da Teologia da Libertação.


Com efeito, o General deveria se propor a meditar e ler o Discurso do Método, do filósofo francês Descartes, ao menos para se dispor a aprender a duvidar e dar uma trégua às suas certezas infundadas. Como esta de que Lula já é passado. Porque não é.

E se tenho certeza disto não é por motivação religiosa que o digo; há muito já demoli minhas crenças; mas, ao me exprimir faço uma leitura do mundo fundada na concepção dialética da história (de que passado e futuro, assim como novo e velho, teoria e prática) são indissociáveis.


Lula, hoje, representa não só um passado que já foi melhor; mas, também um futuro que melhor será.
Lula, representa uma ideia que sempre rondará a América Latina e, particularmente, o Brasil, enquanto os povos forem economicamente desiguais e suas sociedades injustas, ou seja, de que a luta por Justiça é uma tarefa histórica a ser cumprida.


E, aqui, não se trata de idolatria, não. Lula é feito de carne e osso; gente como a gente; é homem do povo; nordestino, de Garanhuns; operário.


Querer apagar do mapa político uma estrela como Lula é conversa de pasto pra pastor e boi dormir. Em suma: é bobagem; é balela; é querer dar nó em pingo d’ água; e apesar disso, é preciso fazer, por mais paradoxal que pareça, uma crítica consistente a esta crítica vazia verde-oliva.


E sempre que tiverem a petulância de dizerem os verde-olivas, que a Terra é plana, que não existe efeito estufa, que a culpa é do PT e da esquerda ou que Lula é obsoleto; nós teremos que explicar pro povo a ciência e explicar o Projeto que Lula representou, representa e representará por meio deste instrumento de transformação social, que é o Partido dos Trabalhadores.


Somente assim colocaremos os militares em seu devido lugar: a caserna.

Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro, integrante do Democracia e Luta e Coordenador do Comitê Popular Antifascista Ponte Rasa Pela Democracia e Lula Livre

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