“Em matéria de origem e vida difícil o páreo entre nós é duro”, disse Florestan Fernandes à Lula

22 de julho comemorou-se o centenário de Florestan Fernandes. Intelectual, sociólogo que deixa um legado ímpar ao Brasil. Ao Partido dos Trabalhadores cabe um orgulho sem igual de tê-lo como um deputado e constituinte, eleito e reeleito pelo PT.

No dia do centenário de Florestan Fernandes seu nome ficou entre os assuntos mais comentados no Brasil pelo twitter e também teve destaque nas demais redes sociais.

Ao questionar o jornalista Florestan Fernandes Júnior, filho de Florestan Fernandes sobre a forte presença e mobilização que seu pai ainda causa, ele acredita que isso se dá pelo fato do nome Florestan Fernandes ter se tornado nos dias atuais uma trincheira da luta contra o fascismo, o que acaba aglutinando pessoas que estão nesta luta.

O início da história de Florestan Fernandes com o partido se dá de forma bem interessante: “Quando meu filho Júnior me convenceu a falar com presidente do partido, Luiz Inácio, que me convidou formalmente a ser candidato a deputado constituinte pelo partido, perguntei que ajuda eu teria e Lula me respondeu: Nenhuma. O partido não tinha recursos, teria que me virar sozinho, foi o que me convenceu a ser candidato. Não aceitaria, mesmo que simbolicamente, que os trabalhadores pagassem a conta. Fiz uma campanha igual aquelas dos anos passados como a de defesa do ensino público que mobilizou as pessoas pelas ideias e por nenhuma outra razão”, Florestan Fernandes.

O trecho acima da fala do sociólogo aparece na obra teatro à distancia Vicente e Antonio: a história de uma amizade, que conta a história de Florestan Fernandes a partir da visão das cartas entre Florestan e seu amigo escritor e intelectual Antonio Cândido. A obra de Oswaldo Mendes foi lançada no dia do seu centenário pelo canal do youtube da Casa do Saber em parceria com UOL e Sesc.

Mas porque o nome da obra é Vicente e Antonio? Vicente era o nome dado a Florestan Fernandes pelos patrões de sua mãe, a portuguesa Maria Fernandes. A família Bresser, para quem sua mãe trabalhava, costumava a dizer que Florestan era nome pretensioso de rico e ele não podia ter este nome, então o chamaria de Vicente.

“Não foi fácil recuperar o meu nome, eu estava condenado a ser Vicente como a milhares de brasileiros, sem direito nem a própria identidade”, afirmava o sociólogo.

Eram tempos terríveis para as mulheres e ainda são, sua mãe quando grávida de Florestan se recusou a abortar, e depois se recusou a dá-lo aos seus patrões.

“Nós éramos varridos pelas tempestades da vida e o que nos salvou foi o nosso orgulho”, afirmava Florestan Fernandes.

Florestan e a política

O escritor e seu amigo Antonio Cândido dizia que a entrada de Florestan na vida política foi uma oportunidade de fazer a síntese da sua vida, fundindo pensamento e ação política no contexto de mais sério interesse nacional.
“Senti confiança quando fui pagar o carne mensal de contribuição para sua campanha e ouvi da funcionária do banco: Ah! Florestan Fernandes, um bom candidato”, afirmou Cândido.

O jornalista Florestan Júnior conta que seu pai dizia que naquela altura da vida tinha a oportunidade de mostra coerência e lealdade com o movimento proletário. “Aos 66 anos, ou faço o que posso, ou não faço nada, se falhar, falharei com boas intenções”, afirmou Florestan ao justificar o motivo de ter aceitado o convite para ser deputado constituinte pelo PT.

Segundo mais votado nas eleições de 86, ao entrar no Congresso, o diálogo de Florestan com Lula mostra uma identificação interessante entre eles. “Não sou político profissional, mas me orgulho de participar desse processo pelo PT, sou filho único de mãe solteira, analfabeta e empregada doméstica, fui engraxate e dei tudo, desde criança, para estudar e chegar até aqui. O trabalho é boa escola, mas é a cultura que lhe dá sentido, e eu precisei ir atrás, portanto em matéria de origem e vida difícil o páreo entre nós é duro”, disse Florestan em diálogo com Lula.

O escritor Antonio Cândido dizia que seu amigo é um intelectual com todo requinte que a cultura das classes dominantes podem propiciar, mas nunca perdeu a profundeza da identificação com os esfoliados.

Segundo Florestan, a melhor escola que encontrou para entender o Brasil do topo das elites foi o Congresso, onde pode entender melhor a sociedade e os processos de concentração de poder, de riqueza e cultura que se mantem de forma ferrenha.

Sobre os partidos políticos ele afirmava: “Todo partido político precisa ter correntes em conflito para que haja democracia interna”.

Diane Costa do PT São Paulo

Foto: Twitter Lula

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